Boletim Unicap

Olga Sodré faz lançamento de livro do pai no Intercom Unicap 2011

Você pode até não concordar com a opinião ou o método dele. Mas, é certo, se seu campo de pesquisa tiver como tema a história da comunicação no Brasil, é quase obrigação a leitura do clássico “História da imprensa no Brasil”, do historiador e jornalista Nelson Werneck Sodré. Na noite de hoje (5), a filha do escritor, a também historiadora Olga Sodré relançou o clássico publicado, agora, pela Intercom em parceria com a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). O lançamento foi realizado no Salão Receptivo da Unicap durante as atividades do Publicom.

O livro é um verdadeiro presente para os amantes da história da imprensa. A obra,  que foi publicada em virtude das comemorações do centenário de nascimento do autor este ano, tem a apresentação de Olga e comentários da historiadora do Intercom a professora Marialva Carlos Barbosa.

Com uma elegância singular, a filha de Nelson Werneck conversou com o Boletim Unicap e revelou aspectos curiosos do convívio com o pai. Filha única, ela se diz a “obra prima” do autor.

Influência do pai

Eu me formei em psicologia e filosofia, tenho doutorado nas duas áreas. Mas, meu campo de estudo é dedicado à psicologia histórica. Foi Sodré que me formou enquanto pesquisadora. Quando eu estava no 1º ano do curso de administração da Fundação Getúlio Vargas (FGV), por exemplo, já desenvolvia pesquisas em institutos nacionais. O mesmo e deu nas minhas experiências no exterior. Eu trabalhei na Unesco, na França. Fui uma das responsáveis, no começo da década de 70, por introduzir os estudos da psicologia histórica na Sorbonne.

Rejeição da obra de Sodré por alguns pesquisadores

A partir da década de 70 houve uma reação na academia brasileira em relação às pesquisas e o método marxista. Essa resistência no mundo intelectual se deve, sobretudo, a este pensamento. Muitas pessoas não respeitam o método utilizado por um pesquisador. O Sodré foi um grande marxista. Eu mesmo oriento trabalhos e dou a liberdade para meus alunos escolherem o marxismo. Eu não sou marxista, mas dou esta opção por acreditar que a teoria é um caminho. Cada um deve trilhar seu próprio caminho. O que importa, neste caso, é desenvolver bem o método e trazer a contribuição necessária ao mundo acadêmico. Esse percurso é independente de escolas teóricas.

Rotina de Sodré em casa

Ele vivia lendo. Meu pai foi um intelectual em tudo o que fazia. A leitura dos jornais que ele fazia é bem diferentes da minha. Ele lia, recortava, comparava a mesma notícia em diferentes publicações. Ele também era detalhista, sempre comentava o estilo dos repórteres que escreviam as matérias. Sodré fazia questão de acompanhar isto diariamente. Ao lado disso, era uma pessoa que constantemente estudava. Não estava satisfeito com o obvio. Meu pai teve o privilégio de viajar por todo o país conhecendo diversos pensadores e arquivos históricos. Graças a este esforço foram mais de 60 livros publicados e mais de 1,3 mil crônicas em jornais. Este ano a obra dele começa a entrar em locais que tinham uma certa resistência, como a Academia Brasileira de Imprensa (ABI). Ele ficaria muito feliz em saber que o seu trabalho não foi em vão.
História da imprensa no Brasil

Este é um livro que é considerado uma das obras primas de Sodré. Foram 30 anos de estudos para sua publicação, em 1960. Ele foi o pioneiro na época no método que via a imprensa como um documento, um registro importante para o pesquisador. Foi nesta mesma época que os intelectuais viam os jornais como uma fonte inferior. Mas, acredito que meu pai só teve este pensamento por conta da dinâmica da época. Os intelectuais se comunicavam com mais facilidade. A minha casa era repleta de pessoas que faziam cinema, como os pioneiros do Cinema Novo. Oscar Niemeyer, Dias Gomes foram grandes amigos do meu pai.

print
Compartilhe:

Deixe um comentário