Boletim Unicap

Padre Nogueira Machado: uma vida a serviço do conhecimento

A Comissão de Ciência, Tecnologia e Informática da Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco irá prestar uma homenagem póstuma ao Padre José Nogueira Machado, ex-professor da Unicap. A solenidade será realizada no próximo dia 24 de outubro, às 10h, no Grande Expediente Especial. O requerimento foi da presidente da Comissão, deputada estadual Terezinha Nunes. O evento faz parte das comemorações das Semanas Nacional e Pernambucana de Ciência e Tecnologia.

Padre Machado nasceu em Cariri-açu, na fazenda Farias, entre Juazeiro e Crato, no sertão cearense. Os seus pais eram prósperos agricultores que, frequentemente, eram vítimas do bando de Lampião. Fugindo de uma dessas investidas, a família se refugiou em uma casa aos pés de uma montanha. O local estava cercado por vaqueiros que faziam a segurança da família. Foi neste cenário que nasceu o menino que viria a se tornar o Padre Nogueira Machado.

Discreto e comedido, a biografia dele tem poucos registros oficiais. As informações sobre sua trajetória foram colhidas baseadas em textos de amigos. Padre Paulo Meneses, também já falecido, conta que o colega, já adolescente, foi estudar no Seminário do Crato, dando sequência em Baturité. Em Portugal, estudou filosofia em Braga. Segundo Padre Henrique Vaz, “talvez tenha sido a única pessoa no Brasil capaz de traduzir a Filosofia da natureza, de Hegel”.

Coragem, sabedoria e senso de justiça. Os valores de Padre Nogueira incomodaram poderosos. Tanto que, em 1964, o regime militar o ‘convidou’ a sair do Recife. Foram pouco mais de dez anos até retornar à capital pernambucana. Durante esse tempo, ele passou por Fortaleza e Teresina onde impulsionou os estudos de física e matemática na Universidade Federal do Piauí, a pedido da Sudene. “Quando nomeado Provincial, visitando as casas dos jesuítas no Nordeste e indo a numerosas reuniões interprovinciais no Brasil e fora dele deixava sua marca onde passava, pois era a alegria das comunidades. Irradiava bondade sincera e todos se sentiam acolhidos e respeitados”, escreveu Padre Paulo.

Paulo Meneses também destaca as habilidades do filósofo Nogueira Machado com os números. “Na Bahia, ao mostrar para um conferencista de matemática a solução de um problema que se apresentava como incapaz de solução, recebeu vaias dos baianos que só se calaram quando ele demonstrou o que dizia”. Também eram amplos os seus conhecimentos em física nuclear e cosmologia. A sapiência com os números só era ofuscada quando se observava a habilidade de Nogueira Machado com as palavras. Hebraico, grego, árabe, francês, italiano, espanhol, alemão, inglês e russo o faziam um homem poliglota.

Padre Nogueira atuou como professor na Escola Politécnica de Pernambuco. A notável atuação lhe rendeu reconhecimento nas comemorações dos 75 anos da instituição, em 12 de março de 1987, ocasião em que recebeu o título de Professor Honoris Causa. Ele também deixou contribuição na Universidade Federal de Pernambuco colaborando na formatação do Mestrado em Física.

Na Unicap, Padre Nogueira foi professor do Centro de Ciência e Tecnologia (CCT). A chefe da Diretoria de Recursos Humanos (DRH), Valdice Dantas, guarda boas recordações da personalidade dele. “Padre Machado tinha o hobby de andar a pé. Ele saía daqui da Católica até o santuário de São Severino dos Ramos, em Paudalho, para rezar”.

O falecimento de Padre Nogueira Machado foi um choque  para a comunidade acadêmica da Unicap. Ele foi atropelado por um ônibus no dia 31 de outubro de 1996, aos 82 anos, próximo a Faculdade de Direito do Recife, centro da cidade. A data interrompeu a vida, mas eternizou um legado e alimenta a saudade entre aqueles que tiveram o privilégio de sua convivência. Sentimentos traduzidos pelo ex-reitor da Unicap, Padre Theodoro Peters, na homilia da missa de 7º dia. “Sua memória é honrada e abençoada pelas gerações que o conheceram, partilharam sua vida, seus ideais, sua dedicação altruísta, sua austeridade espartana, seu olhar otimista sobre a vida e o ser humano. Rogue por nós, hoje e sempre”.

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