UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO, 75 ANOS: GÊNESE E EVOLUÇÃO
|Por Dr. Newton Darwin de Andrade Cabral – Professor da Graduação em História e do Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião
A reconstituição da história da UNICAP remete ao ano de 1917, quando, em atendimento a uma solicitação do então arcebispo, Dom Sebastião Leme, os Jesuítas, depois de longa ausência, voltaram a atuar no Recife e criaram o Colégio Nóbrega. Com o passar dos anos, visando à continuidade do trabalho com os acadêmicos, sobretudo os egressos do referido colégio, os Jesuítas solicitaram ao MEC fundar uma Faculdade de Filosofia destinada aos rapazes, uma vez que, na cidade, já existia uma para as moças. O pleito tornou-se realidade a partir de 18 de abril de 1943, quando foi criada a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Manoel da Nóbrega.
Autorizada pelo Decreto nº 12.042, de 23 de março de 1943, começou a funcionar com os cursos de Filosofia, Física, Matemática, Química, História e Geografia, Letras Clássicas e Letras Neolatinas. Alguns cursos autorizados pelo mesmo decreto posteriormente iniciaram suas atividades.
Sua incorporação à futura Universidade Federal de Pernambuco chegou a ser cogitada, em 1946. Embora o intento não se tenha concretizado, na continuidade das atividades, os Jesuítas receberam a Faculdade de Ciências Econômicas, que também funcionava desde 1943. O Decreto nº 19.851, de 11 de abril de 1931, então vigente, regulamentava a constituição de novas universidades; para tanto, exigia a existência de, no mínimo, três faculdades: obrigatoriamente uma de Filosofia e outra de Direito, Engenharia ou Medicina; não havia determinações sobre a terceira.
Havendo as faculdades de Filosofia e Economia para atender às exigências legais, iniciaram-se negociações com a Escola Politécnica de Pernambuco que, embora fundada em 1912, ainda não estava incorporada ao sistema universitário. As vantagens recíprocas oriundas da agregação ensejaram numerosas reuniões que conduziram à fundação da Universidade Católica de Pernambuco, no dia 27 de setembro de 1951. Nascia a primeira universidade católica do Norte-Nordeste e a quarta do país.
Inicialmente muito pequena, a Universidade vivia uma atmosfera de proximidade entre seus membros e funcionava nas dependências do Colégio Nóbrega. Negociações conduziram à compra de terrenos de antiga associação desportiva pertencente ao colégio, o que ensejou o início da construção, lenta e contínua, dos prédios do campus. Em 1959 foi fundada a Faculdade de Direito, cujos alunos, em pouco tempo, passaram a constituir a maior parcela do corpo discente da instituição, situação que ainda perdura.
Em 1960, em meio a um contexto de mudanças nos âmbitos da sociedade civil e da Igreja, a Universidade implantou três institutos e aconteceu a agregação da Escola de Enfermagem Nossa Senhora das Graças; em 1961, foi implantado um curso autônomo, pioneiro no Nordeste – Jornalismo. Portanto, para a UNICAP, a década se iniciava com um conjunto grandioso: três faculdades, três institutos, um curso autônomo e duas escolas agregadas.
Em 1961, a universidade assumiu o patrimônio e a direção do Lyceu de Artes e Ofícios, instituição com relevantes serviços prestados a Pernambuco. Contando com grande valor histórico, sua sede própria, inaugurada em novembro de 1880, é um imponente prédio de estilo arquitetônico clássico, localizado na Praça da República.
A universidade crescia, apesar de também sofrer perdas. Em fevereiro de 1967, a Escola de Enfermagem resolveu desligar-se da UNICAP e, em outubro do mesmo ano, desligou-se a agregada fundadora: a Escola Politécnica. Nos dois casos, não se concretizara satisfatoriamente a aquisição de verbas através do sistema universitário. Tais saídas sinalizaram a existência de solidez na universidade, pois essa continuou sua trajetória sem alteração de rumos, com normalidade e constância.
