Boletim Unicap

O que vi, escutei e vivi na Jornada Mundial da Juventude 2013, no Rio de Janeiro

Por Artur Peregrino

O que vi, escutei e vivi na Jornada Mundial da Juventude 2013, no Rio de JaneiroArtur Peregrino

Mestre em Antropologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UPPE), possui graduação e bacharelado em Filosofia pela Universidade Católica de Pernambuco  (UNICAP) e bacharelado em Teologia pelo Instituto de Teologia do Recife (ITER); prof. do Curso de Teologia na Unicap e integrante do Instituto Humanitas Unicap; pesquisador do Grupo de pesquisa UNICAP/CNPq Religiões, identidades e diálogos, na linha de pesquisa Diálogos inter-religiosos. Email: arturperegrino@gmail.com.

“É melhor uma Igreja acidentada porque foi à rua do que uma Igreja doente e asfixiada porque ficou dentro do templo” (Francisco, bispo de Roma).

Como peregrino da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), acontecida em Madri (2011) e participando da JMJ do Rio de Janeiro (2013), partilho algumas anotações com você. Quando volto de uma peregrinação, pessoas perguntam: e aí, como foi lá? Sempre paro um pouco e elejo algumas coisas para dizer. O que segue é o que me vem à mente após essa vivência no caminho.

Primeiro de tudo é importante destacar que a experiência da JMJ é um momento intercultural de muita grandeza. Na Jornada, podemos perceber a confraternização dos povos. A alegria contagiante da juventude tomando conta da cidade. A Jornada Mundial da Juventude mostra ao mundo um rosto jovem. E como protagonista dessa festa, também, através deles, o ‘rosto’ jovem de Jesus se mostra ao mundo. No plano pessoal, cada jovem sai tocado por algo diferente que o impulsiona em uma nova esperança.

Os principais protagonistas dessa grande peregrinação, como é sabido, são os jovens de todos os continentes.  A Jornada tem uma programação que oferece momentos de catequeses, eventos culturais, celebrações (Via-Sacra, a Vigília dos jovens, a missa de Envio) e momentos de partilha.

Cada participante da JMJ recebeu um Kit Peregrino contendo: Boné; camisa de peregrino; cartão de alimentação; cartão transporte; credencial do peregrino; crucifixo; livros Guias: litúrgico, cultural, formação, orientação e mochila. Para usar o cartão de alimentação recebia-se uma senha com alguns dígitos. Proponho fazermos uma pequena caminhada por este texto. Para isso, é preciso uma senha com algumas palavras: 1.O olhar; 2. A oração; 3. A peregrinação; 4. A partilha; 5. O bispo de Roma; 6. Os contratempos; 7. A eucaristia; 8. O seguimento; 9. O envio.

1. O OLHAR

O que vi, escutei e vivi na Jornada Mundial da Juventude 2013, no Rio de Janeiro
JMJ 2013 – Aguardando a Vigília do Sábado na praia de Copacabana – Foto Antonio Oliveira

Vendo a dinâmica da JMJ por dentro percebemos que a dimensão da fraternidade vai tomando conta do clima entre os participantes. Tudo começa com o olhar e com o gesto. É importante dar-se conta de que, desde o início da vida, a primeira fé, a base de toda a fé é despertada pelo olhar dos outros. O primeiro olhar pode ser de surpresa ou desconfiança. Basta um pequeno gesto e logo quebra-se o ‘gelo’. Não falar a língua de um outro país não tira a oportunidade de viver uma experiência com outro jovem. Na realidade nem a variedade de línguas e culturas distanciou os jovens uns dos outros.

Muitos jovens já levam lembrancinhas para serem trocadas com outros. Também assinam a bandeira do país amigo. Essa troca simbólica permite um diálogo coração a coração. Um jovem disse, fazendo gestos, que a linguagem da Jornada é do coração.

