Simpósio discute hermenêuticas bíblicas
|O V Simpósio do Grupo de Pesquisa Cristianismo e Interpretações movimentou as salas de aulas do bloco G4 com apresentações culturais, de pesquisas e conferências que abordaram a relação entre a psicologia e a religião e outra sobre leitura popular da bíblia. Este último assunto marcou o encerramento do evento, na tarde desta quinta-feira (31), com a participação do pastor evangélico Kinno Alves Cerqueira, da Igreja Batista do bairro de Areias, Zona Oeste do Recife.
De acordo com Kinno, a leitura e interpretação popular da Bíblia tem que dar respostas aos problemas da vida dos pobres. “Temos que lembrar que a Bíblia nasceu de um povo pobre e escravo lá no Egito”, disse ele que é mestrando do Programa de Pós-graduação em Teologia da Unicap. Ele pesquisa a oração do Pai Nosso a partir de uma perspectiva da vida dos pobres.
“Por muito tempo, as pessoas leram a bíblia a partir do dogma ou da realidade daqueles que visavam a opressão e a dominação. A leitura popular da Bíblia parte da constatação de que a vida vem antes da Bíblia, de maneira que a Bíblia deve ser interpretada da realidade concreta, sobretudo da realidade dos pobres, dos excluídos e dos marginalizados”.
O tema abordado hoje (31) está diretamente ligado ao que o Papa Francisco defende como sendo uma Igreja em Saída. “A leitura popular da Bíblia tem tudo a ver com uma Igreja em Saída pois ela é uma Igreja cujo os fieis se tornam protagonistas da leitura da Bíblia, abraçam as intuições da Bíblia que podem ser resumidas em uma só palavra: o amor. É um povo que não fica apenas diante do Clero, mas dá as mãos ao Clero para a construção do Reino de Deus”.
A participação dos fiéis nesse processo de interpretação também foi tema da mesa-redonda intitulada A Contribuição dos protestantes para a hermenêutica bíblica, comandada pelos pesquisadores Maria Betânia Araújo e Alexandre de Jesus dos Prazeres, hoje (31) pela manhã.
Já as contribuições da análise do comportamento foram a vertente da psicologia relacionada à religião abordada na conferência de abertura realizada ontem (30) à noite, no anfiteatro do bloco G4, pelo doutor em Ciências da Religião pela Unicap, Jair Rodrigues Melo.
De acordo com ele, no Brasil não há uma cultura acadêmica de desenvolver pesquisas nesse campo que interliga as duas áreas. E este foi justamente uma das propostas de sua tese. Durante a explanação, Jair explicou que parte da dificuldade em relacionar psicologia e religião está ligada ao que ele chamou de incompatibilidades entre o behaviorismo e os pressupostos da tradição cristã.
“Primeiro por entrar em choque com diversos aspectos doutrinários, por exemplo, a centralidade que a própria teoria psicanalítica coloca sobre a dimensão da sexualidade. A realidade do behaviorismo de negar o livre arbítrio. Temas que eram vistos de forma incompatível com a tradição cristã”.
No entanto, o pesquisador defende que o campo da psicologia apresenta elementos que ajudam a compreender a hermenêutica bíblica. “Nós encontramos respaldo de aproximação entre a hermenêutica bíblica e a psicologia pelo viés da psicologia profunda. Existem várias matrizes do pensamento psicológico e que cada uma pode sim, de acordo com seus alcances e limites, contribuir”.
Coral – A abertura do Simpósio foi marcada pela apresentação do Coral do Seminário Teológico do Norte do Brasil. O grupo tem mais de 50 anos e já se apresentou em países da Europa, América e Ásia.