Boletim Unicap

Professor da Universidade Paris V discute o tema família em seminário na Católica

Por Rebeca Kramer – especial para o Boletim Unicap

O que é família para você? Assim como as células são as unidades básicas da constituição humana, a estrutura familiar é a essência da sociedade, formada por diferentes conjuntos de indivíduos que compartilham uma ancestralidade em comum. Há, ainda, quem qualifique o termo família como algo muito maior, além de ligações sanguíneas, mas sinônimo de elos afetivos e psicológicos entre quaisquer pessoas unidas pelo destino. Mas o fato é que nem sempre é fácil lidar com ela. Ou, ao contrário, pode servir de alicerce nos momentos de dificuldade. Quem revelou algumas dessas facetas no Seminário Vínculos, Família e Sofrimento foi o professor da Universidade Paris V – Sorbonne, Alberto Eiguer, a convite da sua ex- doutoranda, professora Consuêlo Passos.

A canção intitulada Família, do grupo Titãs, descreve o dia a dia de um lar formado não somente de pai, mãe, filha e nenê, mas também da tia, do vovô, da vovó e da sobrinha que almoçam e jantam juntos todos os dias sem perder a mania. A integração entre os membros de uma família, para o presidente da Associação Internacional de Terapia de Família e Casal, Alberto Eiguer, é fonte de transmissão dos valores, de conhecimentos, de educação, de apoio e de carinho, até que os filhos cresçam e sigam o próprio caminho.

Mas, de fato, nenhuma estrutura familiar, por mais saudável que seja a convivência entre as pessoas, sai ilesa de pequenos conflitos de interesse. Especialmente se o padrão de família desvirtua-se do que os filhos consideram como normal e do que gostariam de representar na sociedade. Eiguer frisou o problema da autoridade dos pais diante dos filhos. Estes, amadurecendo cada vez mais jovens, são mais independentes, enfrentando os pais quando o posicionamento não os agrada. “Em alguns casos, há pais que dão bens materiais aos filhos como forma de suprir a falta de atenção e de tempo”.

Ainda caracterizada por representar o modelo de um sistema patriarcal, o ocidente encara um período de transição. A função do pai decai em detrimento do número de divórcios e outras formas de expressão familiar, como lares com mães solteiras tornando-se chefes de família. Para o professor, a mulher vem deixando de ser marginalizada, está tomando asas, independentemente das vontades do parceiro e, assim, ganhando novas perspectivas. “A função paterna pode ser ocupada pelo avô da criança ou, muito comum, são as próprias mães delegarem autoridade e a responsabilidade de cuidar da casa ao filho mais velho. Este se torna uma figura paterna para os mais novos. É um fenômeno natural”, comentou.

Durante o seminário, professoras do curso da pós-graduação em Psicologia da Unicap interagiram junto ao terapeuta trazendo situações conflituosas em família. Desta forma, procuraram com o público as soluções terapêuticas para as patologias descritas. Um caso bastante polêmico apresentado foi o de um casal cuja mulher era alcoólatra e ex- esposa do avô de seu atual marido. Coabitando os três na mesma casa, juntamente com os dois filhos da mãe do primeiro casamento e com outros dois do segundo, todos os membros dessa árvore familiar, com a exceção do filho mais velho do primeiro casamento (que foi embora de casa cedo), sofriam de algum distúrbio psicológico muito grave, desde bipolaridade e esquizofrenia, até histeria.

Além dos papéis familiares que se confundem, as experiências vividas pelos filhos, já crescidos, não foram das mais referenciais. Uma proximidade exacerbada entre os irmãos do segundo casamento, que se apoiavam um ao outro, davam indícios de incesto. Depois, o ciclo se complica ainda mais, com o filho do segundo casamento mostrando-se ser o mais debilitado da cadeia, tendo perdido em um curto espaço de tempo os tios maternos a quem tanto queria bem. A patologia ainda foi potencializada quando ele namorou uma mulher já viúva, cujos ex- marido e filho deste matrimônio compartilhavam o mesmo nome que o dele. Uma sina. Sua irmã, por sua vez, casou-se, e, por certo tempo, ainda morava com a família e o marido sob o mesmo teto. O interesse financeiro na aposentadoria do primeiro marido também permeia a trama.

Uma série de conflitos singulares, quase impossíveis de se encontrar. Este foi um exemplo extremo de como a desorganização da estrutura familiar acometida pela fuga dos padrões tradicionais de família, somando-se aos desvios de personalidade de seus entes progenitores podem comprometer a saúde mental das gerações seguintes. Numa análise terapêutica, Eiguer explica que o ideal seria o acompanhamento de um profissional, com terapias em grupo e individuais simultaneamente. No exemplo citado, partiu da filha do segundo casamento o interesse em procurar terapia, levando o irmão e o pai com ela. Posteriormente, outros membros seguiram o mesmo caminho. São os vínculos perversos da família procurando se imunizar.

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