Boletim Unicap

Bote Fé: a Cruz, o Ícone e a Juventude

Confira artigo do Reitor da Universidade Católica de Pernambuco, Padre Pedro Rubens, sobre o Bote Fé Recife.

Bote Fé: a Cruz, o Ícone e a Juventude

Pe. Pedro Rubens, Reitor da Unicap

“Hoje esta igreja é a catedral da Juventude de Olinda e Recife”, assim falou Dom Helder, em maio de 1989, na 1ª Missa da Juventude Estudantil, organizada pelas Pastorais da Juventude Estudantil, Universitária, da Unicap e do Colégio Nóbrega. Eram mais de 800 jovens, vindos de vários lugares da cidade, animados por uma banda (de onde saiu Geraldinho Lins); e as coreografias foram feitas pelos jovens da Mustardinha. Impossível não recordar aquele pequeno acontecimento neste grande evento de 16 de janeiro de 2012: pastoreados por nosso Arcebispo, Dom Fernando, na mesma igreja de Nossa Senhora de Fátima, no Nóbrega, aclamados por centenas de jovens, no calor da cidade e da fé. Nesse cenário, com muita emoção, testemunhamos o encontro de três símbolos das Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ): a cruz de Cristo, o ícone de Maria e a própria Juventude.

João Paulo II, inspirado na Jornada Europeia de Taizé, protagonizou a JMJ, movimento que vem crescendo a cada realização: e a Jornada Rio 2013 não fará exceção. Nesse passo, o “João de Deus” falou ao coração da Juventude, quebrando certo silêncio da Igreja, transformando esses Jovens em um sinal diferente para o Mundo. Sinal de contradição, certamente, mas não menos instigante: por um lado, a juventude é irreverente, ousada, livre, contestadora, criativa, festiva e cheia de utopias; por outro, muitos jovens são vítimas de violências, de determinismos e de dependências químicas e outras. Faltam-lhes, enfim, perspectivas, oportunidades, compreensão e, sobretudo esperança duradoura. Nesse contexto, o cristianismo é convidado a resgatar a sua vocação profética, denunciando as marcas da morte e anunciando os sinais de vida. A juventude, em sua diversidade de ideias e efervescência de sentimentos, com seus desejos e frustrações, alimentando dúvidas e fazendo apostas, é símbolo da nossa própria humanidade. E, das opções feitas no aqui e agora da juventude, dependerá a humanidade próxima e futura.

Por isso, o encontro da Juventude com a Cruz, sinal da fé cristã, é um evento importante. A cruz de Cristo é um símbolo forte porque carrega as marcas da morte e, ao mesmo tempo, os sinais da vida sem fim. Jesus, o Cristo, assumindo a cruz, abraçou o sofrimento de toda a humanidade e, vencendo, corajosa e confiantemente a morte, inaugurou uma liberdade sem limites. Assim, o instrumento de tortura e dor, tornou-se símbolo de coragem e resistência. A cruz é símbolo da memória perigosa da fé, risco assumido por Jesus, de forma radical, tornando-se caminho de vida para todo aquele que crê.

Se a juventude é símbolo de esperança e a cruz é o sinal da fé cristã, nessa sequência, o ícone indica muito bem, dentro da simbologia católica, a grandeza do amor de Deus: como se diz em ditado popular, amor de mãe é o maior. Segundo a tradição bíblica, Deus nos ama exageradamente, envolvendo-nos com entranhas de misericórdia. E, como disse João Paulo II, “Deus é Pai, mas, sobretudo mãe”. Poderíamos continuar essa reflexão, mas prefiro concluir chamando a atenção para a própria arte de um ícone. Trata-se, como sabemos, de um trabalho orante, paciente e cheio de significado: um apelo à profundidade. Os jovens de todas as idades somos, pois, chamados à profundidade de nossa fé, de nossa esperança e de nosso amor. Diante da globalização da superficialidade, da desesperança generalizada e da falta de fé até na própria humanidade, deixemo-nos interpelar pela cruz, pelo ícone e pela juventude. Que a gente bote fé na juventude, esperando que os jovens botem fé na vida! Inclusive na nossa.

 

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