Boletim Unicap

Espiritualidade e cuidado com a pessoa idosa são tema de Fórum

O Fórum Sobre Questão do Envelhecimento tem se consolidado como um espaço de convivência e troca de saberes. Do conhecimento popular ao saber acadêmico, os grupos que reservam uma tarde por mês para virem à Universidade têm feito descobertas sobre uma fase da vida especial. Aos 72 anos, a professora aposentada Maria José de Souza é uma frequentadora assídua do evento promovido pelo Instituto Humanitas Unicap.

“É muito interessante, nós aprendemos muitas coisas e somos muito bem-recebidas. As palestras, as músicas. João recebe a gente com o maior carinho e eu fico muito satisfeita”, disse ela se referindo ao coordenador do Fórum, Prof. Dr. João Luiz Correia. Do lado dela, quem também estampava no rosto um sorriso de quem vive de bem com a vida era o seu Manoel Venâncio da Silva, 67 anos de vida dos quais 25 foram dedicados ao corte da cana-de-açúcar no Litoral Sul de Pernambuco.

“A gente fraquinho, mas junto com pessoas de qualidade, nós ‘vai’ pra frente. ‘Tô’ muito orgulhoso de ser um cortador de cana aposentado e só sinto alegria”, disse ele que se tornou um embolador de Coco, tradicional ritmo musical pernambucano. Dona Maria José e seu Venâncio fazem parte do grupo musical Toadas de Ipojuca, que se apresentou ao final do Fórum desta terça-feira (14). Eles são assistidos pelo Centro de Assistência Social do município.

“O Fórum vem resignificando a vida dessas pessoas idosas com palestras educativas que abrem uma gama de conhecimento a cerca da saúde mental do idoso, sexualidade. Ele é muito bem conduzido pelo professor João e toda essa equipe da Universidade Católica”, destacou o coordenador do grupo, Augusto Carvalho. Ele disse que os participantes do Toadas de Ipojuca vão se apresentar em Caxias do Sul, em outubro, e em Portugal, no mês de novembro.

O tema discutido hoje (14) foi Espiritualidade no Cuidado com a Pessoa Idosa. Os palestrantes foram o educador social e coordenador do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas da Unicap (Neabi), o Padre jesuíta Clóvis Cabral; e o professor-pesquisador do Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião, José Tadeu Batista de Souza.

Clóvis foi o primeiro a falar destacando a falta de preparação para o envelhecimento, uma fase da vida que ele prefere chamar de “plena maturidade”. O coordenador do Neabi ordenou a sua explanação em três aspectos retirados do próprio tema do evento: Espiritualidade, Cuidado e Pessoa Idosa. “A espiritualidade é um movimento do Espírito Santo dentro de nós, é renovação, é uma experiência. Não é um conjunto de dogmas, nem catecismo. Cultivar a espiritualidade é se deixar seduzir por Deus”.

Na dimensão Cuidado, ele estabeleceu uma relação dialética entre o cuidado consigo mesmo e com os outros. ” O ser humano se humanizou a partir do cuidado. O cuidado, portanto, é uma experiência primordial, fundamental que os seres humanos vêm fazendo ao longo do tempo”. Na terceira dimensão, a de Pessoa Idosa, Padre Clóvis disse que o idoso precisa ser visto como uma pessoa. “Isso começou a ser percebido a partir dos anos 1960, a pessoa idosa passou a ser vista como uma pessoa que tem direitos e não só ter direitos, mas como ela é capaz de construir, de produzir novos direitos”.

Ele concluiu afirmando que essa temática deve ser vista sob a perspectiva da produção de autonomia e que esta só é alcançada por meio de “experiência em comunidade”. Padre Clóvis deu como exemplo desse raciocínio um conceito africano denominado Ubuntu. “Eu sou porque nós somos. Eu sou autônomo porque nós somos autônomos. Uma pessoa só pode se tornar plenamente madura com ajuda de outras pessoas”.

Já o professor José Tadeu explicou a temática a partir do pensamento do filósofo grego Epicuro, que defende a tese de que o grande objetivo da vida é ser feliz. “Precisamos adotar alguns cuidados conosco mesmo, com as pessoas ao nosso redor e com o meio ambiente, mas também com as pessoas que estão distantes”, disse ele parafraseando o pensador helenístico na sequência. “É preciso que a gente cuide para que a nossa vida não seja alguma coisa, um tipo de caminho que a gente não sabe bem onde vai chegar”.

Em outro momento da explanação, ele voltou a citar Epicuro. “Não existe vida feliz sem prudência, sem beleza e sem justiça. Não existe prudência sem beleza e justiça sem felicidade”. E ele completou: “Pensem a partir de hoje, como é que você na idade que tem, com o dinheiro que tem ou que não tem, como é que eu posso ajudar, perceber a mim mesmo, como é que a gente pode tornar a nossa existência mais bela e saborosa”.

 

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