Reitor lamenta morte do jesuíta Manolo Iglesias
|Texto do Reitor da Católica, Padre Pedro Rubens, em homenagem ao jesuíta Manuel Eduardo Iglesias, que faleceu nesta terça-feira (15/09), aos 87 anos, em São Paulo. Ele dedicou 61 anos da sua vida à Companhia de Jesus.
Lembrarei com saudades agradecidas do amigo e companheiro Manolo Iglesias: ele deixa muitos amig@s e filh@s espirituais, entre os quais eu me inscrevo.
Tive a alegria de conhecer Iglesias, como muitos de minha geração, em 1985, no “Escolasticado” da SJ, primeiro projeto de unificação das Províncias do Brasil, em Belo Horizonte. Nessa casa e instituto de formação, Iglesias chegou como espiritual e responsável geral do discernimento e reflexão pastoral, o que já parecia bastante, mas ele logo abriu novos horizontes, notadamente atento ao ministério dos Exercícios Espirituais. Fomos companheiros na pequena comunidade Padre Arrupe, no bairro Campo Alegre, onde ele disse ter aprendido a cozinhar comigo (na verdade, fazíamos juntos o jantar, uma vez por semana). Era um homem de escuta profunda, palavras simples e gestos simpáticos. Perdoem-me recordar um bastante pessoal que mostra a grandeza de um companheiro: quando foi ao Ceará pela primeira vez, ele fez questão de visitar minha família, em Vazantes, em seu dia de folga; além das estradas difíceis do interior, estava chovendo e o rio estava cheio, mas ele não recuou e atravessou o rio montado em um burrico… Ao retornar, disse-me: “Foi uma decepção encontrar seus pais, porque descobri que você não tem nada de original, herdou tudo deles”. Nunca escutei Iglesias falar mal de ninguém: praticava, de maneira impecável, o princípio inaciano de “salvar a proposição do próximo”!
Nos anos 1990, dois projetos nos tornaram cúmplices e parceiros: primeiro, o curso de Teologia Pastoral do ISI (hoje FAJE) e, segundo, montamos o livro “Canta Povo de Deus” (Loyola): na apresentação onde está escrito “equipe” esconde-se o nome e o jeito articulador dele.
Quem não o conheceu pessoalmente leia um de seus livros ou converse com alguém que ele encontrou e terá acesso a muitos “causos” singelos, sempre com humor e mística, expressão de uma espiritualidade rezada, vivida, ruminada, autêntica… Antes de escrever, ele gostava de narrar e pedir sugestões, nas rodas de conversas, nas homilias da eucaristia doméstica, nas caminhadas ou durante a própria orientação espiritual. Assim, nos livros dele reencontramos muita gente.
Adorava a cidade e o povo de Brasília, certamente porque, como dizia, tinha gente do Brasil todo. Em todo caso, aí Iglesias viveu e trabalhou em dois períodos da vida, fazendo um trabalho miúdo e profundo, a partir do CCB: lá nos encontramos muitas vezes e partilhamos angústias e esperanças, sobretudo em relação à SJ. Partiu sem visualizar um projeto apostólico arrojado na capital do país, mas nunca deixou de sonhar e reinventar a missão nessa cidade emblemática. Nesses últimos anos, viveu na paz do Mosteiro de Itaici: lembro-me, em um de nossos encontros, do seu entusiasmo com um “blog” e as possibilidades de encontros com tanta gente: parecia uma criança vivida…
Uma pessoa sensível, um jesuíta bom, um missionário inculturado, um espiritual profundo, um ser humano inteiro e simples… um homem de Igreja, um homem de Deus! Confesso que convivi com um santo do cotidiano…
Que Iglesias, agora mais juntinho do Senhor, interceda por nós!