Teologia em Diálogo debate a abolição da escravatura no Brasil
|O último encontro deste semestre do projeto “Teologia em Diálogo” tratou do tema Abolição da Escravatura: 13 de maio ou 20 de novembro. O evento teve a participação de integrantes do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Neabi). Promovido pelo Instituto Humanitas Unicap e o curso de Teologia, o encontro contou com a mediação do coordenador do Neabi, PadresClóvis Cabral.
Os movimentos negros do Brasil não mais comemoram o dia 13 de maio como sendo uma data de libertação da escravatura, pois não consideram que essa conquista foi alcançada apenas com a assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel em 1888, mas festejam o 20 de novembro, dia da morte de Zumbi dos Palmares, denominando-o “Dia da Resistência Negra”, por achar que esse fato é mais digno de comemorações.
Como na maioria das leis que são aplicadas no Brasil, as duas linhas da Lei Áurea eram precisas e pareciam que iam revolucionar a nossa sociedade: “É declarada extinta desde a data desta Lei a escravidão no Brasil. Revogam-se as disposições em contrário”. Com essa ação, o nosso futuro seria diferente. O fim da escravidão nos daria um período de festa, alegria, igualdade e próspero. Cento e vinte cinco anos depois, o cenário prometido naquele monárquico pedaço de papel envelheceu como o próprio. Onde nós erramos nesse caminho? Foi de fato naquele momento que a abolição aconteceu? Essas perguntas foram debatidas pelo Padre Clóvis Cabral.
“A escravidão não foi abolida pela Lei, mas apenas houve uma substituição na forma de subjugar os negros. Os nossos jovens negros são tratados pelos policiais como os escravos eram tratados pelos capitães do mato, caminhamos por mais de um século, mas a situação permanece a mesma”, ressaltou Padre Clóvis, relatando também a questão de a cor negra ser a dominante nas camadas sociais mais pobres.
O Conceito de Democracia Racial – pensamento que defende a existência pacífica e igualitária entre as etnias formadoras da sociedade brasileira – foi criticado por Padre Clóvis, ao afirmar que os negros no Brasil são excluídos das camadas mais altas e colocados como pessoas de categoria inferior. Para ele, é preciso olhar os outros e vermos o rosto de Jesus, com um olhar não elitista, mas que busca enxergar o sofrimento, a dor e as necessidades dos povos menos favorecidos.
O professor do curso de Teologia Artur Peregrino falou ao Boletim Unicap sobre a importância do evento. “Esses momentos possibilitam um aprofundamento de questões atuais e fundamentais para nossa comunidade. O Teologia em Diálogo conversa com todos os cursos da Universidade, convidando-os à participarem de uma conversa ampla e plural”, afirmou ele.