2. A ORAÇÃO

JMJ 2013 – Missa de encerramento na praia de Copacabana – Foto Antonio Oliveira
JMJ 2013 – Missa de encerramento na praia de Copacabana – Foto Antonio Oliveira

Em muitos momentos ao longo da Jornada é bonito de ver jovens rezando num cantinho. As vezes cansados se entregam a oração. A oração nesse momento pode ser encostar a cabeça em um ombro amigo. Essa oração feita numa multidão de jovens passa a ter um significado profundo. Aí se percebe um silêncio no meio da multidão. E esse silêncio de Deus o jovem levará com ele após a Jornada. É como numa romaria para um lugar significativo da vida do povo. O/a romeiro/a está numa multidão, mas aí ele faz o seu caminho interior. Chamou-me atenção o silêncio feito durante as celebrações da vigília do sábado e da eucaristia do domingo. Fez-se tal silêncio que só se podiam ouvir as ondas do mar na orla de Copacabana. Um gesto de Francisco, o bispo de Roma, foi beijar, já no final das celebrações, a imagem da virgem Negra Aparecida e depois benzer-se como um romeiro. Lembro esse mesmo gesto feito pelo povo romeiro do Juazeiro do Norte do Padre Cícero em relação à imagem da Mãe das Dores. Vemos aí a imagem de um bispo Latino-Americano de sensibilidade profunda com a piedade do catolicismo popular.

 3. A PEREGRINAÇÃO

JMJ 2013 – Caminhada pelo Túnel que dar acesso à celebração - Foto Clara Beatriz
JMJ 2013 – Caminhada pelo Túnel que dar acesso à celebração – Foto Clara Beatriz

Qual é o sentido de uma peregrinação? O que não é a gente já sabe. Não é exatamente a dos confortos prosaicos. Peregrinação é viver uma experiência de descentramento. De ir ao encontro de outros lugares, de outras pessoas. Sabemos que O caminho foi, com toda certeza, um dos primeiros nomes que os cristãos deram à sua nova vida de convertidos a Jesus. A Jornada Mundial da Juventude por ser uma peregrinação, quer recordar e retomar essa intuição primeira. Quem está em peregrinação está procurando, buscando. A cada dia se andavam muitos quilômetros tanto para se chegar no local da celebração como voltar para onde se estava hospedado. A imagem dos jovens indo e vindo na cidade do Rio de Janeiro era um retrato claro de um ensaio, mesmo inconsciente, para uma fé no caminho de Jesus. O Papa Francisco deixou muito claro que a fé em Jesus é também a fé no caminho de Jesus. “Eu sou o caminho” (Jo 14,6).

O caminho da Jornada no Rio de Janeiro foi vivido pelos jovens com intensidade. Víamos bandos de jovens, com suas bandeiras, caminhando pelas praias do Rio com um excesso de alegria transbordando pelo rosto. Ouvia-se o canto: “Eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor”. Era o grito que se escutava vindo das multidões  nos túneis imensos no centro do Rio de Janeiro. Minha filha, Clara Beatriz – 18 anos, estava comigo e comentou: “Painho, parece o movimento que fizemos de jovens pelo Brasil exigindo mudanças”. Percebi o quanto é importante para o/a jovem vivência como esta. O jovem, em geral, busca autenticidade, verdade e uma Igreja que seja aberta ao diálogo e ao ouvir seus questionamentos e opiniões. Nesse sentido, a Jornada Mundial da Juventude ofereceu um referencial, valores que mostram que a vida humana não se limita ao consumismo desenfreado da sociedade atual.

O clima vivido pelos jovens peregrinos era de empolgação . Quando um grupo cantava, todos acompanhavam cantando com muita emoção. Aqui aflora o patriotismo inclusivo que se apresenta para o outro de forma acolhedora como diz o próprio canto: “com muito amor”. Durante a caminhada para se chegar no local das celebrações, cada país presente encontrava uma forma de expressar sua presença através de um canto, de um gesto, de uma oração ou de uma palavra. Nesse momento o peregrino faz seu caminho. O local da celebração era o ponto de chegada, mas o caminho percorrido fascinava a todos. Todo peregrino sabe que a viagem é mais importante que o destino. Aqui os jovens peregrinos vão além de um encontro com o bispo de Roma. Eles se afirmam como protagonistas de uma nova história.

