Filósofo Charles Taylor analisa a secularização e a política do reconhecimento
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O filósofo canadense Charles Taylor ministrou duas palestras na Universidade Católica de Pernambuco. Em uma delas ele falou sobre a relação entre as religiões e a secularização. Na outra conferência, o professor emérito de ciência política e de filosofia da Université McGill (Montreal) analisou a política do reconhecimento como ponto importante na evolução da relação entre os países. No Brasil, desde o final de abril, onde participa de uma série de eventos acadêmicos, Taylor concedeu uma entrevista especial ao Boletim Unicap.
Boletim Unicap – O senhor esteve no Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro e agora Pernambuco. Quais são suas impressões sobre o Brasil?
Charles Taylor – Minhas primeiras impressões são de um país imenso, com uma diversidade cultural muito grande e diversidade de relações muito fortes. Tenho diferentes sentimentos em cada estado em que estive. Achei isso muito interessante.
B. U – É possível promover a igualdade sem que haja necessariamente homogeneização?
C.T – É uma ideia interessante que parte de que a igualdade pressupõe a homogeneização, mas isso não é suficiente. Porém é importante para o processo da democracia. É fundamental nos países democráticos que se tome como política central o reconhecimento e que isso passe por uma redefinição da própria história do país, uma vez que há imigrantes que vão e vem e que, de alguma maneira forçam, uma reconfiguração desse próprio país. Então a democracia deve prezar por esse tipo de política.
B.U – O ataque terrorista de 11 de setembro de 2001 reforçou o preconceito dos Estados Unidos com os estrangeiros?
C.T – Nunca querendo justificar os ataques de 11 de setembro, mas é importante reconhecer que esses acontecimentos, de alguma maneira, se deram por conta, talvez, do relacionamento equivocado dos Estados Unidos com esses países muçulmanos. Por exemplo, a primeira reação dos republicanos foi culpar os muçulmanos ao passo que certos políticos e grupos do partido democrático tiveram a lucidez de refletir sobre o momento de rever essas relações. Esse posicionamento desse grupo democrático deve ser entendido como posicionamento correto, de atentar para as diferenças entre a cultura muçulmana e americana.
B.U – Nunca se produziu tanto conhecimento na história da humanidade e em tão pouco tempo como agora. No entanto, alguns valores religiosos se reafirmaram ou novos surgiram, criando uma delimitação com o processo de secularização. Como o senhor explica esse fenômeno?
C.T – É fundamental repensar a secularização e a que tipo de secularização estamos nos referindo. Para mim, a secularização não significa o desaparecimento da religião, mas, na verdade, um refinamento econômico, social e cultural do processo religioso que se manifesta não só por uma categoria específica, mas de uma forma muito diversa.