Boletim Unicap

Católica inaugura Cátedra Adenauer com palestra sobre o modelo econômico alemão

A Universidade Católica de Pernambuco, por meio do seu assessor de Relações Internacionais e Interinstitucionais da Unicap, Prof. Dr. Thales Castro, realizou na manhã da sexta-feira (24), no anfiteatro do 3° andar do bloco G4, palestra de inauguração da Cátedra Adenauer. O evento, que é um ciclo de três palestras de âmbito e de relevância internacional, apresentou, na estreia, a temática: “A crise mundial econômica e o modelo alemão da economia social de mercado: análises e perspectivas”, proferida pelo Prof. Dr. Hans-Peter Benedikt.

Participaram do encontro a representante da Fundação Adenauer no Norte e Nordeste do Brasil, Anja Czymmeck; o coordenador do curso de Administração, Antônio Mercês; o coordenador Geral de Extensão, professor Alcivam Oliveira; professores e alunos da Católica; pesquisadores em geral e alunos de outras instituições.

No início do evento, que teve tradução simultânea nos idiomas português e alemão, o coordenador da Cátedra, professor Thales Castro, deu as boas-vindas e agradeceu a presença de todos. “Nós aqui da Universidade Católica de Pernambuco estamos muito honrados e felizes com essa interlocução internacional”. Em seguida, professor Thales apresentou o palestrante dizendo que ele é natural de Hamburgo; graduado em administração e psicologia; com doutorado na Universidade de Humboldt, em Berlim, e com experiência em bancos, na gestão bancária, gestão e recursos humanos. Hans-Peter Benedikt é professor da Universidade de Ciências Aplicadas em Eberswalde.

Após as boas-vindas do professor Thales Castro, foi a vez da representante da Fundação Adenauer no Norte e Nordeste do Brasil, Anja Czymmeck, fazer suas considerações. Ela cumprimentou os presentes e falou da alegria de estar na Católica para inaugurar a Cátedra Adenauer, junto com professor Castro. “A Católica de Pernambuco é uma parceira muito especial da Fundação Konrad Adenauer, porque quando a Fundação decidiu, há mais de 20 anos, abrir um escritório regional para o Norte e Nordeste, a Unicap ofereceu salas para podermos começar a trabalhar. É neste contexto que considero sempre uma grande honra poder estar aqui, e que gostaria de agradecer de todo coração a você, professor Thales, como representante da Universidade, por sua hospitalidade e pela excelente cooperação na organização desta Cátedra.”

“Hoje inauguramos o ciclo de eventos com a representação do modelo da economia social de mercado que foi criada em 1948, na Alemanha Ocidental. Esse modelo garante transações econômicas livres, preservando ao mesmo tempo equilíbrio social. Esta concepção, após severas críticas, foi reconhecida pelo mundo inteiro como ‘milagre econômico’. A Economia Social de Mercado representa a fusão da tradição político-econômica liberal, enfatizando os direitos individuais, o republicanismo e o mercado, com o pensamento social-cristão, fundamentado na dignidade humana, na justiça social e na solidariedade, de modo que tanto o mercado quanto o Estado devem estar a serviço do ser humano e das suas associações, e não ao contrário. É óbvio que, em processos políticos, tais princípios estão sujeitos a compromissos, interpretações e até adaptações aos textos sociopolíticos de outros países. No entanto, as ideias de liberdade, subsidiariedade, solidariedade e justiça vêm mostrando sua relevância não somente na Alemanha, mas também em outros países da União Europeia e da América Latina.”

“É mediante seminários e palestras como o de hoje, no qual o professor Hans-Peter Benedikt nos explicará os princípios da economia social de mercado, que a Fundação Konrad Adenauer gostaria de transferir conhecimentos econômicos referentes a perguntas da ordem política econômica e, especialmente, relativas à políticas de ordenamento econômico”, finaliza Anja Czymmeck.

