Livro investiga como se constrói o perfil dos jornalistas-intelectuais no Brasil
|Com informações da Summus Editorial
Até que ponto a mudança na identidade e nas práticas do jornalista afastaram-no dos valores da intelectualidade? Como algumas pessoas convivem com esse duplo reconhecimento? Qual é o papel dos meios de comunicação no cenário atual, marcado pela ideia de uma “crise dos intelectuais” e também por uma nova forma de fazer jornalismo, pautada pela falta de profundidade e pela velocidade cada vez maior dos acontecimentos?
Estas são algumas das perguntas respondidas em Jornalistas-intelectuais no Brasil (Summus Editorial, 184 p., R$ 51,90), de Fábio Pereira. Partindo de entrevistas com dez grandes nomes da imprensa brasileira – Adísia Sá, Alberto Dines, Antônio Hohlfeldt, Carlos Chagas, Carlos Heitor Cony, Flávio Tavares, Juremir Machado da Silva, Mino Carta, Raimundo Pereira e Zuenir Ventura –, o autor desvenda como eles conciliam literatura, jornalismo, artes, universidade e militância política.
Para reconstituir a trajetória profissional desses ícones do jornalismo brasileiro, Pereira recorreu não somente a longas entrevistas ao vivo, mas também a biografias e reportagens publicadas sobre eles, além de ter analisado muitas das obras que eles próprios produziram.
Em oito capítulos, ele aborda a transformação histórica de intelectuais em jornalistas – sobretudo na França – verifica os mecanismos pelos quais as identidades de ambos se misturam, examina o papel exercido pela notoriedade, pela reputação e pelo engajamento na carreira dos profissionais e reproduz os conceitos de “jornalista” e “intelectual” descritos pelos próprios entrevistados.
Ao reconstituir a trajetória profissional dos entrevistados, o autor aponta contradições e recompensas trazidas pelo duplo papel desempenhado pelo jornalista-intelectual. “Diariamente, esbarramos com esses jornalistas-intelectuais na mídia, nas livrarias e bibliotecas, nas universidades, nas rodas de leitura e nos espaços de debate intelectual. Eles merecem nossa atenção justamente porque sua trajetória evidencia as tensões que marcam as relações entre o meio jornalístico e o meio intelectual no Brasil”, afirma o autor.
De fato, os depoimentos de cada um permitem reconstruir a história do jornalismo brasileiro e também fazer um paralelo entre o jornalismo praticado hoje e aquele exercido algumas décadas atrás. Para os estudiosos do assunto, trata-se de um verdadeiro documento histórico a respeito da profissão de jornalista.
Segundo a jornalista Cremilda Medina, que assina o prefácio, Pereira conseguiu reunir num só termo – jornalistas-intelectuais – profissões que muitas vezes, histórica e culturalmente, parecem antagônicas. Para ela, porém, “a narrativa autoral do jornalista só se distingue de outras narrativas inteligentes pela urgência da contemporaneidade e pela linguagem do diálogo social que pesquisa a vida inteira” – e é por descortinar esse processo que a obra de Pereira tem tanto mérito.
O autor
Fábio Henrique Pereira é jornalista e doutor em Comunicação pela Universidade de Brasília, com estágio de doutoramento na Université de Rennes 1 (França). Trabalha desde 2002 com pesquisa na área de sociologia profissional e identidade dos jornalistas. É autor de vários artigos em periódicos científicos e de capítulos de livros editados em português e francês. Organizou, com Viviane Resende, a coletânea Práticas socioculturais e discurso: debates transdisciplinares, publicada em e-livro pela editora LabCom. Atualmente, é professor da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília e pesquisador do Núcleo de Estudos sobre Mídia e Política da UnB (Nemp), além de editor do site Observatório Mídia&Política.