Católica recebe ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República para debate
|A Universidade Católica de Pernambuco sediou na tarde desta segunda-feira (22) mais uma edição do ciclo de debates sobre Direitos Humanos, Justiça e Memória. A iniciativa, promovida pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais e que já passou por São Paulo, Porto Alegre e Rio de Janeiro, contou com a presença de autoridades do Brasil, Chile e Costa Rica.
Compuseram a mesa o Reitor da Unicap e presidente da Federação Internacional das Universidades Católicas, Padre Pedro Rubens Ferreira Oliveira; a ministra da Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República do Brasil, Maria do Rosário Nunes; o secretário executivo de Justiça e Direitos Humanos do Governo de Pernambuco, Paulo Roberto Xavier Moraes; a secretária de Direitos Humanos e Segurança Cidadã da Prefeitura do Recife, Amparo Araújo; a coordenadora da área de Cultura e Políticas Culturais da Flacso, Marta Porto; o ex-relator especial para o Direito à Educação da ONU e Universidade Nacional da Costa Rica, Vernor Muñoz; a ex-ministra da Cultura do Chile e diretora do Museu da Memória e dos Direitos Humanos do Chile Marcia Scantlebury; o professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e secretário executivo do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso), Emir Sader; e o coordenador da área de Políticas de Educação Superior da Flacso- Brasil, o professor André Lázaro.
Ao fazer a abertura da solenidade, Padre Pedro ressaltou a identificação da Unicap com o tema e classificou os Direitos Humanos como o “termômetro de uma democracia”. Ele relembrou o pioneirismo pernambucano na criação da primeira Faculdade de Direito do país e lançou uma indagação quanto ao futuro do tema. “Resta saber se Pernambuco vai construir também uma agenda pioneira em Direitos Humanos”. Ele também destacou as ações da Universidade nesta área e usou como exemplo o Instituto Humanitas Unicap e a Cátedra Unesco Dom Helder Camara.
Amparo Araújo falou sobre o lançamento do livro Recife: um lugar que tem memória , previsto para o dia 20 de novembro. A obra relata os episódios históricos de resistência ocorridos na capital pernambucana desde a Revolução Pernambucana de 1817 até o período da Ditadura Militar de 1964 a 1985. Já o secretário Paulo Roberto destacou as ações do Governo de Pernambuco como a Comissão Estadual da Memória e da Verdade. Ele informou que estão sob análise 450 pedidos de indenização de parentes de pessoas que desapareceram durante este período militar.
Vernor Muñoz chamou a atenção para a memória dos povos indígenas “excluídos historicamente”. O costa-riquenho também destacou a importância da educação no processo de conhecimento dos Direitos Humanos. “Não basta ter acesso à escola para uma boa educação. A escola deve ser um ambiente livre de preconceitos. Precisamos rever nossos conceitos de Estado, de escola e de história para construir um mundo melhor para todos e para todas”.
A chilena Márcia Scantlebury relembrou os difíceis tempos da ditadura de seu país e da censura aos meios de comunicação existentes. “Naquela época, tivemos que criar uma mídia alternativa para difundir nossas ideias. Era preciso denunciar o desparecimento de gente que nunca teve o corpo encontrado. Ainda temos que evoluir muito”.
Já Emir Sader abriu sua participação recordando Gregório Bezerra. “O mulato comunista que foi arrastado pelas ruas do Recife no para-choque de um jipe do Exército. Os jovens precisam saber como lutou e como atuou este símbolo de combate à Ditadura”, disse ele interrompido pelo aplauso do público presente no auditório G1. André Lázaro emocionou todos lendo poemas do livro Inventário de cicatrizes, publicado em 1978 sob o patrocínio do Comitê Brasileiro pela Anistia.
A ministra Maria do Rosário foi a última a falar. Ela destacou que o compromisso do Governo Federal com os Direitos Humanos no Brasil procura ser o mais “amplo” possível. Rosário foi além da defesa da memória e pregou o combate aos contextos de oposição aos Direitos Humanos no Brasil, enfatizando a atuação das milícias e grupos de extermínio que executaram o advogado Manuel Mattos e a irmã Doroty Stang. “Vamos criar um mecanismo nacional de combate à tortura através de um projeto de lei que já está em tramitação no Legislativo. Precisamos ser competentes e engajados para que esse contexto mude no Brasil”.
MPB Unicap – A programação contou com a participação do grupo MPB Unicap, que apresentou um trecho do espetáculo Com Censura: músicas da ditadura. O show foi criado por ocasião do aniversário dos 61 anos da Universidade e foi apresentado no Teatro Luiz Mendonça, no Parque Dona Lindu. A cantora Surama Rheis interpretou a canção Carne e Osso, de Taiguara; e Natércia Dantas cantou o Milagre Brasileiro, de Julinho da Adelaide. O diretor do grupo, Percy Marques, as acompanhou no violão. Ao final da solenidade, os componentes da mesa receberam da Unicap um kit contendo um DVD com o show na íntegra.