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Grupo de Pesquisa em Ciências da Religião promove II Colóquio de Religião, Identidade e Diálogo

O Grupo de Pesquisa em Ciências da Religião da Universidade Católica de Pernambuco promoveu nesta quinta-feira (17) o II Colóquio de Religião, Identidade e Diálogo. Os debates tiveram como objetivo discutir os significativos deslocamentos religiosos na atualidade, dando ênfase às várias tentativas de configuração do crente religioso. A primeira mesa teve como tema “Panorama das religiões: rumo ao diálogo?” e foi composta pelos profesores Veronique Donard (Unicap), Ana Lisboa (UFPE) e Léo Falcão (Unicap).

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A professora Veronique Donard deu início ao debate falando a respeito do tema “Do abismo à obra”, analisando a relação da arte com possíveis agonias psíquicas e o surto do artista Antonin Artaud. “Para falar do vínculo entre transtorno mental e criação, usarei o menos possível o termo ‘loucura’. Antonin escreveu em 1925 ‘sou um completo abismo’. Talvez esse seja o maior medo de um artista; cair num abismo e não conseguir retornar. Podemos nos questionar se Artaud teria tido surtos psicóticos se, além de seu consumo de drogas e do fato de ser exilado, ele não tivesse sofrido tratamento de eletrochoques. Em uma cronologia de fotografias de Antonin Artaud, é possível ver explicitamente a destruição que certos tratamentos provocam. Não digo que hoje em dia eles sejam corretamente usados, não quero tocar nesse ponto. Mas na época, era como o filme O Estranho no Ninho. Pouco antes de sua morte, Artaud disse ‘ninguém jamais escreveu ou pintou, esculpiu, modelou, construiu ou inventou senão para sair do inferno'”.

Em seguida, a professora Ana Lisboa mostrou vídeos do trabalho que ela realizou no Hospital Psiquiátrico Ulysses Pernambucano. Com o tema “O imginário religioso nos trabalhos de pessoas em transtornos psíquicos”, os pacientes recebiam papel, tinta e lápis para se expressarem através de seus desenhos, observar as formas de comunicação apesar de transtornos psíquicos e analisar formas de diálogo. “O nosso objetivo era discutir sobre a arte como dispositivo de expressão de pessoas com transtorno mental”, explicou. Nos trabalhos dos pacientes era possível observar a forte presença das crenças religiosas apresentada através de desenhos de cruzes, de Jesus e os trechos da Bíblia escritos nas folhas. “Arte possibilita expressar-se”.

O professor Leo Falcão abordou o tema “Cinema e espiritualidade: questões contemplativas e expressivas”. “Quando eu me interesso por algo, eu lanço o meu olhar; vou criar significados a partir disso, vou acrescentar a minha visão daquilo; eu vou ter minhas próprias interpretações de coisas figuradas. O olhar é um instrumento de percepção e interpretação. O humano pensa por fragmentos; como o ser humano aprendeu a voar? Ele percebeu que quando ele tentava imitar a asa dos pássaros, ele caia. Foi necessário ter noção de voo, noção de propulsão; quando ele consegue reconfigurar isso em um outro dispositivo, ele consegue construir um dispositivo de voo. Isso também é o cinema; a gente forma sentidos para as sequências do filme. A gente enxerga e entende os planos, mas a sequência forma um sentido e o significado vem a partir da forma como a gente vê aquilo ali. Quando penso na questão de espiritualidade, parto para uma experiência pessoal; certas coisas conseguimos interpretar e entender a partir do que acreditamos, porém a catarse também influencia. A catarse transcende a crença. A forma como uma cena, uma fala ou um personagem são apresentados também afeta nossa percepção daquilo. Uma vez eu fui ao cinema e, quando o filme acabou, eu me levantei e me curvei para a tela. Acredito que isso vai muito além de uma crença, a sala de cinema é como um templo pra mim”, contou o professor Leo Falcão.

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