Curso de Jornalismo da Unicap: 50 anos construindo histórias
|Texto Érica de Paula
O curso de Jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco, criado pelo olindense Luiz Beltrão em 1961, foi o primeiro curso do Norte e Nordeste e o terceiro do país. A comemoração oficial da data aconteceu no terceiro dia do XXXIV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Intercom 2011, com a mesa-redonda: “50 anos de Jornalismo na Unicap”.
A mesa, presidida pelo coordenador do curso, Prof. Dr. Alexandre Figueirôa, reuniu importantes ex-alunos, como o presidente de honra da Intercom, José Marques de Melo, aluno da primeira turma de jornalismo da Universidade. Também estavam presentes o secretário de Imprensa de Pernambuco , Evaldo Costa; a coordenadora do GP Comunicação e Desenvolvimento Regional e Local da Intercom, Salette Tauk; a professora do Departamento de Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco, Maria Luiza Nóbrega; e a presidente do Sindicato dos Jornalistas de Pernambuco (Sinjor/PE), Cláudia Eloi.
Na plateia podíamos ver o reflexo de três gerações. Os jovens alunos que ainda irão fazer grandes descobertas no ramo da comunicação; a maioria dos seus professores; e os ex-coordenadores e professores do curso de jornalismo da Católica. Todos juntos para relembrar os momentos vivido dentro da Universidade. Sem dúvida, uma noite repleta de recordações e emoção. Um dia para ficar na história desta instituição.
No início da solenidade, foi apresentado um documentário sobre os 50 anos do curso, realizado por estudantes do 7º périodo, sob a orientação dos professores Claudio Bezerra e Stella Maris Saldanha. O documentário contou com depoimentos de importantes jornalistas do cenário pernambucano e brasileiro, que estudaram na Universidade em diferentes épocas. Do início, até o périodo negro da ditadura, passando pela redemocratização, e chegando nos dias atuais. “A ideia foi contar as experiências e lembranças que cada um desses profissionais tiveram ao estudar aqui”, explica a professora Stella Maris.
O professor Alexandre Figueirôa abriu a mesa, dando o seu próprio depoimento como ex-aluno: “Na minha época de estudante, nos anos 80, onde eu andava pelos corredores com os cabelos ao vento, jamais imaginei que estaria conduzindo esta mesa dos 50 anos como coordenador do curso de jornalismo. Foi uma ideia brilhante da professora Aline Grego trazer o congresso de comunicação mais importante da América Latina para a nossa Universidade, e assim a gente poder comemorar o aniversário do nosso curso nele”, ressaltou.
Em seguida, o jornalista José Marques de Melo, aluno da primeira turma de jornalismo, em 1961, contou como foram os primeiros anos de curso e a importância que o jornalismo da Católica teve para sua vida. “Chegar aqui há 50 anos representou a concretização de um sonho. Eu já era jornalista na prática, mas a prática é boa para você reproduzir o que já fazem, é necessário aprender coisas essenciais do jornalismo, que só a Universidade ensina. Nós estudávamos em uma salinha pequena e, na época, nós tinhamos dois professores para todas as cadeiras. Luiz Beltrão ensinava as cadeiras jornalísticas e Padre Mosca ensinava as filosóficas. No início, não tinhamos laboratórios, nem máquinas de escrever, mas, o que fazia o curso não era essa precariedade inicial, o que fazia o curso eram as ideias. O curso de jornalismo fundado por Luiz Beltrão se tornou conhecido no Brasil inteiro pela cultura humanística que ele passava para os alunos”, conta Marques de Melo.
Já o secretário de Imprensa do Governo de Pernambuco, Evaldo Costa, lembrou o período que ingressou na Universidade, e destacou a importância de ter professores que estevam no dia a dia dos jornais para a formação dos alunos. “Lembro bem que quando entrei na Universidade 1986, o curso de jornalismo havia instalado uma revolução cultural na sociedade pernambucana. A universidade proporcionava um centro de debate acadêmico, de cultura e, ao mesmo tempo você encontrava com os profissionais que estavam no batente. O Brasil superava a ditadura e entrava em um novo contexto. No 4º período, eu já era um profissional. Minha turma inteira foi recrutada pelo Jornal do Commercio, que passava por uma crise. Quem se forma aqui, sai respeitado, admirado e procurado pelo mercado de trabalho. Tenho a convicção diária de que foi aqui onde aprendi tudo para ser o profissional que sou hoje. Quem passa por aqui, nunca esquece”, enaltece.