Depois das desagregações, três eram as faculdades que, respondendo às exigências do já citado decreto de 1931, garantiam a sustentação da UNICAP: Filosofia, Economia e Direito, uma vez que os institutos existentes não funcionaram como unidades independentes.
Em 1968, a universidade adquiriu o Colégio Arquidiocesano. Em suas dependências, foi instalado, a partir de 1970, o Colégio de Aplicação Pe. Abranches, extinto alguns anos depois.
A decretação do AI-5, no final de 1968, ocasionou uma sucessão de medidas de “fechamento” em diversas instituições no país afora e atingiu a UNICAP. Em sua estrutura administrativa existia, naquela época, o cargo de vice-reitor, criado em 1962, mas exercido, de fato, entre 1966 e 1971. Em julho de 1969, o então Vice-reitor substituía o titular quando foi efetivado. No universo católico brasileiro, pela primeira vez, um reitor leigo era nomeado para uma universidade jesuíta. Tal efetivação é passível de várias interpretações acerca do seu significado.
No princípio de 1971, assumiu a reitoria um sacerdote da Diocese do Crato (CE), que, já há algum tempo trabalhava na UNICAP. Embora o Brasil vivesse uma fase de crescimento, a primeira tarefa-desafio do novo reitor foi o enfrentamento de uma crise financeira que tomava dimensões até antes desconhecidas na universidade.
A crise tinha como fatores principais compromissos assumidos pela administração descentralizada e a substancial redução na receita pública. No bojo da crise, a universidade recebeu a visita de um assessor econômico do Padre Geral da Companhia de Jesus. Em tal visita, propôs-se uma reestruturação da UNICAP que conduzisse a uma centralização. A referida crise começou a ser superada, recorrendo-se a um empréstimo bancário vultoso, resgatável em quatro anos.
Em conformidade com a Lei Educacional de 1971, procedeu-se, em 1972, à reestruturação orgânica das unidades fundamentais da UNICAP. Os departamentos, que tinham sido iniciados em 1968, através de delegação de poderes na Faculdade de Filosofia, foram efetivamente implantados em 1970 e passaram a ser agrupados em quatro centros: o de Teologia e Ciências Humanas (CTCH), o de Ciências Sociais (CCS), o de Tecnologia e Ciências Exatas (CTCE) e o de Educação (CE). Posteriormente foi extinto o de Educação e o CTCE passou a ser Centro de Ciências e Tecnologia (CCT). Também, em 1972, foram criadas três pró-reitorias: a Acadêmica, a Administrativa e a Comunitária. Estas três pró-reitorias foram as mesmas até janeiro deste ano, quando, em uma reestruturação efetivada, continuaram a Administrativa e a Comunitária, e a Acadêmica foi desmembrada em duas: a Pró-reitoria de Graduação e Extensão e a Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação. Quanto aos três centros suprareferidos, posteriormente foram acrescentados os de Ciências Biológicas e da Saúde, e o de Ciências Jurídicas. Também a estrutura de departamentos não mais existe; atualmente funcionam coordenações de cursos. Ainda nas mudanças de 1972, instituiu-se o sistema de créditos. No mesmo período de reformas, criou-se o Ciclo Básico, até há pouco existente.
Ultrapassando dificuldades e em meio a elas, a universidade dava sinais de expansão. Assim, nos anos setenta, foi inaugurada a capela, que propiciou a existência, no próprio campus, de seu lugar privilegiado para a vivência de momentos mais fortes de oração e celebrações. No mesmo período, foi inaugurado mais um dos grandes blocos, o D, e iniciado outro de ainda maior porte, o G, além do R, menor, destinado à administração. Foram construídos novos laboratórios em diversas áreas.
