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História Indígena encerra segunda noite da Semea

img_2513“Por que não valorizamos a cultura indígena no geral e a história dos povos indígenas em particular?” A pergunta-tema da palestra de encerramento da programação desta quarta-feira (26) da 1ª Semana de Estudos Amazônicos da Católica (Semea) foi lançada pelo Prof. Dr. Tiago da Silva César. Doutor em História pela Universidade de Córdoba, na Espanha, ele apresentou o que seriam as dez “chaves de explicação” para a questão. A mesa foi coordenada pelo Prof. Dr. Luiz Carlos Luz Marques, membro do colegiado do Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião e coordenador da área de gestão de processos educacionais do Pibid da Unicap.

Tiago buscou nas origens da colonização brasileira o primeiro aspecto para explicar a não-valorização do passado indígena. De acordo com ele, a tradição xenófoba e racista ibérica seria o ponto de partida. “Os primeiros estados na península Ibérica surgiram com a expulsão dos mouros (árabes) e posteriormente dos judeus”. Tiago apontou as diferenças étnicas-culturais entre brancos e índios como outro fator importante. “Os índios não pronunciavam o ‘F’, o ‘L’ e o ‘R’ e ao longo dos séculos foi transmitido que eles não tinham fé, lei ou rei. Os portugueses não demonstraram interesse em entender esses povos do ponto de vista etnográfico”.

A explicação remete ao terceiro ponto: o de que índio não é gente. “Várias teorias circularam vendendo a ideia de que os indígenas não eram descendentes de Adão, teriam sido gerados espontaneamente a partir do calor e da podridão, assim como minhocas e cogumelos”. O historiador também desconstruiu o estigma de que o índio era preguiçoso em sua ‘quarta chave’. “Até o século XVII, a mão de obra escrava majoritária era indígena. O índio foi pau pra toda obra”.

A questão econômica aparece na sequência construída por Tiago. O ‘índio como dono de terras’ começou a provocar conflitos na medida em que a população da colônia aumentava e a mão de obra indígena perdia importância. “A chegada dos negros, o crescimento da população campesina de brancos pobres demandavam mais terras. Por eles serem donos de grandes extensões de terra, isso representava a falsa ideia de um entrave para o desenvolvimento econômico da Brasil”.

Um outro pseudo-entrave aparece na ‘sexta chave’. O professor explicou que a presença indígena era tida como um dificultador civilizacional ao Brasil. “Havia pensadores que defendiam a não mistura de povos, outros eram favoráveis a miscigenação com vistas ao branqueamento para fortalecer a raça brasileira, quer dizer, a extinção indígena”, enfatizou.

img_2515A ‘sétima chave’ é uma resposta central à pergunta inicial. ‘O índio não entra na história escrita’. “Os primeiros historiadores do Brasil não consideravam índios e negros como matrizes da história nacional. A versão lusitana católica prevalecia”, explicou Tiago que, como coordenador do curso de História da Católica, transformou a disciplina de História Indígena de eletiva para obrigatória na grade curricular.

O processo de construção da imagem do índio baseada no ‘bom x selvagem mau’ também teria contribuído para a negação do índio ao longo da história do Brasil. “Podemos ver isso no quadro O Último Tamoio, de Rodolfo Amoedo, em que um índio aparece morto sendo atendido por um branco. Ele resistiu mas não sobreviveu”.

Já a nona chave de explicação seria a ideia de que o índio aculturado não é índio. “Isso vem da matriz Marxista do conceito de subjugação de uma cultura sobre a outra em que aquela cultura que perde tudo da sua cultura para outra deixa de existir, o que não é verdade. Comemos pizza e hambúrguer e nem por isso deixamos de ser brasileiros. Índio que anda vestido é índio. Pra ser índio não tem que ter aquele estereótipo de índio fossilizado de andar nu e fumar cachimbo”.

A ‘décima chave de explicação’ talvez seja a resposta crucial para a atualidade. ‘Interesses Econômicos’. “Esse processo de não dar visibilidade ao índio favorece aos interesses vigentes, a exemplo do agronegócio e da mineração. Essa política da não-valorização facilita para o poder econômico”.

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