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Unicap sedia seminário sobre matrifocalidade, protagonismo e resistência negra das mulheres de axé

A Universidade Católica de Pernambuco sediou, nesta quinta-feira (28), o seminário intitulado Axé e Axós – Terreiro de Mãe Amara: matrifocalidade, protagonismo e resistência negra das mulheres de axé do Xangô pernambucano. O evento faz parte da programação do Amalá de Xangô. O ritual existe há 73 anos em devoção a Xangô, uma celebração festiva específica para o Orixá do fogo na qual se confraternizam a divindade e os filhos de santo.

Em 2014, as celebração do Amalá de Xangô do Terreiro de Mãe Amara foi reconhecida pelo Prêmio Patrimônio Cultural dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana, promovido pelo Iphan. A programação da tarde aconteceu no salão receptivo e contou com uma roda de diálogos. A primeira a falar foi a antropóloga Ester Monteiro. Ela destacou a matrifocalidade nos terreiros.

“Mãe Amara fundou o terreiro em 1945 e cerca de dez anos atrás, Maria Helena, por questão de saúde, assumiu as obrigações religiosas do terreiro. E o que a gente quer ressaltar é o protagonismo dessas mulheres e dizer que é no plano simbólico e do imaginário que se encontram as respostas para resistir. O terreiro resiste no Amalá pra Xangô, que há 73 anos minha mãe oferece e minha madrinha continua oferecendo e que a gente tem a certeza que em anos posteriores esse Amalá vai existir e isso é uma hierarquia familiar sob a responsabilidade de mulheres”.

Na sequência, a advogada e Yabassé do Ilê Obá Aganjú Okoloyá, Vera Baroni, tratou da resistência negra e progonismo das mulheres de axé a partir dos conceitos de ancestralidade e interseccionalidade. Vera relembrou “guerreiras” como Angola (o nome do país é uma homenagem a uma negociadora negra que lutou contra o tráfico transatlântico de pessoas), Luísa Mahin (que segundo a Fundação Palmares articulou revoltas e levantes de escravos na Bahia no século XIX, princesa africana escravizada no Brasil) e Dandara (mulher de Zumbi dos Palmares).

“Nós não podemos esquecer seus nomes, suas lutas, suas vidas porque elas são fonte de inspiração pra gente. É a resistência negra que garante a nossa sobrevivência. Se fosse pelo Estado brasileiro, pelo poder do Brasil, nós não existiríamos mais”.

E por último, a expositora Iyalorixá Claudia de Oxum, que é aluna do Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião da Unicap (PPGCR), traçou um panorama do culto do Xangô pernambucano. “A religiosidade afro-brasileira, tomando o artifício do sincretismo, estabelece um espaço com valores, conceitos e estrutura social do modelo africano. É nesses espaços do catolicismo popular, no interior das irmandades do universo católico, que surge passo a passo, no decorrer do tempo, a conciliação dos ritos e das práticas das várias matrizes africanas, buscando características identificatórias a partir de ancestrais comuns, reconstruindo, ou melhor dizendo, construindo sob o mesmo guarda-chuva histórico religioso as estruturas dos cultos afro-brasileiros”.

Participaram como debatedoras Gabriela Sampaio (Yapetebi do Ilê Obá Aganjú Okoloyá); a mestra em Pedagogia Ceça Axé (Iyalorixá); e a historiadora Alzenides Simões. Logo depois, houve uma oficina de dança sobre a introdução ao método Nagô Aj’o. No fim da tarde, a Yakekere do Terreiro. A programação foi encerrada com um Xirê para os Orixás e com um cortejo da bandeira de São João.

Este ano a programação teve parceria do Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião da Unicap, com apoio de vários segmentos da Universidade a exemplo do Instituto Humanitas(IHU), Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Neabi), Cátedra Unesco Unicap Dom Helder Camara de Direitos Humanos, e Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação. Também apoiaram o evento o Sintepe e a Rede de Mulheres de Terreiro de Pernambuco.

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