Em seguida, foi passada a palavra ao palestrante Prof. Dr. Hans-Peter Benedikt, que apresentou o tema “A crise mundial econômica e o modelo alemão da economia social de mercado: análises e perspectivas”. Professor Hans-Peter começou sua intervenção, falando em português, agradecendo o convite e enfatizou o orgulho em fazer a palestra. Depois, ele disse que para apresentar o tema iria fazê-lo em alemão, pois se sentia mais à vontade. Nesse momento, os participantes colocaram seus receptores da tradução simultânea.

“A minha palestra foi organizada de tal forma para, primeiro, informar sobre o porque foi instituída essa economia social de mercado na Alemanha. Para isso, vamos voltar às origens da economia social de mercado, cujo modelo foi instituído após a segunda guerra mundia, e mostrar qual é a função que ele tem hoje. Depois eu gostaria de dar algumas características da economia social de mercado e também salientar alguns pontos para entender como a ela funciona hoje na Alemanha. Eu parto do pressuposto de que a Alemanha está saindo bem dessa crise econômica mundial, por causa dessa economia social de mercado, porque nós temos interesse de disseminar esse modelo para ver se é possível enfrentar próximas crises econômicas, em comparação com o ocorrido nos últimos tempos.”

“A Alemanha, depois da segunda guerra mundial, ficou completamente destruída, não havia pedra sobre pedra em muitas das cidades. Então, a questão era como é que vamos continuar na Alemanha. Havia quatro forças de ocupação aliadas. A Alemanha foi dividida em quatro zonas de ocupação. A ideia era como reconstruir a economia da Alemanha. Havia dois modelos em discussão, um era de uma economia planejada ou da instituição do mercado livre. A resposta foi dada muito rapidamente, decidiu-se que se daria prioridade à economia planejada. Na parte ocidental, deu-se uma discussão, os norte-americanos eram muito fortes, no sentido de introduzir uma economia livre de mercado, ou seja, uma livre concorrência. Porém existiam algumas vozes, na Alemanha, que se perguntavam, será que esse modelo do livre mercado realmente se encaixa na cultura alemã, nas tradições alemã. Um dos políticos da época, que tinha o nome da Fundação que hoje nos convidou, Konrad Adenauer, ele disse vamos tentar um pouquinho para ver se a economia livre de mercado é o modelo correto para a Alemanha. A partir dessas discussões, surgiu a ideia de que talvez existisse uma terceira via, além da economia planejada, além da economia livre de mercado, talvez um modelo híbrido onde se poderia combinar os princípios do livre mercado com aspectos sociais, do bem-estar social. O resultado dessas discussões foi a economia social de mercado, que nós falamos hoje. A constatação da chamada terceira via.”

“Então, qual é a particularidade e como é que se desenvolveu essa terceira via? A Alemanha dependia da ajuda econômica dos países ocidentais, principalmente, dos Estados Unidos. Muito importante também mencionar o Plano Marshall, que forneceu ajuda econômica para a economia alemã. Houve transferência de recursos financeiros para a Alemanha, para reconstruir a economia alemã. O segundo ponto importante é que, muito rapidamente, percebeu-se que a Alemanha iria continuar dividida em dois estados. O lado ocidental iria se focar na economia social de mercado, então estabeleceu uma constituição alemã com princípios da economia social de mercado. A constituição está orientada para o desenvolvimento livre do ser humano, ou seja, cada indivíduo na Alemanha tem direito ao seu desenvolvimento, a expressar suas ideias, a agir de forma livremente em termos econômicos, a proteção à propriedade privada, à propriedade intelectual de patentes. Isso é fundamental e está protegido pela constituição. Mas, os ‘pais’ da constituição também reconheceram que se a gente deixar tudo por conta do mercado, de repente o forte vai se impor e os mais fracos não vão ter os seus direitos reconhecidos. Então, a ideia era proteger os mais fracos na economia.”

