Marina Silva lota auditório da Católica para debate sobre “Democracia e sustentabilidade”
|A ex-senadora e pré-candidata à Presidência da República em 2014, Marina Silva, esteve na noite desta terça-feira (14) na Universidade Católica de Pernambuco para debater o tema “Democracia e sustentabilidade”. O auditório G2 estava completamente lotado por estudantes, professores e funcionários da Universidade, militantes da Rede Sustentabilidade e admiradores da ex-ministra do Meio Ambiente. Na ruas próximas à Unicap, militantes recolhiam assinaturas favoráveis à criação do partido Rede Sustentabilidade, idealizado por Marina.
Fizeram parte da mesa do encontro o secretário estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade, Sérgio Xavier (PV); o deputado federal Alfredo Sirkis (PV-RJ), um dos fundadores da Rede; o ex-deputado estadual e líder do novo partido em Pernambuco, Roberto Leandro; o assessor de Relações Internacionais e Institucionais da Unicap, Thales Castro; e o professor e coordenador do Grupo de Trabalho Agenda Socioambiental da Unicap, José Edson.
Marina Silva apresentou praticamente o mesmo estilo que fez dela um fenômeno eleitoral na disputa presidencial de 2014, com mais de 20 milhões de votos. Um discurso sempre bem articulado e contextualizado, centrado no mote da sustentabilidade, combate à pobreza e democracia. Ela falou sobre crises, a formação do partido idealizado por ela, a Rede Sustentabilidade, e os desafios dos jovens, diante das problemáticas do século XXI.
“A primeira coisa que vou fazer é uma contextualização, por que para falar de sustentabilidade é preciso olhar o momento em que estamos vivendo. Estamos passando por um período de profundas crises, provenientes de diversas áreas da nossa sociedade”, iniciou Marina. Para ela, os problemas que assolam os indivíduos e as comunidades estão divididosem cinco crises diferentes, mas que estão integradas em uma problemática maior. As dificuldades estão nos âmbitos: Econômico; Social; Político; Ambiental e de Valores.
CRISE ECONÔMICA: “Estamos passando por uma situação em que todos os países se debruçam em cima de uma das maiores crises econômicas da nossa história. O Brasil enfrenta dificuldades e não pode mais ficar tomando medidas eleitoreiras e de efeito passageiro, é preciso coragem para pensar em um futuro que alie desenvolvimento econômico a longo prazo e sustentabilidade”.
CRISE SOCIAL: “Esse ponto se configura no fato de mais de dois bilhões de pessoas viverem com menos de dois dólares por dia. Esses mais pobres são excluídos da crise econômica, por que esse termo só é utilizado quando os mais ricos são afetados”.
CRISE AMBIENTAL: “Se caracteriza pela poluição desenfreada dos rios, do ar, na desertificação, com a perda da biodiversidade e grandes mudanças climáticas. Se nós tivermos mais de dois graus de variação na temperatura da terra, poderemos comprometer a nossa própria existência no planeta. É mais grave que a social e econômica, por que sem resolver esse problema iremos comprometer toda a estrutura”.
CRISE POLÍTICA: “Não está só nessa estagnação do Brasil, mas também espalhada ao redor do mundo. Existe uma clara insatisfação das pessoas com a qualidade e quantidade da representação política. A sociedade sente que foi convocada para o papel de meros espectadores. Nunca tivemos tanto poder de expressão, mas nunca fomos tão impotentes para influenciar a nossa política. Podemos falar o que quisermos de Belo Monte, mas o governo federal está fazendo a usina hidrelétrica de qualquer jeito. É preciso democratizar a democracia, pois da forma como está não atende mais à diversidade desse tempo”.
CRISE DE VALORES: “Quando eu me refiro a isso não estou falando sobre o aspecto moralista da palavra. Estou defendendo os princípios éticos que movem a nossa sociedade. Os recursos ambientais de longos períodos estão sendo sacrificados por lucros passageiros de algumas décadas. Parte do Congresso Nacional brasileiro trabalha para alterar o Código Ambiental e anistiar pessoas que desmataram e destruíram a nossa biodiversidade.
Para ela, a conclusão de todos esses problemas é que nós estamos vivendo uma crise civilizatória. “Nós sabemos que várias civilizações colapsaram em nossa história. Temos a chance de mudar o nosso futuro, pois sabemos onde estamos errando”, frisou ela, alertando que é preciso que tomemos medidas certas de forma permanente e não eleitoreira, com caráter emergencial e passageiro.
O modelo de governo defendido pela ex-senadora está fincado na sustentabilidade econômica, social e cultural. “Temos a maior biodiversidade do planeta, precisamos utilizar tecnologia e conhecimento para usufruir dessa riqueza com responsabilidade. Não adianta ter riqueza se os mais pobres não têm moradia, educação, saúde e entretenimento. Um modelo que não preserva a identidade cultural não é sustentável, pois ninguém é capaz de substituir o conhecimento dos povos”, afirmou.
Durante o encontro, Marina aproveitou para lançar farpas direcionadas ao governo da presidente Dilma Rousseff. “Não existe um salvador da pátria, não esperem que Dilma vá agora resolver esses problemas todos. É preciso que cada um de nós tome consciência e nos tornemos voz ativa na sociedade. Chico Mendes foi assassinado por defender um seringal, em 1988; eu saí do Ministério do Meio Ambiente, mas os destruidores da biodiversidade ainda não conseguiram acabar com tudo”, disse ela, afirmando que isso só está sendo possível porque o cidadão do século XXI não está permitindo, sendo cada vez mais autor e protagonista de sua própria história.
O papel que a juventude precisa exercer também foi ressaltado por Marina. Para ela, os jovens sentem o cheiro de onde tem novos projetos identificatórios. “Não me refiro a algo que surge de uma terra atrasada, isso não existe, tudo é construído a partir de alguma coisa”, frisou.
ESPERANÇA NO “ATIVISMO AUTORAL”
“Em 2010 iniciamos um processo que me enche de esperança. Está surgindo o que eu chamo de “Ativismo Autoral”. O indivíduo é que é o autor pensante e protagonista. O risco com esse novo elemento é que as pessoas estão cada vez mais participantes do processo, mas de uma forma fragmentada e isso não constrói nada. Uma pessoa só não transforma nada e sim em conjunto”.
Após a conferência, Marina respondeu aos questionamentos da plateia. Na pergunta feita pelo aluno do curso de Direito Roberto Mendes, ela se colocou contrária ao aborto, defendendo que não se trata de uma postura religiosa, mas sim a favor da vida.
O secretário Sérgio Xavier (PV) falou, ao Boletim Unicap, sobre a formação do novo partido. Ele espera apenas o registro no TSE para sair do PV e se filar ao partido de Marina. “Nós estamos trabalhando a coleta das assinaturas e discutindo as ideias que Marina defendeu aqui na Unicap. Eu sou filiado ao Partido Verde, mas logo que o registro sair eu irei me filiar”, afirmou.