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10ª Semana da Mulher da Católica apresenta painel sobre a Saúde Mental da Mulher

A 10ª Semana da Mulher na Católica promoveu na manhã desta quarta-feira (7), véspera do Dia Internacional da Mulher, o painel “A Saúde Mental da Mulher: Alcoolismo , Depressão e Violência, repercussões na vida familiar”. Coordenado pela professora Irinéa Catarino, do curso de Psicologia, o painel aconteceu no auditório G1, 1º andar do bloco G, das 9h às 11h, e teve como palestrantes o psicólogo Gilberto Lúcio da Silva e a médica psiquiatra Jandira Barros Saraiva. A mesa foi composta ainda pela coordenadora do painel, professora Irinéa Catarino, e pelo Pró-reitor Comunitário, Padre Lúcio Flávio Cirne.

Após a abertura dos trabalhos pela professora Irinéa Catarino, Jandira de Barros Saraiva, que é médica psiquiatra, especialista em Dependência Química, terapeuta comunitária e diretora técnica da Assessoria e Assistência Terapêutica em Saúde, iniciou sua apresentação sobre depressão, baseada no texto do Prof. Dr. José Alberto Del Porto ( Unifesp/2009).

Inicialmente, a psiquiatra abordou a definição de depressão. “É uma doença sistêmica, crônica, que afeta o organismo como um todo, manifestando-se através de sintomas físicos e psíquicos, das relações do indivíduo com o ambiente em que se insere, em sua capacidade de trabalho e nos vínculos pessoais.”

Em seguida, a palestrante elencou alguns dados sobre a doença, segundo a Organização Mundial da Saúde, OMS.

  • É uma das principais causas de incapacidade social;
  • É um problema de Saúde Publica, com prevalência de 17% para população em geral, 21% para mulheres, 12% homens, na razão de 2 a 3 mulheres para 1 homem;
  • 50% a 80% dos pacientes que recebem tratamento para um episódio depressivo irão apresentar outros episódios ao longo da vida com duração média de 20 semanas;
  • Custo sócio/econômico é alto. É a terceira causa mais importante de incapacitação social, com prejuízo da qualidade de vida;
  • Paciente internado por doenças clínicas apresentam prevalência entre 22% a 35% de quadros depressivos. Assim, a depressão é importante para os médicos generalistas, psiquiatras, psicólogos e todos os profissionais da área de saúde;
  • Multifatorial-biológico, sociocultural e ambiental. Existente ao longo dos séculos, com maior prevalência nos dois últimos séculos.

Na sequência, a psiquiatra falou sobre como diagnosticar um episódio depressivo, segundo critérios do Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais, DSM IV, ou o Código Internacional de Doenças, CID X, considerando a inclusão de cinco ou mais sintomas, em um tempo mínimo de duas semanas.

  1. Humor depressivo na maior parte do dia. Em crianças e  adolescentes, o humor pode ser irritável.
  2. Diminuição acentuada de interesse ou prazer em todas, ou quase todas, as atividades, na maior parte do tempo.
  3. Perda ou ganho de peso.
  4. Insônia ou hipersonia quase diariamente.
  5. Agitação ou retardo psicomotor (observável).
  6. Fadiga ou perda de energia, quase todos os dias.
  7. Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva e inapropriada.
  8. Diminuição da capacidade de pensar, de se concentrar ou tomar decisões.
  9. Ideias de autoeliminação.

Doutora Jandira alertou para o fato de que os sintomas não devem decorrer do uso de drogas ou medicamentos, ou doenças clínicas (depressão secundária). Outro ponto abordado foram os fatores de risco para o suicídio e a prevenção das ocorrências.

  • Idade e Gênero: taxas mais elevada entre idosos; picos na adolescência; homens têm maior prevalência (abuso de álcool e outras drogas, maior impulsividade comportamental, maior acesso a métodos mais letais, menor suporte social, menor aceitação de cuidados médicos e psicológicos, etc.);
  • Antecedentes de tentativas de suicídio;
  • Diagnóstico psiquiátrico prévio;
  • Doenças físicas concomitantes e que causem incapacitações;
  • História familiar de suicídio;
  • Falta de suporte social e familiar.

Seguindo, a psiquiatra mostrou os fatores de proteção contra o risco de suicídio.

