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Seminário aborda a espiritualidade de Dom Helder Camara

IMG_8724A espiritualidade de Dom Helder Camara foi o tema da palestra desta quinta-feira (27) proferida pelo padre Ivanir Rampon como parte da programação do seminário que presta homenagem ao ex-arcebispo de Olinda e Recife falecido há exatamente 16 anos. Doutor em Teologia Espiritual pela Universidade Gregoriana de Roma, Rampon é um profundo pesquisador do Dom da Paz.

IMG_8722A explanação teve como ponto de partida uma frase do Papa Paulo VI a respeito dele: “Místico, poeta, grande homem para o Brasil e para a Igreja, incapaz de odiar, que prega a Justiça e a paz”. Rampon contou que Dom Helder e Paulo VI eram grandes amigos. “Não era amizade afetiva apenas e sim espiritual. É como se um revelasse Jesus ao outro”, disse o padre ao retratar o lado místico de Dom Helder.

De acordo com Rampon, Dom Helder era um líder nato, que já exercia liderança desde os tempos em que era seminarista diocesano, mas que tinha um medo: o de não mais rezar quando terminasse o seminário. O pesquisador explicou que Dom Helder termia ser ‘engolido’ pelo ativismo e não ter mais tempo de rezar. Daí a busca pela vigília. “Ele precisava dessa unidade com Cristo para se doar mais e mais”, afirmou Rampon ao contar um pouco da rotina de Dom Helder. Ele dormia às 23h, acordava às 2h e ficava em vigília até as 5h. Às seis da manhã, ela já estava na missa. “Ele não seria o profeta, o Dom da Paz, o arcebispo que ele foi sem a vigília”.

Dom Helder também foi poeta. Rampon revelou que foram mais de 15 mil poemas escritos por ele. “Muitos foram rasgados na época em que ele era padre, até que seu mentor espiritual o proibiu de destruí-los”.

IMG_8727A grandiosidade de Dom Helder Camara para o Brasil foi relembrada quando Rampon falou sobre a ditadura militar. Época em que Dom Helder foi difamado, caluniado e censurado. Foram quase dez anos sem aparecer nas rádios e nas TVs. “O regime o teve como seu maior inimigo político”, disse ao afirmar que o governo brasileiro subornou os jurados do Prêmio Nobel da Paz para que Dom Helder não recebesse a honraria. Ele foi indicado por quatro vezes consecutivas: 1970,1971,1972 e 1973.

Mas os militares não conseguiram calar Dom Helder. Aliás, as tentativas de abafar suas ideias só aumentavam a fama de santo profeta. Em abril de 1964, quando secretário geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Heder fez um discurso considerado histórico, ancorado em quatro eixos: a opção pelos pobres, espiritualidade do Vaticano II, configuração como Cristo bom pastor e o desejo de dialogar com todos (aí uma alusão aos detentores do poder, os militares).

IMG_8726A frase do Papa Paulo VI também reconhecia a importância de Dom Helder para a Igreja. Ele fundou o Conselho Episcopal Latinoamericano (Celam) em 1955 e, atendendo a um pedido do Papa João XXIII, elaborou o plano de emergência para as futuras diretrizes da Igreja no Brasil. Rampon explicou ainda que Dom Helder participou ativamente do Concílio Vaticano II. “Ele foi um dos padres conciliares mais importantes do mundo pelo enorme poder de articulação”.

Enorme também, de acordo com Paulo VI, era a ‘incapacidade de odiar’ e a obstinação de Dom Helder em sempre pregar a paz e a Justiça. Rampon citou como exemplo a morte do Padre Henrique. Ele foi ordenado no Natal de 1964 e era considerado um pupilo de Dom Helder. “O governo não podia matar o Arcebispo, mas assassinou o que seria o ‘filho’ dele. Mesmo assim, Dom Helder afirmou que não sentia ódio e até perdoava quem havia matado Padre Henrique. ‘Só peço que parem de torturar e matar’, disse Dom Helder’.”

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