As transformações no mundo do trabalho e o sofrimento do trabalhador é tema de palestra na Católica
|Na manhã de sexta-feira (30), aconteceu no auditório G1 da Católica, palestra sobre “As Transformações no Mundo do Trabalho e o Sofrimento do Trabalhador”, ministrada pela coordenadora do curso de Psicologia, Ana Lúcia Francisco. A abordagem enfocou as diferenças entre o trabalhador moderno e o pós-moderno, como a vida no trabalho mudou e quais as consequências dessa mudança.
O trabalho está diretamente ligado à saúde mental do indivíduo e tem um papel fundamental na produção do estilo de vida. O mundo do trabalho impõe o questionamento de alguns aspectos inerentes, tais como, o sentido ou falta de sentido quando o trabalho é fonte de sofrimento, aspectos políticos, jurídicos e éticos, as condições concretas do trabalho e dimensões de prazer e sofrimento. O trabalho é composto de uma “dupla vida”, a vida social e a vida psicológica, afetadas diretamente pelas transformações sofridas ao longo dos anos.
Tradicionalmente, os papéis profissionais eram claramente caracterizados pelas políticas de identidade que se concretizavam através das identidades coletivas. Essa identidade que o trabalho proporcionava entrou em mudança claramente a partir dos anos 2000, mas tradicionalmente, os papéis eram muito bem delineados. Isso significava que a preparação para o exercício de papéis, representada pela educação formal, iria se efetivar pela entrada no mercado de trabalho no qual o indivíduo poderia desenvolver uma carreira que daria sentido à sua história de vida.
Até os anos 1990, o que predominava eram as ideias de emprego fixo, formal, estabilidade, vínculo empregatício e mecanismos de estabilidade social. Hoje esses pressupostos estão sofrendo uma profunda modificação e a questão do trabalho se apresenta como uma incógnita, sobretudo para o futuro. “Eu tenho pessoas jovens ao meu redor, como sobrinhos e alunos e o que eu vejo é um mercado de trabalho fechado para esses jovens. Eles estudam, terminam uma formação e se perguntam o que vão fazer com toda essa formação”, exemplificou Ana Lúcia.
Na atual realidade globalizada e pluralizada surgem mudanças de sentido em todos os setores da vida. Especificamente na área de trabalho, ocorreu a flexibilidade que gerou a fluidez na caracterização dos papéis, que passaram a ser momentâneos. Também surgiram cada vez mais profissionais autônomos, o trabalho passou a ser uma condição de sobrevivência e não mais de satisfação profissional.
“Vivemos em uma situação paradoxal e angustiante: de um lado ainda conservamos a idealização de uma realidade profissional, mas continuamos sendo filhos desse tempo, onde essa idealização mudou”, concluiu Ana Lúcia.
MUDANÇAS PARADIGMÁTICAS
- PARADIGMAS DO SÉC. XIX: sistemas de verdades fechadas, neutralidade dos corpos.
- PARADIGMAS DO SÉC. XX e XXI: verdades relativas e provisórias, caos, diferença, afetação, processo, transformações e devir.
Na sociedade pós-moderna, há uma modificação nos ideais da sociedade, os quais atualmente são:
- Estética do Consumo;
- Satisfação Imediata;
- O céu como limite;
- A sociedade aponta para todas as direções, mas não se fixa em nenhuma delas;
- Cultura performática, narcísica;
- Apagamento dos diferenciais;
- O tempo de existir passa a ser tempo operacional (tempo é dinheiro);
- Esquecimento do passado (ética do esquecimento).
SOFRIMENTO DO HOMEM CONTEMPORÂNEO
- O excesso;
- Súbitas variações de humor;
- Excesso no campo da ação: hiperatividade permanente;
- Excesso no campo do pensamento: esgarçamento dos laços afetivos;
Além disso, a professora Ana Lúcia explicou sobre o estresse e os efeitos no corpo e sobre as possibilidades de lidar com o sofrimento no trabalho.