Boletim Unicap

Dom Helder Camara é tema de série de conferências na Católica

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Em parceria com a Paulinas Editorial, a Universidade Católica de Pernambuco realiza a série de conferências Dom Helder Camara: um caminho de santidade, apresentada pelo padre e professor Ivanir Antonio Rampon, autor do livro O Caminho Espiritual de Dom Helder Camara.  As palestras estão sendo realizadas no Teatro da Unicap, localizado no 1º andar do bloco B, das 19h às 21h30, de 26 a 28 de agosto.

IMG_7897_Nesta quarta-feira, dia 26, primeira noite do evento, o Padre Rampon abordou o tema: “Dom Helder: vida, história e missão”. Participou, também, a historiadora do Memorial Dom Helder Camara e doutoranda do Programa de Ciências da Religião da Unicap, Lucy Pina Neta.

Padre Rampon possui graduação em Filosofia pela Universidade de Passo Fundo (1996), graduação em Teologia pela Itepa Faculdades (2000), mestrado em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (2004), doutorado em Teologia Espiritual pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma (2011), com tese sobre O CAMINHO ESPIRITUAL DE DOM HELDER CAMARA (publicada pelas Paulinas, 2013). Atualmente é professor de Fundamentos de Espiritualidade, Teologia da Espiritualidade, Teologia da Graça, Produção Textual, História da Espiritualidade e Vultos da Espiritualidade – Dom Helder Camara, na Itepa Faculdades. Assessora cursos na área de Teologia e Espiritualidade. Tem experiência na área de Teologia, com ênfase em Teologia Espiritual, atuando principalmente nos seguintes temas: espiritualidade, ecologia, oração, mística, compromisso sócio evangélico, liturgia, antropologia cristã, graça… É autor do livro “Paulo VI e Dom Helder Camara – Exemplo de uma amizade espiritual” (Paulinas, 2014).

O palestrante enfocou as características constantes no caminho espiritual de Dom Helder e falou que seu trabalho de pesquisa sobre Dom Helder analisou sua espiritualidade, seu caminho espiritual, ressaltando que ele pode ser analisado por vários ângulos, como político, educacional, cultural e espiritual.

IMG_7860_“Hoje, eu vou dar destaque especial àquelas características que ele vai herdando na família, quando menino, adolescente, depois como jovem no seminário e, também, logo nos primeiros anos de padre, e que serão constantes. Porque Dom Helder vai ter algumas características que serão constantes da sua espiritualidade, tem algumas que vão mudar, que vão amadurecer, evoluir e umas que vão aparecer depois”, destacou Padre Rampon.

Continuando, ele contou que “uma das características que Dom Helder herdou da mãe foi o pacifismo, tanto que desde a Década de 70, no século passado, até os dias de hoje ele é conhecido como o ‘Dom da Paz’. Ao lado de Martin Luther King e Mahatma Gandhi, Dom Helder Camara é considerado um dos três ícones modernos da paz, do pacifismo. É da mãe, que ele herdou isso. Em um momento de sua vida, onde foi perseguido, caluniado e difamado, esse pacifismo balança, mas, no início da Década de 40, ele retoma essa característica perdoando todos os que o perseguiram, o caluniaram e o difamaram, enfatizando ainda mais o ‘Dom da Paz’. Dom Helder vivencia essa característica fundamental de ser um pacifista como Jesus. Ele dizia: ‘um pacifista forte como os profetas, pacifistas como Jesus’”

“Outra característica é a compreensão do sacerdócio, que herdou do Pai. Ele vai entender que o sacerdócio e egoísmo não combinam. Por isso, ele diz que o sacerdote não se pertence, o sacerdote pertence a Deus para servir ao povo de Deus. Ele se consagra a Deus para servir ao seu povo. Isso ele aprendeu com seu pai quando tinha entre sete e nove anos essa característica ele levou para o seminário e para toda a vida. Nós podemos dizer assim: ele vai ser conhecido simplesmente pela expressão ‘o Dom’. Quando se diz ‘o Dom’ não está um título episcopal, está dizendo que ele é um Dom de Deus. Essas são algumas características constantes que vão marcar a vida dele, desde a infância até a sua morte, em 1999, com 90 anos e meio” revela o pesquisador.

IMG_7819_Em entrevista ao Boletim Unicap, Padre Ivanir Rampon responde sobre qual o maior legado de Dom Helder Camara para a humanidade. “É uma pergunta difícil de responder e a gente corre o risco de ser injusto com Dom Helder. Eu acho que o maior legado dele foi o sonho e o compromisso com um mundo de irmãos. Dom Helder dizia assim: ‘não precisa ter um primeiro mundo, um segundo, um terceiro e até um quarto mundo, bastaria apenas um, o mundo dos irmãos, irmãos de verdade, não só irmãos na palavra, ou de mentirinha, que não fosse apenas um formalismo da gente, na Igreja, dizer irmãos e irmãs bem-vindos.’ De fato, isso é um formalismo. Porque nós não estamos construindo um mundo de irmãos. Dom Helder se dedicou, se doou à paz e a paz que ele trabalhava era a paz para criar a fraternidade, a doação sacerdotal dele para criar a fraternidade, para que a gente, de fato, se sentisse e vivesse como filho do mesmo pai, irmãos uns dos outros.”

IMG_7840_“Penso que o Papa Francisco tem enfocado muito isso na alegria do Evangelho, nos convidando para tocar nos pobres, para tocar nos nossos irmãos vítimas desse sistema que mata. O Papa Francisco diz que esse sistema mata. Então, por quê mata? Porque não conseguimos ser irmãos. Se nós fôssemos irmãos, eu não ficaria tranquilo sabendo que tem tantas guerras. Eu não ficaria tranquilo sabendo que tem gente morrendo de fome. Eu não ficaria tranquilo sabendo que tem tantos muros. Essa semana, li uma reportagem, não sei se é verdadeira, mas acho que é, dizendo que hoje, no mundo, existe 65 muros, muito mais que na época que havia o Muro de Berlim, com sete ou oito muros. A gente vive numa sociedade que está criando muros ao invés e de criar pontes”, desabafa Padre Ivanir.

Concluindo, o entrevistado disse: “Dom Helder tinha esse sonho de construir um mundo de irmãos. O Papa Francisco diz assim: ‘se um irmão morre de fome, não é notícia. Agora, se a bolsa de valores mexe um pontinho, fica todo mundo agitado.’ Que sociedade é essa em que um pontinho na bolsa de valores diz tanta coisa e a morte de um irmão não diz quase nada? Então, Dom Helder nos deixa esse legado de buscarmos a fraternidade, de buscarmos a paz, buscarmos essa doação em prol da fraternidade e da paz.”

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