Foto: Andréa Rêgo Barros/PCR/Divulgação
Na última terça-feira, 28/06, o Pe. Henrique (torturado e assassinado durante a ditadura militar) foi homenageado em Recife com um busto na Praça do Parnamirim, na Zona Norte da Cidade, por iniciativa da Prefeitura do Recife e da Comissão Estadual da Memória e da Verdade. A ação relembra o Dia Internacional de Luta Contra a Tortura, instituído no dia 26 de junho de 1987.
Auxiliar direto de dom Helder Câmara – que, à época da ditadura os militares rotulavam de “arcebispo vermelho” –, o padre Antônio Henrique Pereira da Silva Neto foi torturado até a morte, no Recife, entre a noite e a madrugada de 26 e 27 de maio de 1969. O crime teve o objetivo claramente político de tentar barrar, através da violência física indireta, o arcebispo nas suas ações e pregações em defesa da liberdade. Esse crime que devastou sua família e, nunca esclarecido, parecia cair no esquecimento para sempre. O assassinato do padre Antônio Henrique, ocorrido em maio de 1969, é o primeiro caso investigado em Pernambuco pela Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Câmara.
Segundo o padre José Ernanne Pinheiro, assessor da CNBB, declarou, em sessão pública da Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Câmara, no auditório da Ordem dos Advogados do Brasil em Pernambuco, que o assassinato do padre Henrique foi uma tentativa da repressão de calar os dois segmentos mais atuantes da sociedade pernambucana naquele momento: a Igreja Católica e o movimento estudantil. Na época, o padre Ernanne era o vigário-geral da Arquidiocese de Olinda e Recife e acompanhou todos os ataques e a pressão sofrida por dom Helder e seus principais assessores e amigos.
“A morte do padre Henrique era um ataque indireto a dom Helder. Além disso, Henrique cuidava da Pastoral da Juventude e tinha muita influência entre os estudantes, o que também incomodava. Não tenho nomes para acusar por esse fato, mas está claro que se tratou de um crime político”, avaliou padre Ernanne. Para o religioso, a Comissão da Verdade cumpre uma tarefa primordial dentro do processo de registro histórico brasileiro. “As próximas gerações precisam conhecer seus heróis. Esperamos que essa comissão, a nacional e as demais que estão surgindo nos outros Estados, contribuam para isso”, frisou.
Em seu depoimento, padre Ernanne esclareceu que dentro da própria Igreja Católica existiam correntes adversas e que bispos e padres colaboraram com a repressão. “Em Pernambuco, sob o comando de dom Helder nos posicionamos ao lado da democracia e dos excluídos”, completou.
Para o advogado Pedro Eurico, relator do caso Padre Henrique na comissão, o depoimento reforçou o entendimento de que vários setores da sociedade pernambucana sujaram as mãos de sangue durante a ditadura. “Não era apenas a Polícia e as Forças Armadas que estavam na vanguarda desse movimento. Muitos civis se engajaram na repressão e se beneficiaram disso posteriormente”, concluiu.
Para conhecer mais sobre o Padre Henrique, acesse Ciências da Religião Unicap.