  • Ausência de transtorno mental;
  • Estar empregado;
  • Presença de crianças em casa;
  • Ser responsável pela família;
  • Gravidez;
  • Fortes Crenças Religiosas;
  • Suporte social e familiar;
  • Habilidades para lidar com problemas;
  • Nível de satisfação com a vida (sentir-se realizado, feliz, ter esperanças, etc.).

A palestrante explicou o que se entende por melancolia, como depressão maior, e distimia. “Pelo DSM IV, o termo designa aquelas formas de depressão caracterizadas por perda de interesse e prazer por todas ou quase todas as atividades, falta de resposta a estímulos agradáveis; alteração circadiana do humor; de forma pior pela manhã; despertar precoce; alterações psicomotoras acentuadas; anorexia; sentimentos inapropriados de culpa, geralmente com características psicóticas, delírios de ruína e culpa e alucinações. Associam-se a fatores genéticos, alterações polissonográficas, resultados positivos de supressão do cortisol pela dexametasona. A distimia corresponde aos estados depressivos menos acentuados, porém duradouros, com mínimo de 2 anos, que fazem com que a pessoa esteja deprimida na maior parte dos dias, sem intervalos livres maiores que dois meses. Pode ter início precoce, antes dos 21 anos. Muitos desses estados sobrepõem-se ao que se chamava em outras classificações, de “depressões neuróticas” ou “personalidade depressiva”, com alusões à etiologia, nem sempre justificadas. Acarreta prejuízos sociais e profissionais, em função da cronicidade.”

Já para o tratamento da depressão, Dra. Jandira apresentou o planejamento segundo as fases do modelo de Kupfer.

  1. Fase Aguda: inclui os 2 ou 3 primeiros meses. Objetiva a remissão dos sintomas, ou redução acentuada deles. Quando não ocorre, novas estratégias devem ser adotadas (troca ou combinação de medicações, medidas psicossociais de apoio incluindo familiares, métodos de estimulação cerebral, etc).
  2. Fase de Continuação: Período que vai do terceiro até sexto ou nono mês. Objetiva manter a melhora conseguida. Em caso de novo episódio nesse período, fala-se em “recaída”.
  3. Fase de Manutenção: visa a evitar recorrências (novos episódios depressivos). Instituir um tratamento de manutenção sempre que o paciente apresentar tendência a recorrências.
  4. Estima-se que o tratamento de continuação por, no mínimo 6 meses reduz o risco de recaídas em 50%.

Para a psiquiatra, os estudos controlados mostram que a Psicoterapia Cognitiva e Cognitivo-comportamental; Psicoterapia Interpessoal e a Psicoterapia como foco na resolução de problemas e treinamentos de habilidades sociais são eficazes para o tratamento de pacientes deprimidos, em particular nos com depressão leve e moderadas. Depressões mais graves, sobretudo com características melancólicas, o uso de antidepressivos é amplamente apoiado.

Finalizando sua participação, a Dra. Jandira falou sobre se o uso de antidepressivos pode aumentar o risco de suicídio em adolescentes. “Como grupo os inibidores seletivos da recaptação da serotonina, ISRS, são mais eficazes que o placebo, no tratamento dos adolescentes. O que apresentou maior eficácia foi à fluoxetina. O uso de ISRS não aumenta as taxas de suicídio entre adolescentes, o uso adequado previne”, concluiu.

O tema seguinte “Violências e uso, abuso e dependência de drogas em mulheres” foi apresentado pelo psicólogo Gilberto Lúcio da Silva, do Tribunal de Justiça de Pernambuco e do Centro de Apoio Operacional das promotorias de justiça da infância e adolescência e 2º vice-presidente da Associação Brasileira do Estudo do Álcool e Outras Drogas.

Ele começou falando que a violência não é causada pela droga. Ele mostrou uma relação entre as condições necessárias: exposição ao uso como fator propiciador, versos as condições suficientes: aumento da possibilidade em presença do uso. Como exemplo, o palestrante falou que os acidentes não são causados pelo celular. Suas condições necessárias são: exposição ao uso, igual ao número de vezes, tempo da ligação, etc. e as condições suficientes são: o aumento da possibilidade, igual a interação entre uso do celular e a frequência de acidentes e sua gravidade.

