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Padre Nilo Ribeiro fala sobre o pensamento de Emmanuel Levinas em conferência no CTCH

O Padre Nilo Ribeiro apresentou, na tarde desta quinta-feira (28), no auditório do Centro de Teologia e Ciências Humanas (CTCH), a conferência intitulada Raízes bíblicas-poéticas do pensamento de Levinas. O evento foi promovido pelo curso de Filosofia, do qual ele foi professor. Atualmente, Padre Nilo está ligado à Faculdade de Filosofia e Teologia Jesuíta (Faje), de Belo Horizonte. “É um prazer voltar à Católica porque aprendi nesse tempo que trabalhei aqui a ser pluridimensional no trabalho, com os companheiros, com os colegas e com os estudantes com quem aprendi bastante”, disse o convidado ao se apresentar.

De acordo com Padre Nilo, Levinas desenvolveu a chamada Filosofia Reversa do Eu na qual o ponto de partida da Filosofia não é o eu e sim o outro. “A Filosofia não pode ser uma autobiografia porque o risco que a gente corre é sempre o de começar a falar em primeira pessoa. E é exatamente contra esse tipo de pensamento que Levinas desenvolve uma filosofia ao reverso do eu. Ele começa pelo acusativo”. Padre Nilo explicou que Levinas defende ser (as)signado, ou seja, marcado, assinalado, perfurado ou perpassado pelos acontecimentos. Esse conceito está exposto num texto chamado As-signatura. O pensamento exposto nessa obra traz uma filosofia marcada pelos vincos adquiridos por meio da relação com o mundo.

Emmanuel Levinas nasceu em 1906, em Kaunas. Alternou sua juventudade entre a Lituânia e Ucrânia, morrendo aos 89 anos em Paris. Parte de sua filosofia foi desenvolvida em Estrasburgo, no leste da França. Testemunhas de grandes acontecimentos da humanidade, Levinas desenvolveu seu pensamento a partir das experiências vividas em meio à Iª e IIª Guerras e Revolução Russa de 1917. “Um dos imprevistos da história que vão marcar definitivamente a maneira de fazer filosofia é a ascensão do hitlerismo”, citou Padre Nilo.

Aprofundando o pensamento do filósofo lituano, Padre Nilo usou a metáfora da respiração. “A respiração é marcada por interrupção. A gente inspira, tem um hiato, e expira. Segundo ele (Levinas) esse tipo de filosofia pode ser construída, narrada à medida em que há cortes. Há cortes constantemente em nossas vidas”. Ainda de acordo com Nilo, a filosofia de Levinas é “a filosofia dos discursos interrompidos”.

Em outro ponto da conferência, Padre Nilo destacou a referência literária de autores russos na obra de Levinas, bem como a tradição bíblica do talmude, uma corrente do judaísmo. “É uma tradição de recorte mais intelectual para contrapor, em certo sentido, uma visão mais da Cabala, que é mais mística”, explicou Padre Nilo, que é presidente do Centro Brasileiro de Estudos Levinasianos (Cebel), que tem sede em Belo Horizonte.

No final da conferência, Padre Nilo ressaltou “a relação com o outro” presente na filosofia levinasiana. “É o que ele vai chamar de ‘Por Vir’, ou da espera. A espera é quase que uma loucura porque ter de esperar é padecer. Padecer porque eu não posso forçar a barra. Então a filosofia de Levinas vem trazendo esses elementos de cunhos existenciais, éticos, literários e histórico. Esses imprevistos da história podem oferecer no contexto no qual vivemos hoje uma boa oportunidade para pensar com os imprevistos da história, pensar com a diferença do outro que se põe a nós e que, às vezes, nos ‘desnuclea’, desnorteia pra que a gente possa fazer um caminho que não seja dos discursos formatados, corretos, precisos… embora haja uma lógica que seja da ilógica da relação com o outro”.

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