Semana de Teologia debate “Bioética e Ecologia Integral: a vida em nossas mãos”

Elano Lorenzato | 19 de maio de 2016 | Últimas | Nenhum comentário

A Universidade Católica de Pernambuco realizou, de terça (17) a hoje (19), no auditório G1, a XXI Semana de Teologia da Unicap, com o tema “Bioética e Ecologia Integral: a vida em nossas mãos”. O evento aconteceu nos turnos da tarde e da noite e sua programação contemplou conferências, oficinas, mesas-redondas e comunicações. A Semana é uma iniciativa do curso de Teologia, coordenado pela professora Maria Abrão, com a colaboração dos alunos do curso.

Na terça-feira, primeiro dia do encontro, foram realizadas, às 14h, as oficinas “Espiritualidade e Ecologia”, com o professor Padre Alfredo Sampaio, e “Reflexões sobre a Terra Pátria”, como o professor Fábio Pedrosa, ambos da Unicap. Às 16h, foi realizada a mesa-redonda “Casa comum, espaço de todos”, com os professores Arthur Henrique, Fábio Pedrosa e Padre Alfredo Sampaio. A coordenação da mesa foi do Padre Christiano Souza. Em seguida, houve um momento cultural com a apresentação dos integrantes do grupo MPB Unicap.

À noite, foi realizada a conferência de abertura da XXI Semana de Teologia da Unicap, realizada pela professora Irmã Aíla Pinheiro, com o tema: “Bíblia e Ecologia”. A mediação ficou por conta do professor João Luiz. A palestrante começou sua abordagem definindo o termo “Ecologia” segundo o biólogo alemão Ernst Haeckel, no seu livro Generelle Morphologie der Organismen (1866): “Estudo das interações entre os organismos entre si e com o ambiente”.

A palestrante falou também sobre a acusação de Lynn White, dizendo que “a mãe de toda a poluição é a Bíblia”. Contextualizando com os verbos submetei e dominai (Gn 1,28), que teria resultado numa civilização judaico-cristã predatória.

Por outro lado, a Irmã Aíla Pinheiro disse que os autores bíblicos não tinham ciência moderna para ver as “interconexões” na biosfera da Terra e enfatizou, ainda, que uma leitura integral da Bíblia mostra uma visão de criação que não confirma a acusação de White. “Descobrimos a noção de uma ‘comunidade da criação’: tôldôt em Gn 2,4”.

“A terra não suporta a sobre-exploração por homens, ela se torna doente. Ela sofre os efeitos da desobediência do homem à lei de Deus. Uma reconciliação do homem com Deus envolve toda a criação (Rm 8,19-23). Não há como utilizar a Bíblia para justificar a depredação. Jesus diz que Deus se ocupa até dos últimos pardais (Lc 12,6). Suas parábolas revelam uma forte integração com a natureza. Portanto, a preocupação com o cuidado da natureza não é recente. O vínculo com a natureza faz parte da experiência de todas as culturas e isto foi incorporado em suas leis, cultos, mitos e poesias”, explica Irmã Aíla.

Finalizando a conferência, a professora falou sobre a cultura que esqueceu o vínculo com a natureza. “A primeira cultura que esqueceu o vínculo com a natureza foi a cultura industrial, pois houve uma inversão do paganismo. Não mais os seres da natureza são deuses. Surge o antropocentrismo: tudo gira em torno do ser humano. O homem se torna um deus cruel para os demais seres e continua a assimetria pagã, mas inversa”. Irmã Aíla Pinheiro conclui com a pergunta teológica: “Qual o papel do homem na comunidade da criação?”

No segundo dia da Semana Teológica, na quarta-feira (18), a programação teve início às 14h com as oficinas “Crise Socioambiental”, com a professora Aline Elesbão, e “Teologia da criação”, com o professor Padre André Vital. Às 16h foi realizada a mesa-redonda “Ecologia e vida cotidiana”. No início da noite aconteceu a conferência “O conceito de pessoa no debate da Bioética, com o professor Padre Sérgio Grigoleto.

A programação do último dia (19) começou às 14h, com apresentação das Comunicações, no Auditório do CTCH, 1º andar do bloco B. já às 17h30, os participantes dançaram forró no momento cultural. Encerrando a programação, a professora Regina Ramos proferiu a conferência “O panorama da microcefalia no Estado de Pernambuco e suas implicações sociais”, no auditório G1, 1º andar do bloco G.

Em entrevista ao Boletim Unicap, o Pró-reitor Comunitário e coordenador do Instituto Humanitas Unicap, Padre Lúcio Flávio Cirne, falou sobre a importância da temática abordada pela 21ª Semana de Teologia da Unicap. “A temática da ecologia hoje está na ordem do dia. Todo mundo fala, todo mundo debate, até porque as pessoas estão sentindo isso na pele. A questão ambiental está aí, os problemas ecológicos e seus efeitos são sentidos por todos. Sobretudo em uma academia. Nós estamos em uma Universidade, que tem o papel de refletir sobre essas questões. Particularmente, no curso de Teologia que discutiu: Bíblia, a palavra de Deus, a revelação, relacionada com isso aí, que tem muita coisa a ver. Nós somos filhos e filhas de Deus, participamos dessa comunidade da criação, então nós somos responsáveis, nós somos chamados a colaborar com Deus num mundo mais justo, mas fraterno. E aí, entra a dimensão socioambiental, não apenas o ser humano, mas aí também a dimensão do próprio ambiente natural, que implica responsabilidade humana. Portanto, quem pode dar uma resposta consciente e responsável a toda essa problemática é somente o ser humano. Daí a importância da ética, mas uma ética que inclui também os seres não humanos dentro dessa comunidade mais ampla.”

O Diretor do Centro de Teologia e Ciências Humanas (CTCH), professor Degislando Nóbrega, falou sobre a importância da Semana de Teologia para os alunos e para a Universidade. “A Semana de Teologia é uma oportunidade para todos os alunos refletirem sobre uma temática mais transversal que diz respeito, não apenas à Teologia, mas sociedade também, vida social. É, portanto, uma oportunidade dos alunos de, com a ajuda de professores e convidados, ampliar os conhecimentos da sua perspectiva teológica e, ao mesmo tempo, intercambiar o seu saber até o momento com outros colegas, sempre no sentido de perceber a relevância do seu conhecimento, não apenas para o interno da igreja, da vida cristã, mas para a vida em geral, para a sociedade e para o mundo, como é o caso dessa Semana, que trata de um tema transversal. Qualquer curso da Universidade poderia falar sobre ecologia. Então, a gente fala aqui de ecologia relacionando-a com a Fé.”