Instituto Humanitas e Gajop abordam racismo institucional em oficina para PMs
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O Instituto Humanitas Unicap promoveu em parceria com o Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop) o 5º encontro do projeto “Diálogos Para Mudanças: combate ao racismo estrutural no encarceramento provisório em Pernambuco” nessa terça-feira (22). O projeto é financiado pelo Fundo Brasil de Direitos Humanos e consiste em oficinas de capacitação para policiais militares acerca do tema “racismo institucional estrutural.”
A palestra foi ministrada pela psicóloga e capitã Lucia Helena, que coordena o GT Racismo dentro da PM e compõe a Diretoria de Articulação Social e Direitos Humanos (DASDH). Todo mês são reunidos cerca de 20 policiais de diferentes batalhões atuantes nos 10 bairros mais violentos do Recife para debater abertamente o preconceito racial nas abordagens dentro das comunidades.
“O racismo acontece não porque queremos, mas porque nos é ensinado diariamente,” afirma a capitã. “É comum ouvirmos que existem mais negros na cadeia porque mais da metade da população é negra. Se isso fosse verdade, teríamos mais negros em todos os lugares da sociedade, como no Judiciário, em hospitais ou faculdades particulares.”
Ela reitera a importância de não fazer a conciliação dos crimes de racismo no local onde acontecem, mas levar à delegacia para que eles sejam corretamente contabilizados e os agressores recebam uma punição compatível com a transgressão. “É preciso ter empatia para se compadecer com alguém que sofre preconceito. O racismo é automático, pois está profundamente enraizado em nosso inconsciente. Precisamos levar essa ideia para o plano consciente; é preciso ser crítico e admitir que é racista para, então, poder mudar.”
O técnico de gabinete do Gajop Romero Silva explica que a atividade busca levar a discussão não para o alto comando da polícia, mas para os próprios policiais que trabalham nas ruas. “A abordagem é legítima e necessária, mas não pode ter como perfil para um suposto criminoso a cor negra como elemento fundamental. Temos um número abusivo de prisões provisórias e, quando fazemos um recorte carcerário por raça e cor, vemos que cerca de 90% são negros ou pardos. Qual reflexão vamos fazer? O racismo influencia na ação policial. Mais do que dialogar com o Ministério Público sobre a necessidade das prisões, precisamos dialogar com quem está dentro das comunidades.”
A capitã Lúcia levou em conta não só o atual cenário de preconceito no Brasil, mas todo passado escravocrata para explicar questões como diferentes privilégios e oportunidades para negros e brancos. “Não somos seres a-históricos. Temos que pensar na vida considerando nossa história. Dentro da sala de aula podemos colocar para fora o que pensamos de verdade e trabalhar nossos preconceitos. Espero que possam acontecer muitos outros encontros; para que possamos continuar discutindo o racismo em uma sociedade que até hoje diz que racismo não existe.”