NA BUSCA PELO QUE RESTA: INTERFACES CRÍTICAS ENTRE MEMÓRIA & TESTEMUNHO A PARTIR DO MARTÍRIO DA COMUNIDADE JESUÍTA DE EL SALVADOR
Palavras-chave:
Memória, Teologia da Libertação, Martírio, Giorgio Agamben, El SalvadorResumo
Esse artigo tem como objetivo compreender a narrativa do martírio da comunidade jesuíta da Universidade Centro Americana José Simeon Cañas (UCA) em El Salvador, ocorrido em 1989, a partir de um referencial teórico crítico sobre a “memória cultural”, perguntando-nos pelo que resta desta memória, confrontando-nos com distintos discursos sobre as recordações do martírio e construindo caminhos e estratégias de profanação ante histórias e narrativas colocadas como espaços para contemplação. Os principais referenciais teóricos desse estudo são: Jon Sobrino (1938-), Maurice Halbwachs (1877-1945) e Giorgio Agamben (1942-). O “resto” é a “contração do tempo”, não o que sobra, ou o que permanece para ser transmitido para outras gerações. O “resto” é um entre, o que não pode ser enquadrado, domesticado, um hiato discursivo que se instaura na própria língua em que se testemunha em confronto às classificações do arquivo. Como estrutura, o artigo se organiza da seguinte forma: i) a apresentação da teologia do martírio elaborada por Jon Sobrino, desde o assassinato da comunidade jesuíta da UCA; ii) o levantamento de algumas reflexões sobre memória tomando como referência Maurice Halbwachs e Giorgio Agamben; e iii) a articulação entre a teologia do martírio com o referencial teórico sobre memória construído neste texto.
Data de submissão: 25-08-2016. Aprovado em: dezembro de 2016.
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