Naquela década, houve ampliação do número de cursos e, fazendo jus a sua adjetivação, a Católica passou a ministrar componentes curriculares de Teologia em todos os cursos; hoje, eles correspondem às disciplinas de Humanismo e Cidadania, e Humanidade e Transcendência.
Para intensificar o relacionamento com a comunidade, criou-se, em 1974, a ASTEPI (Assessoria de Treinamento, Estágio, Pesquisa e Integração), vinculada ao então Departamento de Ciências Jurídicas. Ainda hoje, ela presta serviços de assessoria jurídica gratuita a pessoas comprovadamente carentes, em sua sede, no campus, e em núcleos existentes em bairros periféricos da cidade do Recife.
Em 1976, implantou-se uma Coordenação Geral de Pós-graduação para administrar as especializações. Na mesma linha, a universidade se inseria, ao final da década, no Programa de Capacitação Docente, em convênio com a CAPES.
Em 1978, um jesuíta voltou a ocupar o posto maior da universidade após nove anos de ausência. O quadro nacional, então complexo, teve reflexos na vida da universidade e a escalada inflacionária rapidamente se fez perceber. Se antes a prática instituída era a da anuidade, depois sucedida pela da semestralidade, rapidamente se passou à mensalidade. A delicada situação era reforçada pela constante diminuição das subvenções recebidas de Brasília. Se, em 1969, o auxílio governamental totalizava 53% do total das receitas, em 1979 ele representava apenas 8%. Queda tão abrupta colocava a universidade em maior dependência para com as mensalidades dos alunos que, por sua vez, consideradas as carências da região, faziam esforços enormes para sobreviver às dificuldades do quadro nacional.
No princípio de 1984, uma lei aprovada na Câmara de Vereadores do Recife transformou um trecho da Rua Bernardo Guimarães, entre as ruas Afonso Pena e General Simeão, em “rua de pedestre”. Tal modificação implicou duplo benefício: a redução do barulho que dificultava as condições requeridas para as diversas atividades e o aumento da segurança para a comunidade que cotidianamente se desloca entre os diversos blocos cujas localizações são divididas por aquela artéria. Além disso, com a desativação do antigo restaurante universitário, instalaram-se barracas para o serviço de lanches. Assim, recebeu a denominação de “rua de lazer” e se tornou uma referência como ponto de encontro e congraçamento dos membros da comunidade universitária, sobretudo dos estudantes.
Ainda no campo das construções, nos anos oitenta, foi inaugurado um novo prédio de quatro pavimentos, com 5.694 m² de área construída: o da Biblioteca Central. Tal construção, a partir de um projeto arquitetônico de grande beleza, proporcionou a prestação dos atuais serviços. Quanto ao seu acervo, segundo dados de 11 de abril deste ano, os 198.000 títulos e 541.000 exemplares, fazem dela a maior biblioteca de uma universidade, entre as existentes nas regiões Norte e Nordeste do país. Ainda nas intervenções no ambiente físico, procedeu-se à reurbanização do campus; à ampliação das áreas de estacionamento; à construção de quadras esportivas polivalentes e à restauração de um velho prédio no qual foi implantado o Centro Cultural, espaço onde passaram a acontecer mostras artísticas, exposições, lançamentos de livros, coquetéis e outros eventos do interesse da comunidade.
A realização de tal conjunto de obras, sobretudo após a conclusão do prédio da biblioteca, permitiu que, à exceção do grande anexo do bloco G, conhecido como G-4, estivesse concluído o núcleo central de um campus universitário dotado de perfil nitidamente vertical – majoritariamente encravado na Boa Vista, um dos bairros centrais do Recife. Ele constitui um dos mais concentrados dentre os espaços universitários do país, o que facilita a locomoção e a vivência do dinamismo inerente a uma instituição de ensino superior.