4. A PARTILHA

JMJ 2013 – Praia de Copacabana – Vigília no sábado à noite – Foto Clara Beatriz
JMJ 2013 – Praia de Copacabana – Vigília no sábado à noite – Foto Clara Beatriz

O acolhimento do outro que vem com o gesto da partilha está presente em toda a Jornada. É, de fato, como dizem os Irmãos de Taizé: “Uma Jornada de Confiança sobre a Terra”. Coloca-se fé na confiança do coração. Você acolhe e é acolhido. Há dois movimentos. Um movimento entre os peregrinos e outro entre os peregrinos e a cidade que acolhe. Só para dar um exemplo. Fiquei na vigília localizada na areia da praia de Copacabana com um grupo. Ao meu lado esquerdo havia jovens da Malásia (Ásia) e do lado direito do Uruguai (América do Sul). Enquanto, na minha frente, jovens dos USA e, atrás jovens da Guatemala. Vivemos horas de compartilhamento sobre a vida. Foi nesse contexto que partilhamos alimentos e fiquei sabendo informações interessantes sobre esses países e seu povo. Tomei conhecimento que, na Malásia, existe 1% de católicos. Como vivem as pessoas nessas culturas? Um grupo de jovens do Brasil participou dessa conversa. Que aula de cultura! E qual é o jovem que estudou uma língua estrangeira e não sente vontade de falar nessa língua com pessoas de tal país.  Essa dimensão do compartilhar leva jovens a viverem momentos inesquecíveis. Era inevitável a troca de endereços eletrônicos e sabemos que daí a amizade continua além Jornada.

O momento de partilha da comida, dentro do tempo da Jornada, é muito importante e por isso é muito valorizado pelos jovens. Cada peregrino recebia, dentro de uma caixa com o símbolo da Jornada, um kit Café + Lanche. A orientação era para consumir naquele mesmo dia. Víamos gestos de solidariedade e fraternidade entre os peregrinos espalhados pelas comunidades, paróquias, escolas e em toda cidade. “Todos comeram e ficaram saciados” (Mc 6,442). Durante o tempo de partilha não havia ninguém sozinho. A partilha na Jornada se dava em pequenos grupos. Os pequenos grupinhos de jovens tomavam conta dos lugares onde era servido o kit.

Com o gesto da partilha, era respondida a pergunta: onde encontrar Jesus ressuscitado? Ele estava presente no gesto da partilha. Na alegria do encontro além fronteira.

5. O BISPO DE ROMA

JMJ 2013 – Passagem para celebração - Praia de Copacabana – Foto Jesemy Ferreira
JMJ 2013 – Passagem para celebração – Praia de Copacabana – Foto Jesemy Ferreira

Francisco entrou no Brasil como outrora Jesus em Jerusalém: não montado no cavalo branco dos imperadores, equivalente hoje às limusines blindadas, e sim no “burrico” de um carro que muitos trabalhadores usam para ir ao trabalho ou para fazer compras, com o vidro aberto, sem nojo do cheiro do povão e nem medo da população eufórica que chegará para encontrá-lo. Veja que coisa bonita! O Papa, acossado pelas mães que lhe levaram crianças para serem beijadas, ou pessoas que, não podendo aproximar-se do carro, jogavam bandeiras, bonés (e Francisco fazia tudo para pegar) e até toma chimarrão na cuia do Gaúcho. Um Papa que impressionou evangélicos e ateus tinha que ter qualidades singulares como a paciência de ouvir, a presteza do sorriso e do abraço, o dom da palavra e do gesto oportuno, a eloquência do exemplo. De fato, para quem não é católico nem cristão, a visita do bispo de Roma e a Jornada Mundial da Juventude foram um esplêndido momento na vida da cidade. A Jornada fez toda diferença, atraiu o olhar e tocou os corações. O Francisco, bispo de Roma, sente na própria pele os desafios de um continente marcado pela pobreza crescente, pela exclusão social, por uma sociedade de privilegiados, em detrimento da maioria cada vez mais discriminada. Ele contextualiza afirmando que a juventude do mundo passa por um momento histórico altamente desafiador, com uma crise de valores, de ideais, de propósitos e mesmo de emprego. Exemplifica que as recentes manifestações no Brasil são apenas um pequeno exemplo de como a juventude contemporânea tem buscado causas e valores em que possa acreditar e pelos quais valha a pena lutar.

