Os 500 anos da reforma protestante, celebrados por cristãos de diversas igrejas em 31 de outubro, foram lembrados também na Universidade Católica de Pernambuco com a realização de um congresso internacional nos dias 8, 9 e 10 de novembro. Trazendo o tema “A herança da reforma: ler e reler a reforma, passados 500 anos de seu início”, o evento contou com a participação de religiosos, professores, especialistas e interessados em conhecer a história e debater a herança deixada pelo movimento tanto no cristianismo como nas demais religiões e culturas.
Parte do Projeto Internacional de Pesquisa “A herança da reforma“, o congresso no Recife teve a presença ecumênica do CONIC e a palavra inter-religiosa do Fórum Diálogos, foi organizado pelas graduações e pós-graduações em Ciências da Religião e em Teologia da UNICAP, sob direção dos professores Newton Cabral, Luiz Carlos Marques, Carlos André Cavalcanti e Riccardo Burigana. Contou com três conferências (sobre Igrejas sempre em Reforma, Convergências da crítica teológica ao Sistema Mundial emergente no século XVI, Ética em Lutero), várias mesas temáticas organizadas por professores que estudam os movimentos da reforma pelo mundo (com destaque para a presença de colegas vindos do Istituto di Studi Ecumenici di Venezia, das PUCs do Rio, Goiás e Minas, da EST, UMESP, FAJE, FUV e UFPB) e, principalmente, sessões concomitantes de Grupos de Trabalho articulando comunicações científicas.
O Grupo de Pesquisa Espiritualidades, Pluralidade e Diálogo, do qual o nosso Observatório faz parte, organizou o seu GT em duas tardes plenas de debates. A pretensão, conforme enfatizou o professor Gilbraz (veja a sua comunicação por aqui), foi de aproveitar as releituras da reforma protestante para testar o nosso referencial teórico: em que medida as ideias de História como interpretação engajada, de Complementariedade nos “entre-lugares” culturais, e de uma Lógica do “terceiro incluído”, que temos utilizado e revisado na pesquisa e engajamento da gente, podem ajudar a repensar a reforma em termos mais complexos e para além dos paradoxos do seu processo. E também aquilatar como as lições dessa revisão histórica podem aportar sabedoria para a compreensão atual da diversidade eclesial e religiosa e para a promoção do diálogo intercultural e inter-religioso, para o reconhecimento humano da experiência de fé e o exercício do respeito à diversidade de suas expressões.
Se bem interpretada, a herança da reforma protestante e de um cristianismo em reforma, com os cristãos se reconciliando pela prece da unidade e pelo serviço comum e misericordioso às vítimas do tempo e pela abertura acolhedora ao espírito dos novos tempos, aporta um testemunho significativo para o diálogo entre culturas e religiões. A união na diversidade assinala, sobretudo, a necessidade e possibilidade de outro modelo de pensamento, que permita lidar com a realidade que está entre e além das contradições históricas.
Publicado originalmente em Observatório Transdisciplinar das Religiões.