Além das construções e para dar-lhes sentido, uma vez que os recursos humanos constituem o coração de uma instituição, o reitor implementou um embrião do que viria a ser o processo de capacitação docente intensificado na década seguinte. Para isso, realizaram-se programas de pós-graduação – nível de especialização – em diversas áreas de ensino; aperfeiçoou-se o Núcleo de Informática e Computação e ampliaram-se as instalações da Gráfica Universitária.
Em 1982, iniciaram-se as pesquisas arqueológicas da UNICAP no município pernambucano de Brejo da Madre de Deus. As pesquisas ali realizadas têm permitido o levantamento de importante conjunto de informações, cujas análises vêm possibilitando interessantes conclusões acerca da ocupação humana na América do Sul, da vida do homem brasileiro na pré-história e da adaptação dos seres humanos ao semiárido nordestino. Na esteira dessa atividade, a universidade criou, em 1987, o seu Museu de Arqueologia.
Em 1986, primeiro ano de um novo reitorado (o do Pe. Theodoro Peters), foram implantados os laboratórios de Microinformática, no qual passaram a acontecer atividades práticas de diversos cursos. No ano seguinte, enfatizou-se o enriquecimento do acervo da Biblioteca Central e a expansão dos computadores e equipamentos a eles relacionados. Em 1988, foi reativada a atividade Fórum Acadêmico, da ASTEPI, visando a capacitar alunos estagiários na formação de processos, sobretudo em audiências simuladas. O desenvolvimento dessa atividade alcançou tão grande dimensão, que ensejou a celebração de convênios com tribunais de justiça, de forma a não serem mais as audiências apenas uma simulação, o que marcou, na área, o pioneirismo da UNICAP no estado de Pernambuco, definitivamente consolidado com a posterior construção e instalação de um moderno Fórum Universitário.
Preocupada com a sua visibilidade em um mundo cada vez mais identificado por símbolos que carregam em si uma identidade e remetem a toda uma significação, ainda em 1986, implantou-se a nova marca da UNICAP: a silhueta da pomba-trocaz. Trata-se de uma ave de voo possante, que vive em bandos e é uma das maiores pombas brasileiras, muito frequente no Nordeste, onde recebeu o nome de asa-branca e foi imortalizada em conhecidas peças do cancioneiro popular da região. A escolha reflete a identidade de uma universidade nordestina e, simultaneamente, remete ao desejo e à busca de, renovando horizontes de visão e atuação, colocar o conhecimento a favor da vida e a serviço de uma cultura da paz. Além disso, ligada aos valores do cristianismo, a escolha do novo símbolo remete a um terceiro significado, pois evoca uma das imagens do Espírito Santo (Lc 3, 22).
Ao final dos anos 1980, em decorrência dos trajetos até então empreendidos, a universidade apresentava-se consolidada. No começo da década de 1990, a universidade já contava com um conjunto de edificações satisfatórias e adequadas ao seu pleno funcionamento. Era chegada a hora de direcionar as energias para a qualificação do ensino e institucionalização da pesquisa. Em 1991, a então Coordenação Geral de Pesquisa e Pós-graduação realizou uma pesquisa sobre Capacitação Docente na UNICAP, visando a detectar o interesse dos professores em participar de cursos de pós-graduação. Tal sondagem serviu para balizar os sucessivos pedidos de licença, os quais eram analisados a fim de se compatibilizarem os interesses apresentados pelos docentes e seus respectivos cursos com os da universidade e com a disponibilidade de recursos requeridos para cada caso.
Considerando a qualidade dos programas oferecidos, numerosas universidades passaram a ter professores da UNICAP integrados ao corpo discente de suas pós-graduações; entretanto, ocorria maior incidência de procura, no Brasil, pela Federal de Pernambuco e, no exterior, pela Universidade de Deusto, na Espanha, devido à existência de um convênio de capacitação docente celebrado entre aquela universidade e universidades jesuíticas da América Latina. Os esforços empreendidos conduziram a um corpo docente qualificado, conforme atestam os dados de hoje: de um total de 476 docentes, 91% são mestres e doutores e, destes, mais de 44% são doutores.
