Seminário no mestrado em Teologia discute o conceito de Colonialidade/Decolonialidade
|O mestrado em Teologia está promovendo um seminário especial intitulado Descolonialidade e Teologia: trajetórias e perspectivas. A atividade está sendo ministrada pelo Prof. Dr. Sinivaldo Silva Tavares, da Faculdade Jesuíta de Teologia e Filosofia (Faje).
O teólogo trabalha o conceito de colonialidade e descolonialidade elaborados pelo sociólogo peruano Anibal Quijano, pelo semiólogo argentino radicado nos Estados Unidos, Walter Mignolo, e pelo historiador e filósofo, também argentino e radicado no México, Henrique Dussel.
Esses pesquisadores fazem parte do Grupo de Apoio e Reflexão ao Processo de Fórum Social Mundial. Na aula da tarde desta terça-feira (3), Sinivaldo promoveu discussões a partir de textos e comentários veiculados em vídeos de Quijano.
Sinivaldo busca na história elementos para explicar os sistemas de dominação social presentes na América Latina e que hoje atravessam uma crise. “Essa não é a primeira crise do sistema, mas é uma crise peculiar. Pela primeira vez desde o século XV temos uma crise que afeta o sustentáculo político-econômico e cultural desse sistema”, disse ele se referindo ao Capitalismo.
O padre franciscano organizou sua explanação a partir dos tópicos: a Colonialidade do Ser, Colonialidade do Poder e a Colonialidade do Saber. A do Poder gira em torno das construções mentais que visam a legitimação da superioridade.
“Antes da colonização da América os impérios escravizavam os povos dominados por uma questão simbólica de humilhação. Eram chamados de bárbaros. Aqui na América se recorreu, pela primeira vez, à noção de raça para estabelecer superioridade/inferioridade. Eles são humanos (o branco europeu se referindo aos povos nativos e negros africanos), mas são selvagens, são raças selvagens inferiores. Precisamos colonizar, levar cultura, cristianizá-los”, explicou Sinivaldo.
E ele continuou: “A raça foi uma construção mental que dividiu socialmente a força do trabalho que viabilizasse uma exploração visando o lucro e justificasse uma cultura extrativista”.
O pesquisador estabeleceu uma relação do contexto histórico com o momento da distribuição de poder pela atual política internacional.
“A América Latina é uma construção mental. Europa é outra construção mental que não existia antes da conquista. A China estava muito mais próxima da revolução Industrial que a Inglaterra. Os historiadores mostram hoje que que as engenhocas que formavam as máquinas a vapor da Inglaterra vinham da China. Mas o que permitiu que a Inglaterra pudesse comprar essas engenhocas? o acúmulo de capital com todo esse ouro, prata, açúcar. Outra construção da modernidade é a divisão entre Ocidente e Oriente, tanto que nós temos uma visão estereotipada do Oriente”.
Já a Colonialidade do Saber, segundo Sinivaldo, aborda a “autoafirmação” a partir do conhecimento produzido na Europa. “Eles (os Europeus) criaram toda uma linha do tempo em que eles se colocam como herdeiros do pensamento grego chegando até nós. E nós, tupiniquins, continuamos estudante toda a história como ‘os herdeiros dos gregos foram os romanos, os herdeiros dos romanos são os atuais europeus, os europeus fizeram todas as revoluções culturais possíveis’ e nós aqui somos excrecências. Imaginem como isso se dá na Ásia e na África? Culturas multimilenares simplesmente descartadas”.
Sinivaldo chamou a atenção também para a dominação a partir da economia nos dias de hoje. “A Colonilidade hoje é mais sutil. Vejamos o exemplo dos juros altos aqui no Brasil visando atrair investidores para colocar dólares aqui, deixando a vida do povo daqui mais difícil”. Esta é a terceira vez que o teólogo vem a Unicap. A primeira foi em 2015, quando participou de uma mesa do congresso da Associação Nacional de Pós-graduação em e Pesquisa em Teologia e Ciências da Religião (Anptecre).