O CONCEITO DE “CIVILIZAÇÃO” NA CONFLUÊNCIA DO POLÍTICO E DO RELIGIOSO
UMA ANÁLISE DE SEMÂNTICA HISTÓRICA
DOI:
https://doi.org/10.25247/paralellus.2022.v13n32.p009-027Parole chiave:
Civilização, Cristianismo, Política, Religião, História dos ConceitosAbstract
No Brasil, os vínculos duradouros entre o religioso e o político resultaram num constructo nacional que, no decorrer do século XIX, não pode dispensar o catolicismo como elemento de coesão social e fundamento da comunidade política que então se organizava. Este processo implicou reconfigurações profundas do religioso em reposta às transformações operadas em outros planos, bem como nas suas articulações recíprocas com o político, o social e o cultural, que foram acompanhadas por aceleradas mutações conceituais, expressivas da singular experiência brasileira da secularização. Do ponto de vista da semântica histórica, um dos conceitos que mais fortemente expressou as transformações em curso foi o de “civilização” que, na retórica ultramontana veiculada no Brasil da segunda metade do século XIX, assumiu uma conotação marcadamente católica e antiliberal, sintetizada no binômio “civilização-cristianismo”. Assim, com base no ferramental teórico-metodológico da História dos Conceitos – cujo mérito principal tem sido explorar a profunda articulação entre história e linguagem - o presente artigo busca analisar a trajetória semântica do conceito de civilização no discurso sociopolítico veiculado no Brasil do século XIX, de forma a explorar o sucedido com o léxico político em seus vínculos com a religião. Mediante tal abordagem, espera-se restituir à sua historicidade uma configuração semântica – bem como a materialidade à qual nos reporta –, não raras vezes tomada com certa naturalidade neste país.
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