No mesmo ano de 1991, a UNICAP instituiu o primeiro de um dos seus mais significativos eventos anuais: a Semana de Estudos para Docentes. Realizada sempre nos primeiros dias do mês de fevereiro, ela constitui um fórum de debates através do qual os professores se congregam entre si e com os administradores; continuam sua formação; participam do planejamento e organização das atividades pedagógicas; refletem sobre o papel de uma Universidade Católica, Jesuítica e Nordestina na sociedade brasileira e no mundo. Há alguns anos passamos a ter dois momentos de encontro/formação docente – no início de cada semestre letivo – aos quais foi incorporado o pessoal técnico-administrativo.
Na Semana Docente de 1995, deu-se a culminância de um processo de elaboração coletiva da Carta de Princípios da UNICAP. Proclamada e aprovada pela comunidade, tem servido como constante referência para as decisões tomadas.
Ainda em 1991, a UNICAP sediou o I Seminário de Universidades pela integração Brasil-Argentina. Ao encontro referido, outros se sucederam. Na mesma temática de integração latino-americana e no âmbito da Companhia de Jesus, a UNICAP é membro da Associação das Universidades Confiadas à Companhia de Jesus na América Latina – AUSJAL. Em decorrência, iniciou-se, em 1996, um Programa de Intercâmbio de Estudantes entre a UNICAP e outras universidades da AUSJAL. Vários outros convênios e acordos de cooperações técnica, científica e cultural têm sido celebrados pela UNICAP com instituições nacionais e do exterior. Aliás, a internacionalização é uma das pautas atuais da UNICAP.
Em 1992, iniciaram-se as atividades do Núcleo UNICAP de Apoio aos Movimentos Populares – NUAMPO – que, atuante durante muitos anos, favorecia ações de integração dos movimentos populares e, em algumas de suas atividades, trabalhava em parceria com entidades da sociedade civil. Sua área de abrangência atingia várias comunidades carentes do Recife, as quais assessorava em questões referentes à urbanização e à legalização do solo urbano e melhoria das condições habitacionais, trabalhando com grupos de mulheres e idosos e implementando pesquisas sociais. Na mesma perspectiva de abertura a segmentos múltiplos da sociedade, em 1995 foi realizada a I Semana de Estudos sobre a Terceira Idade, evento repetido nos anos seguintes. A partir deles teve origem o atual “Fórum sobre questões do envelhecimento”, que conta com bem elaborada agenda semestral, desdobrada em eventos mensais. Outras significativas atividades de inclusão são marcantes, a exemplo do “Projeto Horizonte”, que trabalha com portadores da Síndrome de Down.
Embora vivenciando uma fase em que a ênfase vinha recaindo sobre a capacitação dos recursos humanos e a abertura das fronteiras da universidade, o campo das construções físicas não foi abandonado. Uma quarta e última etapa do bloco G, também com nove pavimentos, começou a ser gradativamente ocupada a partir de 1994. A conclusão do G-4 representou acréscimo de mais de 6.300 m² à área construída do campus.
Objetivando a produção de indicadores que revelem o perfil e a situação de cada curso dentro da universidade, a UNICAP, paulatinamente, vem vivenciando um processo de avaliação institucional. Nessa caminhada, evidenciando o pioneirismo do nosso Centro de Teologia e Ciências Humanas, saíram à frente os Departamento de Filosofia e Educação quando introduziram dinâmicas de reuniões conjuntas entre professores e estudantes e, em seguida, incentivaram seus alunos a responderem questionários cujas respostas eram tabuladas e discutidas em encontros docentes internos. Em decorrência, passaram a revisar seus projetos pedagógicos.
