Fórum de Psicologia discute a adolescência
|A questão das drogas e a violência contra a criança e o adolescente foram alguns dos temas discutidos no 13º Fórum de Debates Sobre a Adolescência. O evento é organizado pela profª Mariel Rocha, do curso de Psicologia da Unicap, e faz parte da 8ª Semana de Integração Universidade Católica e Sociedade.
O formando em Psicologia George Vieira coordenou a mesa Adolescência, saúde física e psíquica- múltiplas visões. Participaram do debate o estudante de Psicologia Márcio Constantino, a fisioterapeuta Ana Carla Silva e a psicóloga do Tribunal de Justiça de Pernambuco Nelma Ferrão de Oliveira. A professora Ana Veloso, do curso de Jornalismo comentou as apresentações.
Márcio começou a apresentação ressaltando que a droga não é um problema apenas de famílias desestruturadas. O próprio uso de substâncias para alterar o humor é algo que existe desde a antiguidade, não sendo fenômeno exclusivo dos tempos modernos.
Sendo um problema biopsicossocial, o uso de drogas é determinado por fatores os mais variados possíveis, variando desde questões genéticas até os locais que o indivíduo frequenta. Outro ponto discutido foram os sinais de que um jovem está usando drogas. Há vários indícios, mas que podem significar outras situações, além de dependência química. “Nem sempre mudanças de atitude indicam uso de drogas”, diz Márcio. Ele lembra, no entanto, que o descuido da apresentação pessoal e mudanças radicais no grupo de amizades são sinais importantes.
Outro aspecto a se observar é a classificação do grau de dependência do usuário. Há quatro níveis. O experimentador faz uso esporádico e geralmente desiste nas primeiras experiências. O usuário ocasional pode fazer uso mais de uma vez, sempre que desejar, porém sem prejuízos para si e os que estão à sua volta.O habitual já apresenta ruptura com a normalidade, embora ainda mantenha vida social, mesmo que de forma precária. O dependente vive pela droga e para a droga, com total ruptura dos laços sociais.
Em relação ao tratamento, é importante assistir também a família, que “adoece” junto com o dependente e pode não se recuperar em alguns casos. Os pais devem considerar que o processo para largar o vício é longo e nunca devem permitir que o filho use a droga em casa.
Ana Carla relacionou os desvios de postura e atitude à imagem que o adolescente faz de si mesmo. Ela iniciou falando sobre a fase de transição entre a infância e a vida adulta, que corresponde ao período da adolescência. Segundo a fisioterapeuta, esses jovens passam por diversas situações diante e sempre vão apresentar uma resposta, de acordo com seu estado.
Um adolescente que não se sente feliz pode adotar uma postura tímida e isso se refletir também na sua apresentação física, convertendo-se, por exemplo, em desvios da coluna. Para exemplificar, foram apresentadas fotos de jovens em diferentes atitudes. Alguns mantinham a coluna reta, mesmo levando mochilas nas costas, o que representava uma pessoa com elevada autoestima e confiança, capaz de buscar seu espaço na sociedade. Em outra foto, uma menina se mostra triste por não ter o corpo que julga ideal e isso se reflete também no seu modo de sentar, com a coluna desalinhada.
Segundo Ana Carla, o adolescente, frente a esses desafios, muitas vezes lançados até pela mídia, pode ter uma queda do rendimento escolar, insônia, consumismo e diminuição das atividades físicas. Para mostrar autoafirmação na sociedade, a juventude recorre aos mais diversos recursos, sejam eles adotar uma atitude que denote segurança, ainda que artificial, ou até mesmo a entrada no mundo do crime, que é uma forma daquele jovem ser visto.
A professora Ana Veloso, participante de movimentos ligados à defesa dos direitos humanos, comentou a situação da criança e do adolescente, principalmente em relação às drogas, além de fazer críticas à forma como a mídia lida com essa realidade. Ela deu como exemplo, a representação na TV da área conhecida como cracolândia. Segundo a professora, as imagens dos dependentes químicos nesses locais são exibidas sem uma análise do contexto, que envolve a ausência das políticas públicas. “Nós como participantes dos meios de comunicação, estamos cometendo muitas falhas”, advertiu.
A professora lembrou a necessidade de se promover uma discussão sobre uso de drogas sem o viés moralista, mas com um sentimento de solidariedade para com o outro. Questionada sobre a razão de se debaterem tanto as drogas e não haver mudança de quadro, Ana Veloso respondeu que falta o Estado assumir de fato uma política para o tema, no lugar de ser “punitivo e criminalizador”.
Márcio Constantino respondeu à mesma questão lembrando que houve uma redução do fumo quando o governo resolveu atuar contra o tabagismo. Ele acredita que há carência de uma política consistente para o assunto, havendo o que chamou de “tapa-buracos”.
A psicóloga Nelma Ferrão falou sobre o Núcleo de Proteção aos Direitos da Criança e do Adolescente do TJPE, que entre outras ações, visita estádios, bares e casas de shows a fim de verificar se há jovens em situação irregular. Outra atividade desenvolvida pelo núcleo é a identificação de usuários de droga ou vítimas de abuso sexual.
A conferência de encerramento contou com a participação da professora Patrícia Lira e do professor Alex Peña e debateu o assunto da violência doméstica contra crianças e adolescentes. Ambos os conferencistas são doutores em Psicologia.
Patrícia Lira alertou para o fato de o adulto ser um agressor em potencial apenas por ser adulto e a criança uma possível vítima somente por ser criança. Ela também comentou a relação dos movimentos sociais com o combate à violência doméstica, havendo uma relação de benefício, sobretudo para o movimento feminista. Alex Peña lembrou que a adolescência é uma construção da modernidade, não havendo esse conceito nas sociedades primitivas, em que a criança passava direto para a vida adulta. Ele ressaltou que situações como a dependência das drogas estão acontecendo porque a sociedade perdeu referencial de valores. “Se o adolescente é vítima, nós também somos vítimas ou vamos ser agentes dessa violência?”, questionou o professore Peña, que destacou ainda a necessidade de discutir princípios fundamentais.
O 13º Fórum de Debates Sobre a Adolescência da Unicap foi encerrado com uma participação especial. Jovens do grupo Griô misturaram erudito com popular, rock com maracatu e encantaram estudantes e professores que conferiram a performance no Salão Receptivo da Universidade. O grupo tem dois anos e é composto por jovens ligados ao Lar Esperança e ao Centro de Atendimento á Criança (Ceac).
A programação completa da 8ª Semana de Integração Universidade Católica e sociedade está disponível no site http://www.unicap.br/siucs .
Parabéns pelo belo trabalho!! Um abrç ao Márcio e demais integrantes. Cinara Piacenti – Profª Ciênc/Biol. de São Paulo.