“A economia de livre mercado, no Estados Unidos, está caracterizada pela propriedade privada, pelas garantias de liberdade, pela possibilidade de lucro e perda, ou seja, sem limites que regulamentam a demanda e oferta. O estado não interfere, o estado tenta ficar de fora da atuação da concorrência e das forças do mercado. O mercado então, seria a solução, o futuro das pessoas, onde o mais forte se impõe e o mais fraco é eliminado. Esse é o fundamento da economiade  livre de mercado, mas nós na Alemanha temos outra abordagem. Nós temos um sistema regulatório ético e social, ou seja, se deixarmos tudo às forças do mercado, então talvez os mais fortes possam se impor mais. Se isso é o melhor ou não, isso é uma interrogação, ou seja, se a prosperidade para todos, vista como pressuposto para a nossa ordem econômica. Nós não podemos deixar isso à mercê das forças de mercado, porque o mais forte nem sempre vai ser o mais ético e nem sempre vai ser aquele que vai querer propiciar também a sociabilidade dos outros.”

“Foi estabelecido naquela época que precisávamos de uma ordem concorrencial, um marco para controlar a concorrência. Muitos dizem que isso é uma abordagem tipicamente alemã, de sempre querer organizar tudo, mas por outro lado pressupõe regra clara segundo a qual o mercado funciona. Desse modo, o mercado pode agir livremente, mas obedecendo as regras e, se essas regras, não forem observadas vai haver sanções. E é neste momento que o estado interfere no mercado. Os atores do mercado sabem que se não se comportarem corretamente o estado vai interferir e eu vou citar como isso funciona. O estado tem a possibilidade de intervir, nós falamos sobre o Banco Central Federal, encarregado do monitoramento independente, e hoje temos a União Europeia. Então, nós alemães conseguimos impor o nosso modelo para a Europa e temos, hoje, um Banco Central Europeu com funções parecidas. Também foi dito que os fracos têm que ser protegidos. Depois da segunda guerra, repensou-se como instituir sistema de seguridade social para aqueles que não são atores, não fortes e não fracos do mercado, para que eles tenham também uma rede de segurança, ou seja, seguro desemprego para todos os empregados. A prioridade é prosperidade para todos. O que nós queremos é que o maior número de pessoas consiga construir seu futuro, através de seu esforço.”

“É possível dizer que o nosso sistema mostrou sua eficiência. O governo financia empresas que foram afetadas pela crise econômica e durante um determinado período de tempo o governo subsidia o salário dos funcionários, ou seja, a empresa que manteve os funcionários empregados, sem haver demissões, o governo dava subsídios. Por esse motivo, a Alemanha não teve grande elevação de desemprego por causa da última crise econômica. Foi essa rede de segurança social, que atua de forma preventiva, que foi possível reduzir o impacto da crise na questão dos empregos.”

“Gostaria de falar das vantagens e desvantagens da economia social de mercado. Como vantagem da economia social de mercado, temos o componente social. Na Alemanha temos muitos mecanismos de segurança, no sistema de trabalho, na previdência social, saúde, então existe muitos sistemas de segurança que protegem as pessoas e evitam que elas caiam na pobreza ou que fiquem desprotegidos. Também temos total interferência do estado sempre que determinados atores do mercado pratiquem condutas abusivas. Também temos uma concorrência leal, através de um sistema estabelecido de valores. Então como sistema econômico é necessário questionar também se a política e a economia realmente se podem ser separadas de tal forma a evitar a corrupção e abusos desse sistema. Temos também o caso do abuso da segurança social. Na Alemanha é preciso realmente questionar isso, porque existem indivíduos que sabem como se aproveitar da segurança social, do sistema, e abusam. Então, isso tem que ser evitado.”

Após a palestra do Prof. Dr. Hans-Peter Benedikt, o professor Thales Castro agradeceu ao palestrante e disse que sua explanação motivará muitos debates, análises interdisciplinares, transdisciplinares por conta do público de várias áreas como jornalismo, relações internacionais, economia, direito. Na sequência, professor Thales abriu oportunidade para perguntas.

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