Em palestra na Unicap, jesuíta francês analisa Encíclica do Papa Francisco
|A Universidade Católica de Pernambuco recebeu, na tarde desta terça-feira (14), no auditório do Centro de Teologia e Ciências Humanas (CTCH), o pesquisador francês Alain Thomasset. O jesuíta do Centre Sèvres proferiu palestra intitulada Laudato Si para uma ética da ecologia e as necessárias convenções. A atividade foi realizada pelo Mestrado e pela graduação em Teologia com o apoio do Instituto Humanitas Unicap (IHU).
A palestra analisou pontos da Laudato Si, uma Encíclica de autoria do Papa Francisco lançada há pouco mais de dois anos na qual ele critica o consumismo desenfreado e a consequente degradação ambiental que tem ocasionado as mudanças climáticas. Alain citou o documento diversas vezes e em uma delas chamou a atenção para ” a reciprocidade responsável entre o humano e a natureza, no reconhecimento do valor próprio de cada ser vivente (LS,69)”.
O jesuíta francês refutou a ideia de que a encíclica do Papa tenha um tom pessimista ou dramático. No entanto, destacou que o documento denuncia severamente os perigos aos quais a humanidade está diante, mas lançando mão de um contraponto. “Por tudo isso, o Papa não despreza jamais a capacidade humana de se refazer e ele quer abrir uma bela esperança para o engajamento, dentro da ação que se impõe a todos. O tom do texto é mesmo, por momentos, singularmente alegre, convidando ao maravilhamento, à surpresa, ao dinamismo. Para fazer frente a esta situação, a Encíclica retoma as causas do mal e oferece diferentes linhas de orientação ‘linhas de orientação e de ação’ (Cap. V) indicando um caminho de ‘educação e de espiritualidade ecológicas’ (Cap. VI).”
Em outro trecho da palestra, Alain menciona o chamamento do Papa em torno da mudança de comportamento no consumo norteada pela responsabilidade social. “Comprar é também um ato moral (LS,206). São ainda ‘pequenas ações cotidianas’ que fazem ‘um estilo de vida’: reduzir consumo de água, fazer a triagem do lixo, cozinhar somente o que se pode racionalmente comer, tratar com atenção o outros seres vivos, utilizar os transportes públicos ou partilhar o mesmo veículo entre várias pessoas, plantar árvores, apagar as luzes inúteis’ (LS,211)”.
Ele também destacou as três dimensões dos argumentos teológicos que convidam a humanidade para o exercício da chamada cidadania ecológica a partir de lógica trinitária: ” a terra é um dom de Deus dado a todos, o Evangelho nos convida a um novo estilo de vida, o Espírito de Deus habita esse mundo e constroe novos caminhos. São engajamentos ecológicos que devem nascer dessas convicções (LS, 64)”.
Alain concluiu estabelecendo uma relação direta entre a pobreza e a degradação ambiental colocada pela Encíclica. “Os gemidos da terra se somam aos gemidos dos abandonados do mundo, dentro de um clamor exigente de nós por uma outra direção (LS,53). Tal a mensagem central que o Papa quer nos fazer escutar ao mesmo tempo alegre e dramática” (LS, 246), a Encíclica do Papa Francisco impressiona pela profundidade de suas análises, por seu ponto de vista e vigor de seu chamado para uma mudança de modo de vida e de maneira de pensar. Mas também é dentro de seu estilo simples, aberto às contribuições de todos os saberes e de todas as partes do mundo para um discurso acessível além das fronteiras da Igreja, que se manifesta o desejo de diálogo que ele deseja instaurar para afrontar com todos os desafios da crise ecológica e social”.