A professora Maria Salett Tauk também relembrou momentos na Universidade e citou muitos colegas que estão hoje no mercado de trabalho, e nas pesquisas acadêmicas em comunicação.”Estamos aqui para narrar e louvar algumas histórias que construíram a história dessa instituição paradigmática, que é o curso de jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco. Instituição que tive o privilégio de fazer parte como aluna e como professora. Faço parte da terceira geração de alunos do curso criado por Beltrão, geração que enfrentou o grande desafio de aprender a fazer jornalismo driblando o autoritarismo dos anos de chumbo. Era uma questão de resistência ideológica, mas também de resistência para salvaguardar nossa integridade física. Em meio a tantas narrativas, permanecem dois sentimentos comuns a todos que tiveram o privilégio de passar por esta casa: a gratidão e o espírito de luta. Sentimentos que guardaremos por mais, pelo menos, cem anos”, enfatiza.
A professora da Universidade Federal de Pernambuco Maria Luiza Nóbrega destacou a importância do curso de jornalismo e afirmou com satisfação como é sempre bom voltar à casa.”Resgatar 50 anos de Jornalismo na Unicap implica não apenas em traçar memórias do curso, mas em analisar o que estes 50 anos representaram para o jornalismo no Nordeste e, de uma certa forma, também no Brasil. O pioneirismo da Universidade Católica semeou na imprensa e nos meios acadêmicos regionais uma multiplicidade de profissionais que, com diferentes habilidades e uma formação comum, trouxeram uma nova feição ao jornlaismo. Daqui saíram professores e profissionais que semearam em vários campos as lições aqui aprendidas. O que faltava em condições práticas, sobrava no desdobramento dos professores e no convívio divertido dos nossos bandos a conversar nos corredores e desafiar a paciência dos mestres na sala de aula. Tenho o mais profundo carinho pela Unicap e, mesmo tantos anos depois, continuo me sentindo em casa cada vez que venho aqui. Daqui saíram os meus melhores amigos e a lembrança dos tempos em que as dificuldades eram apenas um detalhe. Bom ter vivido aqui e poder voltar aqui sempre com a mesma alegria”
Outro importante momento na mesa foi a presença da presidente do Sindicato dos Jornalistas de Pernambuco, Cláudia Elói, que veio parabenizar e reforçar a importância da formação do jornalista. “O Sindicato dos Jornalistas se sente honrado em poder participar desta solenidade que marca os 50 anos da criação do curso de jornalismo da Universidade Católica. Para nós este momento se reveste de um significado simbólico todo especial. Hoje jornalistas de todo o país travam por meio dos sindicatos e da Federação Nacional dos Jornalistas -FENAJ, um combate sem trégua junto ao Congresso Nacional para que o poder legislativo devolva à categoria o direito da exigência da formação superior em jornalismo para o exercício da nossa profissão. Reforça nosso argumento o fato de que desta casa saíram e por certo continuarão a sair profissionais que orgulham nossa categoria pela excelência do trabalho que desenvolvem, seja nos diversos veículos de imprensa no Estado ou de outras regiões do país. Desejamos longa vida aos cursos de jornalismo em todo o país, em especial aquele que nesta casa hoje celebra meio século de vida. E agradecemos em memória ao pioneiro professor Luiz Beltrão a iniciativa e o trabalho em prol da qualidade na formação dos profissionais jornalistas. Que essa chama permaneça acesa, sempre”.
O secretário de Comunicação da Prefeitura do Recife, Eric Carrazzoni, também ex-aluno da Unicap, destacou que sentia imenso orgulho por ter se formado em Jornalismo na Católica e lembrou que seu pai é professor da Universidade. Ressaltou, ainda, que a Unicap é responsável pela formação de dezenas de profissionais que estão espalhados pelas redações e assessorias de imprensa dos vários estados brasileiros, particularmente Brasília, a exemplo de Ricardo Noblat, Gerson Camarotti, Ana Dubeux, entre muitos outros.
Antes do encerramento da solenidade com a entrega dos prêmios para os ex-coordenadores do curso, o Reitor, Padre Pedro Rubens, destacou a emoção de ver como o curso de jornalismo marcou tão profudamente a vida de tantas pessoas. “A grandeza deste curso marcou definitivamente a vida das pessoas. Fico emocionado em ver a inquietude permanente em fazer o amanhã. Esses testemunho que tivemos hoje reforçam a nossa razão de existir. Existimos porque temos um futuro para realizar. A comunicação não é uma questão secudária, ela é fundamental”, encerrou.