Boletim Unicap

Instituto Humanitas Unicap e Coletivo M.u.d.a promovem debate sobre advogados perseguidos durante a ditadura militar

Uma jovem cruelmente torturada com choques elétricos na boca, seio, nariz e até nos órgãos genitais. Não satisfeitos, os algozes a colocaram numa sala fria e escura juntamente com um filhote de jacaré passando pelo corpo dela durante a noite. Em meio ao horror, ela só pensava no filho de três anos e meio. O que parece uma cena de filme de horror foi a mais dura realidade para Cecília Coimbra, fundadora do movimento Tortura Nunca Mais e uma das vítimas da ditadura militar brasileira.

O depoimento em que ela relata tamanha crueldade está no filme Os Advogados Contra a Ditadura: por uma questão de justiça. A produção de 2014 dirigida por Silvio Tendler traz entrevistas com vítimas do regime e advogados que atuaram na defesa de presos políticos. O material serviu de mote para o Cine Debate promovido pelo Instituto Humanitas Unicap (IHU) e pelo Coletivo M.u.d.a nesta quinta-feira (31), no auditório Dom Helder Camara.

O debate contou com a participação do professor do curso de Direito da Católica e integrante do Humanitas, Manoel Moraes; do advogado Marcelo Santa Cruz; e da integrante do M.u.d.a,  Maria Luiza Solano, aluna do 3º período de Direito.  As discussões giraram em torno da Lei da Anistia e da evolução histórica dos Direitos Humanos no Brasil.

“Isso tudo aconteceu com jovens da idade de vocês com aquela perversidade. É muito importante refletir sobre esse período para que isso nunca mais volte a acontecer. Antes de 64, existia todo um movimento a favor de reformas agrária e urbana. Havia discussões sobre a importância de haver universidades críticas e questões econômicas, do envio dos royalties para o exterior. Aí veio o Golpe de 64 com prisões e fechamentos de diretórios acadêmicos, dos sindicatos. Houve resistência, inclusive aqui na Unicap”, disse Marcelo que é irmão do preso político desaparecido Fernando Santa Cruz.

O caso de Fernando Santa Cruz foi investigado por Manoel Moraes que trabalhou nas comissões da Verdade e da Anistia. Ele disse que a partir da análise de documentos constatou que muitos advogados foram monitorados pela ditadura. “Um desses documentos mostrava o monitoramento da casa de Marcelo. Havia todo um laudo apontando quem frequentava a casa, quem eram as pessoas que viviam lá. Vejam só o que é uma ditadura: pessoas disponibilizadas para monitorar esses advogados, acompanhar atividades desses advogados e naturalmente monitorar os seus clientes que eram defensores de Direitos Humanos”.

Para o professor, esse monitoramento do movimentos sociais pelo Estado ocorre ainda hoje. De acordo com ele, os pactos que regem o país são feitos pelas elites sem que o contrato social incorpore as pessoas e suas diversidades. “E o drama é testemunharmos isso: advogados e advogadas perseguidos por defenderem sem-terra, dignidade, terem seus telefones grampeados. Nós temos uma denúncia na Corte Interamericana de Direitos Humanos, muitos antes dessa avalanche de Impeachment, ainda no contexto do governo Lula, de advogados populares monitorados. Isso chegou na Corte e o Brasil vai responder”.

Clique aqui e veja o filme Os Advogados Contra a Ditadura: por uma questão de justiça.

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