Portanto, diante dessa realidade dramática e escandalosa, conclama a Igreja hierárquica a ser pobre: “uma Igreja pobre para os pobres”. O que lembra o pobre de Assis. O então jesuíta Bergoglio tem claro o documento de Medellín  que dedica um dos seus capítulos à “pobreza da Igreja”. A Conferência de Medellín foi a segunda Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e realizou-se na cidade de Medellín, na Colômbia, em  1968, sendo a primeira realizada depois do Concílio, cujo título expressa sua íntima ligação com aquele evento: “A Igreja na presente transformação da América Latina à luz do Concílio Vaticano II”, uma tradução dos documentos do Concílio para a  realidade Latino-Americana. Foi, de fato, o despertar de uma Igreja comprometida com a defesa da vida dos pobres.

É esperançosa a reforma iniciada na Cúria Romana com a nomeação de 8 cardeais dos cinco continentes para assessorá-lo, de modo a valorizar, o espírito colegiado do Concílio Vaticano II, para uma Igreja servidora fiel do Senhor no anúncio do Reino.

6. OS CONTRATEMPOS

JMJ 2013 – Praia de Copacabana – Manhã de Domingo – Foto Josemy Ferreira
JMJ 2013 – Praia de Copacabana – Manhã de Domingo – Foto Josemy Ferreira

É bom fazer o registro que, apesar do vento frio e da chuva fina que iam e voltavam, os jovens estavam firmes. Mas algo de errado aconteceu com a organização da Jornada. Os transportes não funcionaram a contento. Foi uma loucura porque pessoas esperaram duas ou três horas para pegar ônibus ou metrô. Nas grandes celebrações, foi triste ver pessoas aflitas para usar o sanitário porque eram insuficientes. Uma jovem do Peru chegou para mim e perguntou apavorada como fazer porque não agüentava mais. Foi difícil. O som não foi suficiente. Em muitos lugares da orla os peregrinos não escutavam o que era dito no palco central. Como também a visibilidade. Um exemplo foi a celebração da via sacra. Também alguns peregrinos tiveram dificuldades para localizar onde tomar café e participar da catequese que era feita pela manhã.

É claro que a realização de um evento como este é passível de fragilidades. Só que as falhas foram tão grandes que tomaram conta dos comentários.  Agora, o que dominou os comentários na imprensa foi a mudança, de última hora: a transferência dos dois dias de atividades do Campus Fidei, em Guaratiba, para a praia de Copacabana. Que sirva de lição. Não é o caso de culpar a chuva pela mudança repentina do local de realização da Jornada na sua fase de culminância. Moradores da região, semanas atrás, diziam que a área costumava alagar. A conclusão é a seguinte: se o governo com seus técnicos tivessem escutado os moradores dessa área rural, a Jornada não teria passado pelos transtornos que foram muitos. A nova evangelização passa pelo respeito às comunidades tradicionais. Escutar os antigos ajuda a ter sabedoria para decisões importantes.

Por conseguinte, o conhecimento popular não deve ser menosprezado, pois constitui a base do saber e já existia muito antes do ser humano imaginar a possibilidade da ciência. É de se esperar que a equipe central das Jornadas tire lições importantes para realização de outras tantas.

