Pesquisa realizada por coordenador do curso de Ciência Política lança luz sobre combate à propagação do novo coronavírus
|Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisas Estratégicas em Relações Internacionais e Diplomacia (Iperid) lança luz sobre as políticas públicas que devem ser realizadas no combate ao novo coronavírus no estado de Pernambuco. O estudo, que tem a participação do coordenador do curso de Ciência Política da Católica, o Prof. Dr. Thales Castro, que é também vice-presidente do Iperid, ainda projeta cenários como uma transição gradual do confinamento horizontal, adotado atualmente, para um modelo de confinamento vertical para pessoas com comorbidades, classificadas em grupos de risco e acima de 65 anos. “Nós usamos um modelo que, a partir do dia 4 de maio, poderíamos fazer um afrouxamento dessas regras começando por setores específicos do comércio”, destacou o professor em entrevista ao Boletim Unicap. O estudo foi matéria de capa da revista Algo Mais neste mês de abril.
A pesquisa do Iperid, intitulada Plano Estratégico-Emergencial contra o Coronavírus, estipula três cenários nesta crise, quando o assunto é o número de mortos. Em um ciclo de 13 semanas, dentro de uma política de isolamento social e considerando o primeiro caso no Brasil, no final de fevereiro, projeta 728 mortes. Em um cenário mais otimista, 546 óbitos. Em outro mais pessimista, 910. “A gente imagina que um cenário por volta de 728 óbitos, neste ciclo, traz uma perspectiva de realismo. Nem um cenário apocalíptico, nem de otimismo ou ufanista, que não leva nada a lugar nenhum”, disse Thales Castro. A pesquisa utilizou estudos da organização global J P Morgan e o modelo da calculadora epidemiológica, que dialoga com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS).
“A gente viu muitos estudos catastróficos, em finais de fevereiro, falando em até 84 mil e 300 mortos, é um absurdo. Acho que Pernambuco não terá esse número. Pernambuco é um estado com 9,5 milhões de habitantes e a gente tem um perfil sóciodemográfico bastante diferenciado”, comentou o professor. “Nós usamos essa calculadora e é por isso que chegamos nessa radiografia. E, ao que estamos vendo, está se confirmando. Talvez até um número abaixo do que a gente esperava. Nós casamos esses dados e percebemos que já começamos a atingi-los na semana passada. Ao longo dessa semana, já estamos atingindo o que seria a proximidade do pico e entendemos que até o final do mês teremos esse pico no confinamento horizontal”, completou Thales, ao falar que a radiografia utilizada pela J P Morgan teve como modelo o enfrentamento ao coronavírus na Itália.
Segundo o professor, o estudo do Iperid estipula que a partir do dia 4 de maio comece a ser ajustado o modelo de confinamento horizontal para o vertical, paulatinamente, fazendo uma abertura seletiva e gradual de alguns serviços, como algumas atividades comerciais. “A gente inclusive já ampliou um pouco a data, que antes era 28 de abril para fazer o afrouxamento. Estamos ampliando para o dia 4 de maio. Dia 1º de maio é feriado e, a se a gente afrouxar as regras, pode todo mundo ir à praia, todo mundo passear, viajar e isso aí seria uma catástrofe. A gente preferiu colocar para a segunda-feira, que é 4 de maio. Nós fazemos recomendações para que esse afrouxamento paulatino, gradativo, progressivo, tendo como prazo dia 4 de maio, consiga reativar a perspectiva de segurança de saúde pública, segurança epidemológica com recuperação econômica”.
O estudo, inclusive, foi solicitado pelo Governo de Pernambuco. “Um dos fundadores do Iperid é o secretário de Cultura, Gilberto Freyre Neto, que solicitou o estudo que estamos realizando. Nós estamos em sintonia com dados internacionais e não temos envolvimento político-partidário”, reforçou Thales. “Nós fizemos uma contribuição a pedido para que a gente possa, como entidade independente, contribuir com o debate apresentando o resultado transdisciplinarmente uma radiografia bastante rica para esses debates. Isso realmente mostra a força da sociedade civil colaborando com o Poder Público e trazendo a academia como foco”.
Recomendações e economia – O plano do Iperid projeta o cenário econômico impactado pela pandemia do novo coronavírus e também faz 10 recomendações ao Governo de Pernambuco, a exemplo da construção de um hospital de campanha no Centro de Convenções, em Olinda. “Você já tem uma área preparada e seria uma economia para o estado fazer a gestão e retaguarda de leitos ali”, diz Thales Castro. “Nós também propusemos que o governo do estado abrisse e intensificasse a cooperação internacional. Recife é uma cidade que tem 43 consulados, Recife é a capital consular diplomática do Norte e Nordeste. A gente pede e sugere que se identifique essa cooperação para que o estado de Pernambuco possa trocar boas práticas e troque experiências de saúde e hospitalar.”
Já com relação à economia, o plano do Iperid prevê três prováveis cenários de recuperação econômica de Pernambuco pós pandademia da Covid-19. “O primeiro cenário é de curto prazo, chamado de curva em V. O PIB pernambucano, a atividade econômica caiu bruscamente em virtude do confinamento, mas rapidamente ele se recupera mostrando um V de descida, declínio e de recuperação”, pontua Thales. “O segundo cenário é o de curva em U, onde você tem uma melhora gradativa, meio que em zigude-zague, indo gradativamente até atingir o patamar de crise, da epidemia. E o terceiro patamar, a terceira curva, mostra uma radiografia de recuperação muito lenta no curto prazo em L. Esta é uma recuperação de longo prazo, que realmente mostra os cenários catastróficos de uma depressão econômica e a gente teria uma recuperação em longo prazo”. Segundo o professor, neste último cenário, se tratando de economia, significa qualquer coisa entre 12 e 24 meses, podendo chegar em 30 meses.