Boletim Unicap

Reitor da Católica participa da inauguração do Hospital Dom Helder Camara

Contribuição Luana Pimentel

Na última quinta-feira (1), o Reitor da Universidade Católica de Pernambuco, Padre Pedro Rubens celebrou, junto ao bispo de Palmares, Dom Genival, a missa de inauguração do Hospital Metropolitano Sul Dom Helder Camara (HDH).  Localizado no Cabo de Santo Agostinho, o HDH passa a ser referência para toda a Mata Sul pernambucana em atendimentos de urgência e emergência, internações e atendimento ambulatorial nas áreas de trauma, clínica geral, cirurgias gerais e cardiovasculares.

O novo hospital possui 160 leitos e uma equipe composta por 800 profissionais, sendo 172 médicos. Com capacidade para realizar 29.400 consultas, 7.900 internações, 202 mil procedimentos de diagnóstico (laboratório e radiologia) e 51.840 atendimentos de urgência anualmente, a unidade espera assim diminuir o fluxo dos outros dois hospitais de referência no estado: Agamenon Magalhães e o Procape.

Veja na íntegra o texto da Homilia a partir da liturgia de 1º de julho (Mt 9, 1-8):

Um dom para os que sofrem

Palavras e gestos: eis a maior manifestação do poder de Jesus e a forma como ele revelou o amor de Deus pela humanidade, a partir dos mais necessitados. Essa articulação de palavras e gestos corresponde, na tradição bíblica, ao perfil de um profeta. Por isso dizemos que Jesus foi o maior profeta do povo de Israel, e, de forma análoga, chamamos de profeta pessoas como Dom Helder, patrono desse hospital. Na verdade, a coerência entre palavras e atos é um apelo para todos nós. Tal coerência é uma condição fundamental para a credibilidade e a autoridade de alguém, desde o ato cotidiano mais simples ao ato público mais importante. E, paradoxalmente, são as situações mais adversas da vida que nos oferecem as melhores oportunidades de manifestar a coerência entre nossas palavras e ações: penso, por exemplo, no caso das calamidades públicas, como a das enchentes que afligem tanta gente em nosso estado atualmente; penso também na situação geral da saúde pública, diante da qual, a inauguração deste hospital é um gesto promissor. Aliás, o que um dia foi promessa em palavras, hoje é obra realizada pelo trabalho.

Portanto, Jesus descobriu sua própria missão diante das situações mais adversas e das pessoas mais necessitadas que vieram ao encontro dele. No evangelho de hoje, Jesus estava de volta à sua cidade e, lá, apresentaram-lhe um paralítico, diante do qual, ele dirigiu algumas palavras, realizando, basicamente, dois grandes gestos:

– primeiro, o gesto de perdoar os pecados;

– segundo, o gesto de curar o paralítico, libertando-o do peso da doença.

Em suas palavras, Jesus praticamente justificou que a cura seria uma “prova” para que os “mestres da lei” acreditassem que ele tinha o poder de perdoar. Mas, por que Jesus, de certa forma, considerou o perdão primordial e até mais importante do que a própria cura?

Primeiro, porque muitas pessoas pensavam – e alguns ainda pensam – que as doenças são “castigo” de Deus por algum pecado cometido pela própria pessoa, ou pelos seus pais e parentes. E, por isso mesmo, alguns doentes, além de sofrerem o peso da doença, sofriam com a discriminação social e até religiosa. Nesse cenário, o perdão dos pecados implicava o resgate da autoestima, a reconciliação com Deus e, consequentemente, a reintegração social da pessoa doente e marginalizada. E, uma vez livre da culpa, mesmo que a doença continue, o perdão oferece as condições psíquicas, sociais e religiosas fundamentais para a pessoa conviver com o seu problema e continuar sua vida dignamente. Corresponderia ao que nós chamamos hoje de acessibilidade. O perdão, enfim, era como uma “senha” que resgatava as condições de acessibilidade a Deus e à sociedade humana.

De fato, esse primeiro gesto de Jesus foi sinal de uma força extraordinária.  O perdão era um gesto tão forte que despertou a crítica imediata dos “mestres da lei”. Eles consideraram Jesus um blasfemo. No fundo, o rosto amoroso de Deus, revelado em Jesus Cristo, não correspondia à interpretação que esses mestres faziam da lei. Ao invés de eles questionarem a própria concepção, os mestres da lei condenaram o gesto do Nazareno. Diante dessa provocação, Jesus foi mais além e fez um segundo gesto, curando o paralítico: “levanta-te, pega a tua cama e vai para a tua casa”.