7. A EUCARISTIA

JMJ 2013 – Praia de Copacabana – Missa de Envio – Foto Antonio Oliveira
JMJ 2013 – Praia de Copacabana – Missa de Envio – Foto Antonio Oliveira

Na missa final, houve distribuição da eucaristia para os jovens. Que bom! Digo que bom porque, na missa de encerramento da Jornada de Madri, não houve. Em Madri, o comentarista disse que, “por respeito a Jesus”, não haveria distribuição da eucaristia e que os jovens fizessem a comunhão espiritualmente. Enquanto isso se via, simultaneamente no telão, o Papa Bento XVI dando a comunhão para o rei da Espanha Juan Carlos, sua esposa e família. Essa cena me impressionou e ficou gravada na minha cabeça até hoje. Mas no Brasil foi diferente, graças a Deus!

A comunhão foi distribuída em uma multidão calculada em 3 milhões de pessoas. Como foi feito? No momento da comunhão, milhares de sombrinhas brancas entraram no meio da multidão indicando que era ali um ponto de distribuição da eucaristia. Eu me localizava no meio da multidão e recebi a eucaristia de uma ministra, mãe de família, negra, chamada Dona Neide Silva, que mora na Baixada Fluminense e trabalha lavando roupa. Esse momento foi muito bonito porque presenciávamos homens e mulheres, gente trabalhadora, distribuindo a comunhão para os jovens, incluindo aí religiosos e padres.

Quando os evangelhos contam que Jesus partiu o pão com os discípulos de Emaús, refere-se à partilha de alimentos e à ação de graças. No final de uma Jornada Mundial da Juventude, o clima era de recolhimento e abertura fraterna. Os jovens estavam felizes por terem feito uma experiência ímpar de fraternidade e beleza, de transbordante alegria e fraterno congraçamento universal, conscientes de terem anunciado ao mundo que a paz é possível.

A eucaristia não  é o banquete final do Reino de Deus, mas lembra esse banquete – lembrando o destino final da caminhada. É o pão e o vinho para a viagem, o alimento para viver e caminhar. A eucaristia de encerramento na Jornada representou o grande desejo que quer todos unidos com Cristo e entre si.

8. O SEGUIMENTO

JMJ 2013 – Na catedral do Rio de Janeiro – Foto Giovane Silva
JMJ 2013 – Na catedral do Rio de Janeiro – Foto Giovane Silva

O Papa falou claramente na missa de envio: “No início do salmo proclamado, escutamos estas palavras: «Cantai ao Senhor Deus um canto novo» (Sl 95, 1). Qual é este canto novo? Não são palavras, nem uma melodia, mas é o canto da nossa vida, é deixar que a nossa vida se identifique com a vida de Jesus, é ter os seus sentimentos, os seus pensamentos, as suas ações. E a vida de Jesus é uma vida para os demais. É uma vida de serviço”. Cantar a Deus um cântico novo não é fazer de Jesus um louvor, uma aclamação, uma veneração, mas segui-lo. Crer em Jesus é reconhecer a verdade do caminho escolhido por ele.

O discurso do Papa Francisco foi um desdobramento do que ele tinha dito: “quem se aproxima da Igreja deve encontrar as portas abertas e não fiscais da alfândega da fé”; “é melhor uma Igreja acidentada porque foi à rua do que uma Igreja doente e asfixiada porque ficou dentro do templo”. Portanto, mais confiança que medo.

Para quem é comprometido com as camadas populares, o povo pobre, o que vemos é um incentivo para que continuemos o trabalho de ajuda, de conscientização e de libertação dos marginalizados do nosso continente. O desejo do Papa é formar uma Igreja mais próxima do pobre e não uma Igreja burocrática “reduzida à estrutura de uma ONG”.

Francisco conclama os jovens: «Ide e fazei discípulos entre todas as nações». Com essas palavras, Jesus se dirige a cada um de vocês, dizendo: «Foi bom participar desta Jornada Mundial da Juventude, vivenciar a fé junto com jovens vindos dos quatro cantos da terra, mas agora você deve ir e transmitir esta experiência aos demais». Jesus o chama a ser um discípulo em missão! “Um grande apóstolo do Brasil, o Bem-aventurado José de Anchieta, partiu em missão quando tinha apenas dezenove anos! Sabem qual é o melhor instrumento para evangelizar os jovens? Outro jovem! Este é o caminho a ser percorrido por vocês!”

