Palestra debate a relação entre Teologia e Família
|A relação entre os novos contextos familiares e a teologia atual foi discutida na tarde desta quinta-feira (10) no auditório G1 da Católica. O tema foi abordado pelo Padre Luis Corrêia. O evento, voltado para os estudantes de Teologia, foi promovido pelo Instituto Humanitas Unicap (IHU) como parte do projeto ProVocação.
O Padre começou a explanação relembrando as tradições e valores judaico-cristão de família, desde os fundamentos do crescei e multiplicai, simbolismo do matrimônio que davam base à sociedade patriarcal da época bíblica. O palestrante mencionou a Lei do Levirato, na qual a mulher era obrigada a gerar filhos para a família do homem. Se ele morresse, ela teria que casar com o cunhado até procriar.
De acordo com o Luis Corrêia, a mulher tratada como objeto se faz presente também no livro de Êxodos quando se diz que não cobiçarás, não desejarás a mulher, a escrava e o jumento do próximo. “Mas o tempo provou que a família é uma realidade que muda”, disse o Padre.
Luis também historiou brevemente o matrimônio. O que antes era um acordo entre famílias, passou a só se realizar com o consentimento dos cônjuges. “Atualmente a escolha do cônjuge é um dos Direitos Humanos que constam na Declaração Universal da ONU”.
A visão da Igreja foi outro ponto importante na palestra. Luis mencionou como os papas vêm tratando a questão com mais abertura. “Bento XVI, em entrevista a uma rádio alemã, disse: ‘O Cristianismo não é um conjunto de proibições e sim uma opção positiva’ “.
Ele também mencionou alguns posicionamentos do Papa Francisco. Entre eles a de que o amor salvífico preceda a obrigação moral e religiosa e a de que a Igreja deva ser um hospital de campanha, um local de acolhida. Além de que o confessionário não deve ser uma ‘sala de tortura’ e sim um lugar para se experimentar o amor de Deus. “A consciência é o sacrário onde Deus atua.”, disse o Padre ao reproduzir declaração do Pontífice.
Luis Corrêia também mencionou que o Papa Francisco exaltou a mulher paraguaia como a mais ‘gloriosa’ da América Latina na ocasião da Guerra do Paraguai. Após o conflito, para cada oito mulheres, havia um homem. Para reconstruir a nação, elas tomaram a decisão de ter filhos e precisaram manter relações sexuais fora do casamento. De acordo com Luiz Correia, o Papa classificou essa decisão como ‘circunstância extrema’. Ainda segundo o palestrante, isso reitera a visão de que “a moral não é o reino de tudo ou nada. É preciso buscar o bem possível”.
Essas questões consideradas ‘difíceis’ significam desafios para os teólogos, que devem ter “cheiro de povo e de rua” na visão do Papa Francisco.
A forma como a Igreja está lidando com essas questões está mudando. Padre Luiz comentou o Sínodo dos Bispos de 2013 no qual o Papa enviou a dioceses do mundo inteiro um questionário com 39 perguntas. Esse debate gerou uma assembleia extraordinária em 2014 e uma assembleia ordinária em 2015. “A exortação pós-sinodal deve sair antes do Domingo de Ramos. Isso não muda a doutrina da Igreja, mas a forma de encarar a realidade”.
Realidade composta por pessoas que estão em uniões estáveis, são separadas, mantém convivência ou mães solteiras, ou seja que não estão sob o manto do matrimônio, mas que nem por isso, segundo Luiz Correia, devem ter sua fé desconsiderada.
CNBB – As novas situações familiares também têm provocado mudanças no País. De acordo com o Padre Luis Corrêia, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil tem incentivado que as paróquias a “acolher, orientar e incluir”.