Continuando, o psicólogo elencou as tendências na sociedade brasileira sobre a violência.

a)       Crescimento da delinquência urbana, em especial dos crimes contra o patrimônio (roubo, extorsão e sequestro), e de homicídios dolosos (voluntários).

b)       Emergência da criminalidade organizada, em particular em torno do tráfico internacional de drogas, que modifica os modelos e perfis convencionais da delinquência urbana e propõe problemas novos para o direito penal e para o funcionamento da justiça criminal.

c)        Graves violações de direitos humanos que comprometem a consolidação da ordem política democrática. Exemplo = situação das unidades de cumprimento de medida socioeducativa (violência institucional).

d)       Explosão de conflitos nas relações intersubjetivas, mais propriamente conflitos de vizinhança (proximidade) que tendem a convergir para desfechos fatais.

Exemplificando, Gilberto falou da confluência de violências, sobre o estupro coletivo, em Queimadas-PB, no dia 12 de fevereiro deste ano: “Dez pessoas, entre elas três adolescentes, foram indiciadas pelo estupro de cinco mulheres e pela morte de duas delas em uma festa de aniversário, em Queimadas (141 km de João Pessoa). A motivação do crime era apenas a vontade de praticar sexo proibido. A recepcionista Michele Domingos da Silva, 29 anos, e a professora Isabela Frazão Monteiro, 27, foram mortas porque reconheceram os acusados durante o estupro.”

“A Polícia Civil viu contradições com relação aos bens que eles declararam possuir, os irmãos suspeitos de organizar a noite de terror possuem carros importados e um patrimônio que não é compatível com o trabalho que eles realizam. Uma das linhas de investigação da polícia é a possível ligação dos irmãos com um dos maiores traficantes do país, o carioca Antônio Francisco Bonfim Lopes, o ‘Nem da Rocinha’, cuja família também teria raízes na região de Queimadas e que por muitos anos comandou o tráfico de drogas na favela. O narcotráfico já está entre nós”, revela.

Outro exemplo é a violência disfarçada, como no caso do Big Brother Brasil, BBB. “Será que eu fiz?” “Monique ficou embriagada durante uma festa. Debaixo de um edredom, Daniel agarrou a estudante. A polêmica começou depois que telespectadores disseram no Twitter que ela poderia ter sido vítima de estupro. ‘Estupro de pessoa vulnerável’, previsto no Artigo 217, CPB. o crime não precisa necessariamente ser denunciado pela vítima. Basta o Ministério Público entender que a vítima estava de fato alcoolizada, para entrar com a ação penal, independentemente da vontade dela”, explica.

Na questão da frequência de consumo de álcool entre adolescentes, o palestrante falou que meninos e meninas consomem bebidas alcoólicas com frequências semelhantes. Cerca de dois terços de adolescentes de ambos os sexos são abstinentes. Mas quase 35% dos adolescentes menores de idade consomem bebidas alcoólicas ao menos uma vez ao ano.

Foram apresentados dados importantes sobre a relação consumo e dependência, como 76,3 milhões de pessoas apresentam algum problema devido ao uso do álcool; 1,8 milhão de mortes são causadas pelo álcool; 11,2% dos usuários são dependentes do álcool.

Em relação ao consumo e violências, Gilberto disse: “Embora o consumo pesado de álcool esteja concentrado em um pequeno grupo de bebedores, graus leves de hábitos, abuso ou dependência estão largamente distribuídos na população e são responsáveis pela maioria dos problemas relacionados à violência, com implicações significativas na saúde pública.”

  • Homicídios ocorridos entre 1990 e 1995, na cidade de Curitiba = 53,6% das vítimas e 58,9% dos autores dos crimes estavam sob efeito de bebidas alcoólicas no momento da ocorrência criminal. Duarte e Carlini-Cotrim, 2000;
  • 4.8% de todas as mortes na América do Sul podem ser anualmente atribuíveis ao álcool. WHO, 2004;
  • Estar alcoolizado aumenta a chance de violência sexual, seja para o agressor seja para a vítima. Zaleski e Silva, 2011;
  • Vítimas de violência têm probabilidade de duas a cinco vezes maior de terem o teste de Blood Alcohol Concentration (BAC) positivo do que as vítimas de outras causas. Zaleski e Silva, 2011;
  • Alguns prejuízos estão associados à intoxicação e ao beber regularmente entre os jovens, destacando-se dentre eles os acidentes automobilísticos e a maior exposição à violência sexual. Pechansky, 2004.

