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Diplomata e poeta João Cabral de Melo Neto é tema de minicurso

Literatura e diplomacia definiram trajetória de vida do pernambucano

“O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato.” A frase é um trecho da crônica Os Três Mal-Amados, de autoria do poeta João Cabral de Melo Neto, cuja parte foi musicada pelo grupo Cordel do Fogo Encantado. A leitura foi feita pelo professor Thales Castro, durante a segunda aula do minicurso Pernambucanos Ilustres no Cenário Internacional, que aconteceu nessa quarta-feira (14), no auditório do Centro de Teologia e Ciências Humanas (CTCH).

O momento exaltou um aspecto raro em sua poesia. Na opinião do professor Thales, o texto contém uma fluidez romântica, que sensibiliza a obra predominantemente sólida e árida. “É uma verdadeira declaração de amor a alguma mulher, ao Recife, ao Brasil”, enfatiza. Além dessa crônica, as obras Menino de Engenho e Morte e Vida Severina também foram citadas.

Promovido pela Assessoria de Relações Internacionais (Asserint) em parceria com o curso de Teologia da Católica, o evento está destacando três importantes personalidades da diplomacia e literatura do Estado de Pernambuco: Joaquim Nabuco, João Cabral de Melo Neto e Josué de Castro.

A carreira diplomática se iniciou em 1945, quando tinha apenas 25 anos e foi aprovado no concurso do Itamaraty. Apesar de apaixonado por futebol e declarar muitas vezes que sua carreira deveria ser no ramo, assume o cargo de alta burocracia do Estado: diplomata. As primeiras funções foram exercidas no Departamento Cultural do Itamaraty, no Departamento Político e na comissão de Organismo Internacional.

Durante o minicurso, foi destacada a íntima relação com a língua e cultura espanhola. A Espanha foi o país onde mais serviu, atuando nas cidades de Barcelona, Madri – por duas vezes – e Sevilha. Mas Senegal, Honduras e Equador foram os países onde assumiu o cargo de embaixador. Já a cidade de Porto, localizada em Portugal, foi o último lugar onde exerceu a diplomacia, em 1986.

Na década de 90, o poeta se aposenta, afasta-se da literatura e da vida pública, ao descobrir a doença degenerativa que o havia atingido. Já não dava mais entrevistas e vivia recluso. Em 1999, João Cabral de Melo Neto não resiste mais e falece.

Finalizando a segunda aula, o professor Thales fez a leitura do trecho final do poema Morte e Vida Severina.

“… E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,
vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida;
mesmo quando é assim pequena
a explosão, como a ocorrida;
mesmo quando é uma explosão
como a de há pouco, franzina;
mesmo quando é a explosão
de uma vida severina.”

Serviço:
Minicurso Pernambucanos Ilustres no Cenário Internacional

Local: Auditório do Centro de Teologia e Ciências Humanas (CTCH)
Dias: 28 de abril
Horário: 17h30

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