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Tania Bacelar analisa tendências da economia e pós-graduação em aula inaugural

Um debate sobre as perspectivas, tendências e avanços na pós-graduação marcou a aula inaugural dos mestrados e doutorados da Universidade Católica de Pernambuco neste semestre 2017.1. O ponto de partida para as discussões foi uma palestra ministrada pela economista e consultora da Ceplan, Profª Drª Tania Bacelar. Ela também falou sobre a PEC Nº 55, as mudanças no contexto geopolítico mundial e a atual fase do capitalismo.

O contexto histórico a partir do século XX norteou a explanação de Tania. De acordo com ela, as mudanças políticas no Brasil, do Golpe Militar de 1964, passando pela redemocratização até a globalização não interferiram no projeto econômico brasileiro que acrescentou a indústria ao modelo agrário. “Os governos militares mantiveram o projeto industrial , mas fortaleceram a produção de commodities. Terminamos o século passado como a oitava maior economia do mundo. No entanto, a concentração de renda fez o Brasil se tornar o terceiro país mais desigual do planeta, perdendo apenas para as ‘potências’ de Honduras e Serra Leoa”, ironizou.

A economista atribuiu tais resultados à forma como a economia brasileira  foi aberta para a globalização, na década de 1990, os efeitos do Plano Real e seu câmbio fixo até 1999. “Tivemos um grande impacto na indústria e um reforço ao rentismo”. Ainda de acordo com Tania, o rentismo marca a atual fase do capitalismo global que antes tinha sua força na produção e agora alcança lucros a partir do capital financeiro a partir de investimentos em bolsas, ganhos com juros, mercado de capitais . “Hoje é possível ganhar bilhões sem gerar um único emprego”.

Tania relacionou a atual fase do capitalismo às tendências do século XXI, que já dão sinais aqui no Brasil a exemplo da rápida taxa na queda de natalidade e o aumento da expectativa de vida. “Tivemos uma janela de oportunidade no começo deste século com a alta no preço das commodities e que o presidente Lula aproveitou muito bem. Na segunda década, os preços das commodities caíram, tivemos a retração da China, as crises econômicas nos Estados Unidos e Europa (2008), além de ‘alguns equívocos internos’. A China é muito importante para o Brasil porque compramos e vendemos muito para eles”.

Na visão de Tania, a queda brusca na taxa Selic de 12,5% para 7,25% entre os anos de 2012 e 2013, ainda no primeiro mandato de Dilma Rousseff, provocou reações nos setores rentistas da economia brasileira e trouxe consequências para o âmbito político. “Na minha opinião, o calvário de Dilma começou ali”, disse Tania se referindo ao Impeachment.

Tania falou ainda sobre as renúncias fiscais, a trava nos preços administrados pelo governo petista (tarifa de energia e combustíveis) seguido de liberação em 2015 provocando grandes altas e consequentemente gerando inflação como parte dos elementos que contribuíram com o estabelecimento do cenário atual. “A crise econômica profunda convive com a crise política. A Operação Lava Jato traz tensão ao ambiente político, levando instabilidade ao governo”.

Sobre as reformas em andamento propostas e encaminhadas pelo governo Temer, Tania se mostrou cética quanto à eficácia da PEC Nº55, que congela gastos públicos com a saúde e educação nos próximos vinte anos. ” O foco está apenas num pedaço da conta . A Reforma  Tributária, por exemplo, não discute a renúncia fiscal, nem sonegação. A Reforma da Previdência é um fomento aos planos privados”.

Sobre o contexto da pós-graduação, Tania analisa o sistema de avaliação da Capes, instituído na década de 1970, como sendo bom. Além da intensificação das ações de fomento do CNPq. Para a professora, o Brasil precisa ficar atento às mega-tendências mundiais, entre elas  a ampla distribuição das atividades de Ciência, Tecnologia da Informação; o acirramento da concorrência global por talentos e recursos, assim como a produção e a difusão de novos conhecimentos. “O modelo de financiamento público precisa ser repensado e os desafios são muitos. O ambiente não está favorecendo ao debate e a radicalização de posições  dificulta o diálogo”.

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