Em seguida, o tópico abordado foi o de álcool e trânsito.

  • Do total de 831 vítimas de acidentes de trânsito não-fatais, atendidas em serviços de emergência e institutos médico-legais de Brasília, Curitiba, Recife e Salvador, houve positividade da alcoolemia em 61,4% dos casos. Nery Filho e cols., 1997;
  • O consumo de bebidas alcoólicas entre adolescentes mostrou-se associado a atitudes que expõem o jovem a riscos, como dirigir alcoolizado e pegar carona com indivíduo alcoolizado. Pechansky e cols., 2004;
  • Impacto da Lei nº 11.705 (“Lei Seca”) = redução de 24.545 (-23,2%) internações por acidentes de trânsito, decréscimo de 17,4% na frequência mensal de internações hospitalares por acidentes de trânsito na rede credenciada ao SUS entre os meses de junho e dezembro de 2008. Malta e cols., 2010.

O crack também foi abordado. Um estudo com 131 usuários da droga, em São Paulo, durante cinco anos, detectou duas tendências: aumento dos índices e abstinência ao lado do aumento dos sintomas de mau prognóstico, tais como mortes, prisão e desaparecimento.

  • Excesso de mortalidade = 21,6 mortes por 1.000.
  • Razão de mortalidade entre os usuários do estudo e a população de SP foi quase 8 vezes maior.
  • Mais da metade das mortes foi por homicídio. Ribeiro e cols., 2007.
  • 70% dos usuários de crack morrem de causas não naturais, sendo as mais frequentes as mortes por homicídio (56,6%), overdose (8,7%) e afogamento (4,3%).  Ribeiro e cols., 2007.
  • Presença de antecedentes criminais em dependentes de crack é variável relacionada a mais sintomas de ansiedade, de depressão e a fissura mais intensa. Guimarães e cols., 2008.
  • A percentagem de jovens com comportamentos delinquentes é maior entre os que tinham feito uso de maconha no último ano do que entre aqueles que não a utilizaram. SAMHSA, 2004.
  • A associação com relação ao comportamento delinquente tende a ser mais forte para o uso da maconha do que para o uso do álcool ou do tabaco. O uso de álcool, tabaco e maconha precede o uso de outras drogas e a prática de infrações. Martins e Pillon, 2008.
  • Os delitos contra o patrimônio – predominantes entre as infrações praticadas – costumam ser motivados pela compra de mantimentos (11%), de bens de consumo que transcendem as necessidades básicas de um indivíduo (33%) e para a compra de drogas (22%).  Muller e colas., 2009.
  • Na busca da droga, o adolescente quase simultaneamente envolve-se com o grupo de pares e com os atos infracionais, como uma forma de ter dinheiro, não só para a droga, mas também para suprir as suas necessidades básicas. Penso e Sudbrack, 2004.

Continuando, o palestrante apresentou os modelos ideais de vida de um casal.

  • Ideal do amor romântico = valores da complementariedade, cumplicidade e dedicação, projetos e interesses comuns. Conflito = fidelidade x traição.
  • Ideal da relação igualitária = valores do diálogo, do respeito, da compreensão, da harmonia e da independência. Conflito = sinceridade x liberdade.

Finalizando, Gilberto falou da violência doméstica, sexual e outras.

  • 20% das visitas por trauma ao departamento de emergência e 25% dos homicídios de mulheres envolviam violência entre parceiros íntimos (VPI). Shafer et al., 1998.
  • Índice de violência de parceria de homens contra mulheres variou de 17 a 39% em casais brasileiros. Lipsky et al., 2005.

“Indivíduos que sofreram violência grave na infância ou na adolescência tiveram três vezes mais exposição ao uso abusivo de álcool e quatro vezes mais ao uso de drogas ilícitas que aqueles que nunca sofreram violência nas etapas iniciais da vida. Uso = busca do entorpecimento para a dor.”

“Ausência, precariedade ou inadequação da rede de suporte clínico e social. Rede (in)existente x Especificidade do tratamento: Não existe tratamento único e ideal para transtornos mentais e dependência química. Rede preconizada x Importância de um sistema de serviços que atenda a diversidade de problemas (saúde física e mental, situação social, familiar, profissional, conjugal, criminal, etc.)”, finalizou.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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