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Professor Fanuel Paes Barreto faz palestra sobre Saussure na XV Semana de Estudos Linguísticos e Literários da Unicap

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O segundo dia da XV Semana de Estudos Linguísticos e Literários da Universidade Católica de Pernambuco teve início com a palestra “Insurgências e ressurgências no pensamento de Ferdinand Saussure”, ministrada pelo professor Fanuel Paes Barreto, da Unicap.

Ao longo de sua apresentação, o professor fez uma reflexão sobre o pensamento linguístico de Ferdinand de Saussure no que traz de efetivamente novo e no quanto tem de produtiva revitalização em matéria de conceitos e proposições teóricas. “A proposta parece válida em ocasião rememorativa como esta – o centenário da morte daquele que para muitos seria o ‘pai da linguística moderna'”, frisou o professor Faruel, ressaltando que o pensamento de Saussure exemplifica, de modo especificamente claro, a importância que têm tanto o esforço renovador quanto o inovador no desenvolvimento de uma disciplina como a linguística.

Nesse sentido, o palestrante tomou como foco de sua reflexão três tópicos centrais e inter-relacionados: os conceitos de signo linguístico e valor e a dicotomia língua/fala. “O conjunto de conceitos e proposições que normalmente associamos ao nome de Ferdinand de Saussure é produto de um deliberado esforço intelectual de reformar radicalmente a ciência linguística de seu tempo, na tentativa de estabelecer os princípios e relações que classificariam e elucidariam a profusão e diversidade dos dados empíricos. Como disse Émile Benveniste, ‘Saussure é, desde o início e sempre, o homem dos fundamentos'”, enfatizou.

Para o professor Fanuel, nenhuma outra noção parece estar mais ligada à figura de Saussure do que a de signo linguístico. “A importância que o termo adquiriu na semiologia, teoria literária e antropologia contribuiu para empanar o fato de que uma concepção de palavra envolvendo propriedades semelhantes às que Saussure atribuiu ao signo linguístico já era parte da tradição linguística e filosófica ocidental”, destacou, acrescentando que “ainda nos primórdios dessa tradição, entre os gregos, o entendimento de que uma palavra envolvia algo que significava (semainon) e algo que era significado (semainomenon) antecipa em 2 mil anos os conceitos de signifiant (significante) e signifié (significado), que, aliás, somente serão assim designados por Saussure em seu terceiro e último curso, proferido no ano letivo de 1910-11”.

Segundo o palestrante, se, por um lado, podemos ver a teoria do signo linguístico proposta por Saussure como uam ressurgência, no contexto da linguística europeia, de concepções elaboradas, sobretudo, por filósofos britânicos, cabe-nos, por outro lado, destacar os novos e importantes aspectos – as insurgências – que tal proposta trouxe consigo. De acordo com o professor Fanuel, é preciso salientar que, em Saussure, o signo linguístico, se deve sua origem a uma convenção arbitrária estabelecida pelos usuários de uma língua, tem sua existência localizada na mente desses usuários. Para Saussure, a realidade psicológica do signo linguístico é o que faz dele uma realidade concreta.

_DSC0033O professor Fanuel enfatizou que “a dicotomia artificial e abstrata que a análise linguística estabelece entre significado e significante incide sobre um objeto, portanto, real e concreto, embora não físico, porque mental. Significante (ou imagem acústica) e significado (ou ideia) não existem em si, ou de forma independente. O significante não é a sequência de sons, mas sua representação mental; o significado não é o objeto físico referido, mas seu conceito. Essas duas faces do signo linguístico, como as faces de uma folha de papel, não existem independentemente; o signo, enquanto, objeto real, é indivisível: o que vem à mente do usuário não é o significante ou o significado, mas a unidade significante/significado.

Outro aspecto, novo e original, da concepção saussuriana de signo linguístico, na visão do professor Fanuel, está na insistência com que o linguista o caracteriza como um elemento de um sistema, que é a língua. “Na verdade, um signo linguístico ganha sua identidade na medida em que se insere em uma rede de relações opositivas com os outros signos pertencentes ao sistema linguístico. Para Saussure, ‘todo mecanismo da linguagem repousa sobre oposições desse tipo e sobre as diferenças fônicas e conceituais que elas implicam’. A importância que essa compreensão tem para o linguista vem formulada na afirmação enfática de que ‘na língua não há nada além de diferenças'”.

De acordo com o palestrante, a essa concepção do signo linguístico como elemento de uma sistema associa-se a importante noção saussuriana de valor. “O conjunto das relações opositivas que um determinado signo apresenta para com os demais elementos da língua constitui o valor desse signo, e esse valor determina a identidade do signo”, explica, acrescentando que em sua elaboração do conceito de signo linguístico, Saussure adiciona ainda outros ingredientes como os conceitos de linearidade, mutabilidade e imutabilidade.

No que diz respeito à dicotomia língua/fala, o professor Fanuel ressaltou que, para Saussure, a distinção entre língua e fala se dá no bojo de um conceito mais geral, o de linguagem. Segundo Saussure, a linguagem é um fenômeno multiforme, que envolve os domínios físico, fisiológico e psicológico, e como tal, “não admite ser classificado em termos de uma categoria específica dos fatos humanos”. Nesse âmbito tão multifacetado, contudo, é possível identificar, segundo o palestrante, um princípio ordenador dos fatos – a língua. “Ninguém antes de Saussure percebera a necessidade de distinguir terminologicamente entre a linguagem como uma capacidade geral humana e a língua como um sistema de concenções adotadas por uma comunidade”, frisa.

O professor Fanuel concluiu sua apresentação enfatizando que as ideias do linguista de Genebra ainda guardam, insuspeita, uma força de insurgência capaz de contribuir significativamente para a reflexão científica e filosófica a respeito dos mistérios da linguagem humana, neste novo século.

 

 

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