Enquanto a UNICAP se colocava na rota da avaliação institucional, implementando o PAIUB (Projeto de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras), a CAPES e a Secretaria de Ensino Superior do MEC incentivavam as instituições a elaborarem amplos programas a serem aprovados pelo Ministério. Assim, internamente, procedeu-se à transformação do Projeto de Avaliação Institucional, que estava ganhando vida, em Programa de Avaliação Institucional da UNICAP, que passou a atuar em 1995. O PAI-UNICAP era referência permanente na consulta de dados e no fornecimento de subsídios auxiliares para a execução de políticas de planejamento e aperfeiçoamento da instituição.
O amadurecimento conquistado bem como a abertura a numerosas atividades, conduziram a UNICAP a, em 1998, implantar uma Assessoria de Pesquisa e Iniciação Científica (ASSEPES) diretamente vinculada à Reitoria. Com ela instituiu-se, no mesmo ano, o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica que ainda é mantido, com um número expressivo de bolsistas financiados pela própria instituição. Além dele, capta bolsas de Iniciação Científica no CNPq e os docentes podem buscá-las via FACEPE. Os números de hoje são por demais eloquentes: entre bolsistas pagos pela UNICAP, pelo CNPq e voluntários, são 372 alunos, destacando-se que todos recebem igual assistência dos orientadores e participam das Jornadas anuais de Iniciação Científica.
A existência da ASSEPES viabilizou a implantação de um programa institucional de pós-graduações na UNICAP: foram pioneiros os mestrados de Psicologia Clínica e de Fonoaudiologia – este último com caráter interinstitucional, realizado em convênio com a PUC/SP –, aos quais outros vêm sucedendo paulatinamente.
Em 1999, a UNICAP assinou um convênio com a Prefeitura do Município do Rio Formoso, na região da Mata Sul do estado de Pernambuco, para a execução do Projeto de Desenvolvimento Sustentável daquele município. O programa objetivava, prioritariamente, implementar os desenvolvimentos científico e tecnológico em um município nordestino, de modo a se constituir referência em tal integração. Funcionando a partir de convênio com a Fundação AVINA Group, da Suíça, ocasionou o estabelecimento de parcerias com diversas entidades nacionais. Em três anos de duração, significou uma experiência pioneira na qual uma instituição de ensino superior assumiu a execução de ações globalizadas em todos os setores vitais de um município com aproximadamente 20.000 habitantes, a partir de um planejamento que considerasse as especificidades da área. O projeto mobilizou a comunidade universitária e deixou o município com um saldo significativo de intervenções.
A chegada de um novo milênio veio, no Brasil, quanto à educação superior, acompanhada das consequências de uma política ministerial que possibilitou a abertura de um sem-número de novas instituições, o que implicou concorrência com IES que se dedicam apenas às atividades de ensino e acarretou dificuldades para as instituições cujos amplos serviços oferecidos demandam maior dotação orçamentária. A UNICAP sente os reflexos dessa situação na diminuição quantitativa de seu corpo discente, embora conte com programas de bolsas de estudo (próprios e governamentais) para alunos carentes, e, na medida do possível, renegocie compromissos anteriores quando os estudantes não conseguem saldá-los a contento.
Apesar do quadro nem sempre favorável da conjuntura nacional, a UNICAP cresceu qualitativamente. Em março de 2001, inaugurou duas novas construções modernas e funcionais: a sede do Núcleo de Prática Jurídica da ASTEPI e o anteriormente referido I Fórum Universitário do Recife. O mesmo mês de março de 2001 assinalou o marco inicial da Empresa Júnior da UNICAP, criada com o objetivo de oferecer uma complementação prática ao aprendizado teórico adquirido pelos alunos, proporcionando-lhes contato com a realidade do mercado e da sociedade. Com natureza multidisciplinar, abrange alunos de todos os cursos de graduação.