Diante desses dois gestos, houve manifestações de medo e de fé. Narra-se, em conclusão desse episódio, que a manifestação daqueles que perderam o medo, “glorificaram a Deus por ter dado tal poder aos seres humanos”. Moral da história: a coerência entre palavras e atos é um grande poder, e esse “milagre” está ao nosso alcance; nós temos poder para transformar esse mundo, na medida em que tivermos olhos para enxergar as necessidades dos mais pobres e, através de nosso trabalho, conjugando palavras e ações, podemos realizar grandes obras.

Não escolhi esse texto especialmente para essa circunstância: ele está indicado pela Igreja para o dia de hoje, inclusive, está sendo lido nas comunidades católicas do mundo inteiro. Mas, essa passagem vem bem a calhar com o que aqui realizamos. Não somente porque o relato bíblico fala de doente e de cura na inauguração de um hospital, mas por outras aproximações que podemos fazer. Inicio o exercício para que vocês o continuem, com inteligência e vontade de interpretação dessa palavra de Deus para nós hoje, aqui e agora.

1. Esse hospital começou como promessa de campanha; hoje, é uma obra realizada: o gesto e a obra cumprem a palavra dita; isso precisa ser dito, sobretudo em ano de eleições, para resgatar a dignidade da política e a responsabilidade com os bens públicos; além da coerência entre promessa e obra, existe ainda um gesto maior: esse hospital, além de cumprir uma promessa, ele vai muito além, porque representa uma mudança no próprio sistema de saúde, integrado com as UPAs (Unidade de Pronto Atendimento);

2. Mas, que relação teria esse ato com os dois gestos de Jesus? A construção de um hospital corresponde de certa forma, ao primeiro gesto de Jesus, isto é, redime a falta do poder público, dando acessibilidade aos mais pobres; o segundo gesto de Jesus, a cura, caberá aos profissionais da saúde, médicos, enfermeiros e gestores; portanto, há uma corresponsabilidade e uma solidariedade nos dois gestos para que esse hospital seja, de fato, uma obra abençoada por Deus;

3. Para tanto, vocês não estão sozinhos: primeiro, a parceria com o IMIP, responsável pela gestão desse hospital, representa uma garantia de qualidade no atendimento aos mais pobres, comprovada por mais de 50 anos. E a escolha de Dom Helder como patrono desse empreendimento significa contar com um grande aliado, intercessor junto a Deus; ele que foi um profeta no meio de nós, realizando em palavras e obras um sinal do amor de Deus pela humanidade, começando pelos mais necessitados.

Mas, escolher Dom Helder como patrono implica também uma grande responsabilidade e um compromisso com a sociedade e até mesmo com Deus, a saber: atender bem como se cada pessoa fosse o próprio Deus ou, dizendo com outras palavras, atender e cuidar de cada ser humano como verdadeiros filho e filha de Deus. Se a pessoa não sair curada daqui, que ela saia com a auto-estima elevada, agradecida e pronta para conviver com o seu estado de vida ou até mesmo enfrentar a morte com dignidade e coragem.

Para fundamentar melhor ainda esse pensamento, recorro a duas breves reflexões do próprio Dom Helder.

Primeiramente em visita ao Recife, Hospital das Clínicas, da UFPE, entre 13/14.6. 64 (28 ª Circular):

“Depois da Santa Missa, em que foi grande o número das comunhões, desci para o meio dos enfermos, médicos, alunos, enfermeiras, funcionários e comecei a rezar. Sem ver fisicamente mais que os rostos dos doentes, em certo momento, pareceu-me tão evidente que o enfermo é Cristo, que devo ter deixado a impressão de estar vendo o Mestre. A emoção foi geral.”

Recordo, em segundo lugar um pequeno verso de Dom Helder, tirado das Meditações:

“Quem passa dez, vinte, trinta vezes diante de um Hospital nem pode imaginar, os numerosos e mais diversos sofrimentos, que se passam lá dentro… Ainda deitados em macas, corredor afora, há doentes que chegaram para a emergência… Há doentes morrendo, rodeados de parentes e amigos dilacerados pela saudade… Há outros sem amigos, sem parentes, sem conhecidos… Invisível, Solícita, Incansável, Presente a Todos, a Mãe de Deus e Mãe nossa”.

Além de Dom Helder, temos o cuidado maternal, simbolizada em Maria, velando por todos que por aqui passarem pacientes ou profissionais. Para concluir, proponho um pequeno gesto, a saber: depois da invocação do nome do patrono desse hospital, poderíamos responder “presente”, atestando a nossa gratidão por esse presente que é um hospital público para Pernambuco e também para testemunhar o nosso desejo de fazer presente, em nossa vida, o compromisso de assumir, com responsabilidade, os apelos de transformação da sociedade com palavras e atos. (minuto de silêncio).

– DOM HELDER CAMARA… PRESENTE!

           Pe. Pedro Rubens, SJ

          Reitor da Universidade Católica de Pernambuco

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