8. O ENVIO

JMJ 2013 – Praia de Copacabana – Missa de Envio – Foto Josemy Ferreira
JMJ 2013 – Praia de Copacabana – Missa de Envio – Foto Josemy Ferreira

A missa final da Jornada pode ser considerada como celebração de envio. Mas não houve um rito de envio dos peregrinos da Jornada. O envio tem um contexto bíblico belíssimo. O povo da Bíblia, após as peregrinações, voltava para casa contente e agradecido a Deus pelas maravilhas testemunhadas e celebradas. No coração, levava a certeza de que era amado por Deus e, na mente, a disposição de se comprometer mais seriamente com a aliança que acabava de renovar na presença do Senhor. Essa disposição é muito importante, pois o êxito da Jornada Mundial da Juventude está no compromisso de passar para outros jovens em seus países o que viveu e sentiu. Por isso, o jovem peregrino deve ser como o profeta Elias, que, depois de uma forte experiência de Deus na sua jornada ao monte Horeb, retomou o caminho de volta para continuar a sua missão.

Aqui me atrevo a sugerir para os organizadores das Jornadas. Incluir na celebração final um rito de envio dos peregrinos. Os símbolos da JMJ – a cruz de madeira, também chamada a cruz dos jovens e o Ícone da Mãe do Senhor – percorreram 250 dioceses brasileiras. Seria importante fazer o gesto simbólico de entrega da cruz da Jornada aos jovens do país que sediará a próxima Jornada. Nesse caso a Polônia. Com certeza, a cruz percorrerá também as dioceses polonesas.

Fiquemos com as palavras de Francisco na missa de encerramento que lembrou aos jovens: “Ide, sem medo, para servir. Seguindo essas três palavras, vocês experimentarão que quem evangeliza é evangelizado, quem transmite a alegria da fé, recebe alegria. Queridos jovens, regressando às suas casas, não tenham medo de ser generosos com Cristo, de testemunhar o seu Evangelho”.

JMJ 2013 – Praia de Copacabana – Vigília no sábado à noite – Foto Josemy Ferreira
JMJ 2013 – Praia de Copacabana – Vigília no sábado à noite – Foto Josemy Ferreira

PARA CONTINUAR A JORNADA

Por melhor que tenha sido a JMJ do Rio de Janeiro, chegou a hora de levantar acampamento, colocar a mochila nas costas e levar nela, com certeza, uma grande bagagem.

Em meio a tudo o que o jovem possa levar, ele leva um entusiasmo contagiante. Isso porque ele viveu “uma peregrinação de confiança sobre a terra”. A experiência da Jornada alargou o campo de visão do peregrino jovem. Ele nunca mais será o mesmo.

Já voltando do Rio de Janeiro, encontrei no aeroporto uma jovem de Roraima de nome Carolina Macedo. Perguntei para ela o que mais lhe tocou durante a Jornada. Ela prontamente me respondeu: “olha, o que mais me tocou foi o amor que encontrei nas pessoas. Marcante para mim foi dormir no alojamento e dividir um único colchonete com outro”. Um outro jovem do Ceará falou-me com entusiasmo que, voltando para sua terra vai participar intensamente da preparação para o Intereclesial de CEBs no Brasil que acontecerá na cidade de Juazeiro do Norte, no mês de janeiro de 2014. Fiquei pensando, puxa, pena que os canais de televisão não noticiam essas coisas.

Por fim, lembro um dito contado pelo povo antigo: Quando alguém aponta o dedo, aí o sabiozinho vai olhar na direção para onde o dedo está apontando e os tolos olham para o dedo”. Queria deixar esse pensamento dos sábios antigos para você perceber que a direção do dedo é a identificação de Jesus com os jovens, os empobrecidos… .

A peregrinação agora segue na vida cotidiana e, para cumprirmos o mandamento de Cristo, devemos, pois, “ser homens e mulheres para os demais”. Até a próxima peregrinação!

print

Compartilhe:
One Comment

Deixe um comentário