Sinalizando crescimento, diversificação e inserção em distintos níveis de atuação social e em diversas áreas do saber, a universidade tem celebrado convênios a fim de possibilitar intercâmbios nos campos do ensino, da pesquisa e da extensão e aperfeiçoar os seus recursos humanos e tecnológicos. No ano de 2006 tomou posse o atual reitor, que deu continuidade aos processos anteriores, celebrando numerosos convênios de cooperação técnica e de intercâmbio e cooperações educacionais, em âmbitos nacionais e internacionais. Em tal perspectiva, têm destaque o Projeto Criança Esperança e o início das atividades da Fundação Fé y Alegria. Também foram criados o Instituto Humanitas/UNICAP e a Cátedra da Unesco Dom Helder Camara de Direitos Humanos. Na atual gestão, novos eventos foram incorporados ao calendário escolar, como a Jornada de Portas Abertas e o Católica In. Também foram efetuadas intervenções no ambiente, todas reveladoras do “cuidado com a casa comum”: a reestruturação e humanização do jardim principal, a inauguração da Clínica de Fisioterapia e Terapia Ocupacional e a remodelação da capela do campus – visando a uma atualização litúrgico-espacial, na perspectiva ecumênica –, além de importantes obras de manutenção e embelezamento das fachadas dos blocos A, B e D.
Como coroamento de tantas ações conjuntas, a UNICAP busca intensificar seus programas de pós-graduação. Requerendo a realização de sucessivas pesquisas, eles revitalizam o conjunto universitário, o que incide na melhor qualidade das graduações e no crescimento da inserção da universidade na comunidade. Assim, temos hoje 2 mestrados profissionais, 7 mestrados acadêmicos e 4 doutorados, destacando-se que o Programa em Ciências da Linguagem já atingiu a nota 5 (CAPES MEC). A pós-graduação também incrementa o campo das produções técnica, científica e cultural. Estes dados evidenciam o quanto tem sido forte, no atual reitorado, o incremento das atividades de Pós-graduação e Pesquisa.
Desde os seus primeiros anos, a universidade se ocupou em possuir sua revista oficial, a exemplo da inicial, depois extinta, revista Verdade e Vida. Em janeiro de 1997, foi reestruturada a Comissão Editorial da UNICAP, que regularizou a periodização da revista Symposium, também não mais existente. Hoje, as revistas são majoritariamente criadas e mantidas pelos programas de Pós-graduação – a exemplo da Paralellus, do Programa em Ciências da Religião, da Fronteiras, do Mestrado em Teologia, e da História Unicap, do Mestrado em História – além de existirem revistas no âmbito de cursos de graduação, como é o caso da Ágora Filosófica, do Curso de Filosofia (os exemplos dados ficaram restritos ao Centro do qual faço parte: o de Teologia e Ciências Humanas (CTCH). Vários docentes/pesquisadores publicam e/ou organizam livros e outros trabalhos em diversos órgãos, solidificando a tradição de divulgar os resultados das pesquisas efetuadas.
Ainda como destaques do atual reitorado, enfatizamos a criação do Curso de Medicina, a implementação do Ensino à Distância – que recebeu nota máxima do MEC e abre novas fronteiras para toda a Universidade – a criação da Escola de Negócios, o incentivo às Licenciaturas e o fato de a UNICAP dar continuidade, em outra formatação, à instituição da qual é filha – o Colégio Nóbrega – ao assumir o Liceu e contribuir com o atendimento a mais um importante setor da educação: o do ensino médio.
Além de tantos aspectos mais diretamente ligados à sua natureza acadêmica, a UNICAP, comprometida com a espiritualidade do fundador da Companhia de Jesus, busca estar em sintonia com as transformações verificadas no mundo, para proporcionar aos seus membros a vivência e a expressão de suas manifestações de fé, solidariedade e fraternidade. A Divisão de Ação Pastoral, hoje uma das dimensões do Instituto Humanitas, busca traduzir e atualizar essa preocupação, realizando atendimentos pessoais, proporcionando orientações humana e espiritual e realizando muitas atividades que acontecem durante todo o ano.
