O ESPÍRITO E A LETRA DO FUNDAMENTALISMO PROTESTANTE
Palavras-chave:
Protestantismo. Século XIX. EUA. Seminário de Princeton. Brasil.Resumo
Em diálogo com a teoria dos campos de Pierre Bourdieu, este artigo assume que a compreensão do fundamentalismo protestante, na condição de fenômeno religioso com desdobramentos sociais, passa necessariamente pela compreensão do campo no qual ele se fez (o conservadorismo protestante nos EUA do século XIX) e contra o qual emergiu (a modernidade secularizada). O objetivo proposto afirma que a apreensão dos sentidos do fundamentalismo não pode se restringir à investigação das ocorrências nas primeiras décadas do século XX – por exemplo, a publicação da Bíblia de Scofield e da coletânea The Fundamentals –, pois, embora identitárias, não são o ato de fundação do movimento. A hipótese discute que há um fundamentalismo avant la lettre, ou seja, um espírito (ou mentalidade) anterior ao próprio nome de batismo. Segundo os procedimentos de uma pesquisa qualitativa, que leva em conta a interpretação de fontes bibliográficas primárias ligadas à Velha Escola do Seminário de Princeton (locus privilegiado do fundamentalismo avant la lettre), conclui-se que: (1) a concepção da teologia da infalibilidade bíblica não deve ser tomada como subproduto direto da Reforma Protestante do século XVI; (2) a teoria da evolução foi alçada à condição de adversária da ortodoxia protestante desde as primeiras repercussões às obras de Charles Darwin (e não somente no século XX); (3) parte significativa do movimento missionário estadunidense saiu do Seminário de Princeton, cujo ideário se espalhou pela ação de agentes pastorais que estudaram lá e foram enviados por suas igrejas a vários países do mundo, inclusive o Brasil.
Data de submissão: 20-05-2016. Aprovado em: novembro de 2016.
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