Boletim Unicap

Abertura da X Semana da Consciência Negra discute a mídia

A Mídia e o Genocídio da Juventude foi o tema da mesa que marcou a abertura da X Semana de Consciência Negra na noite desta terça-feira (7), no auditório Dom Helder Camara. O evento é promovido pelo Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas da Católica (Neabi) com apoio do Instituto Humanitas Unicap (IHU). A jornalista da TV Jornal/SBT, Graça Araújo; o representante do coletivo Força Tururu, André Luiz Fidelis de Azevedo; e a jornalista da comissão de comunicação da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco, Taisa Silveira, foram os debatedores.

Graça começou falando sobre a injustiça social a qual a população negra vem sendo submetida ao longo da história do país. Ela apontou o tratamento que o poder público vem dando à segurança pública e principalmente à educação como sendo causas do racismo. A jornalista chamou a atenção para a missão do movimento negro no combate a esses problemas. “A luta dos movimentos negros é muito importante para mostrar para a polícia, para a justiça e para o nosso Congresso que nós existimos e vamos cobrar deles”.

A segunda debatedora da noite enfatizou o extermínio de negros praticando no Brasil atualmente. Dados apresentados por Taisa Silveira do Mapa da Violência de 2015 mostram que , no período entre 2002 e 2012, o número de homens negros assassinados saltou de 17.499 para 23.160, um aumento de 24%. “A gente mata mais jovens negros no Brasil do que em países declaradamente em guerra civil”. Ela também falou sobre os estereótipos que norteiam o racismo e que são propagados pela grande mídia. “Existe, infelizmente, uma espetacularização da morte de jovens negros promovida pelos mídias, mesmo quando essas mesmas empresas de comunicação tentam promover uma isonomia no tratamento dos estágios de violência”.

Coord. do IHU – Pe. Lúcio – prestigiou o evento

A mídia também foi alvo de críticas de André Fidelis ao contar a história do surgimento do coletivo Força Tururu. Em 2008, reportagens sobre um duplo homicídio ocorrido no Loteamento Gilberto Freire diziam que o crime havia acontecido na comunidade Tururu, no bairro do Janga, o que reforçou o estigma de localidade violenta. “A nossa revolta com esse sensacionalismo nos motivou a criar esse coletivo de comunicação para ter um contraponto ao discurso da imprensa e da polícia”.

André contou ainda que o Força Tururu tem articulação com o Observatório das Favelas do Rio de Janeiro e o Mídia Ninja. O trabalho da comunidade já foi apresentado em instituições na Alemanha. Atualmente o coletivo está finalizando um documentário sobre pais e mães que tiveram os filhos exterminados. O filme intitulado Ele era meu filho conta histórias das vítimas a partir de depoimentos sob a ótima humanista. “É mais que um documentário, é um direito de resposta”, disse André.

Reitor – A questão da violência contra a população negra também fez parte da fala do Reitor da Unicap Padre Pedro Rubens. Em função de um compromisso agendado há um ano em Roma, ele não pode comparecer mas fez questão de gravar um depoimento em vídeo especialmente para a ocasião. “Quando se fala de violência no Brasil, a população mais atingida é a negra. É uma violência que tem cor e está marcada. Não podemos ficar calados enquanto universidade. Temos que, não só estudar e buscar as causas, mas denunciar qualquer tipo de marginalização”, disse ele ao sugerir uma agenda do Neabi paralela aos 75 anos da Católica. Em 2018, o Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas da Unicap celebra 10 anos de existência.

Em seu discurso de boas-vindas e de agradecimento ao público, a coordenadora do Neabi, Profª Drª Valdenice José Raimundo, destacou entre outros aspectos a resistência do povo negro citando a educadora Monica Oliveira. “Não somos somente dores, somos projetos e sonhos. Não podemos deixar que o racismo defina o lugar que a gente quer ocupar”.  Na sequência Valdenice afirmou:  “Pra isso a gente tem que continuar resistindo. Estamos discutindo o genocídio, mas a gente quer dar visibilidade a resistência da população negra e, em particular, do jovem negro. Essa é a proposta da Semana”.

 

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