Igualmente significativas são as iniciativas da Coordenação de Esportes, pois englobam múltiplas modalidades através das quais se atualiza a exigência posta pelo adágio latino mens sana in corpore sano.
Também são fundamentais, na dinâmica que compõe o conjunto de áreas de abrangência, as múltiplas atividades artístico-culturais existentes, como os grupos MPB UNICAP, Madrigal Lindbergh Pires e o Grupo de Capoeira Chapéu de Couro. A vivência de atividades nesta área é antiga, uma vez que desde a primeira Faculdade aconteciam eventos marcantes, a exemplo da “Canjicada filosófica”. Por muito tempo também foi atuante o TUCAP (Teatro da Universidade Católica de Pernambuco), que montou e apresentou inúmeros espetáculos, além de terem sido célebres, a ponto de integrarem os calendários turísticos da cidade do Recife, os “Festivais de Inverno da UNICAP”.
Ao longo dos anos, novos cursos foram criados e alguns extintos, como é praxe das instituições de ensino que se adequam às demandas científicas e sociais. Nessa descrição panorâmica, não se procedeu ao registro de todas as alterações ocorridas. Tampouco foi possível mencionar/comentar todas as atividades, contínuas ou pontuais, que integram ou fizeram parte do dinamismo de seu cotidiano.
A UNICAP é uma instituição cujo variado leque de atividades, desenvolvidas ao longo de sete décadas e meia, vem marcando positivamente sua presença no panorama universitário. A credibilidade que conquistou e a confiança de que desfruta refletem sua importância para a cidade do Recife, para Pernambuco e para o Nordeste.
Neste ano de 2018, precisamente hoje – 18 de abril – quando completa seu jubileu de diamante, contabilizando setenta e cinco anos de serviços como Instituição de Ensino Superior, essa reconstituição da gênese e da evolução da UNICAP permite afirmar que a sua história registra a autoafirmação de uma instituição que aspira à busca de melhor qualidade e a concretiza sem esquecer o propósito de sua autotranscendência. Os dois movimentos são efetuados em meio a muitas limitações.
Todavia, se as limitações fossem impedimento para evolução, a UNICAP seria apenas a lembrança de um sonho que se tornara realidade efêmera. Não foi esse o caso. Exercendo papel inestimável em toda a região Nordeste, nossa “jovem septuagenária” universidade se afirma no presente enquanto se projeta para o futuro. Os compromissos com a verdade libertadora e a promoção da vida perpassam sua trajetória. A projeção de sua continuidade encontra raízes no denodo e no dinamismo de todos que, alicerçados na fé, a sonharam no passado, conduziram-na no tempo e a compõem na atualidade. A sua história é conduzida por forças que extrapolam os idealismos humanos, embora os inspirem e deles façam uso.
APÊNDICE
Quadro dos reitores com respectivos períodos de gestão
NOME | PERÍODO |
– Pe. Francisco Tavares de Bragança, SJ | Setembro 1951 – Janeiro 1957 |
– Pe. Aloísio Mosca de Carvalho, SJ | Janeiro 1957 – Janeiro 1966 |
– Pe. Geraldo Cursino de Freitas, SJ | Janeiro 1966 – Julho 1969 |
– Prof. Potyguar de Figueiredo Matos | Dezembro 1969 – Janeiro 1971 |
– Mons. Rubens Gondim Lóssio | Janeiro 1971 – Janeiro 1978 |
– Pe. Antonio Geraldo Amaral da Rosa, SJ | Janeiro 1978 – Janeiro 1986 |
– Pe. Theodoro Paulo Severino Peters, SJ | Janeiro 1986 – Janeiro 2006 |
– Pe. Pedro Rubens Ferreira Oliveira, SJ | Janeiro 2006 – … |
Recife, 18 de abril de 2018