Painel discute o tema central do Intercom: a pesquisa empírica
|Texto: Thiago Neres.
A pergunta-tema da 34ª edição do Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Intercom 2011, que está sendo realizado na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), Quem tem medo da pesquisa empírica?, foi o centro das discussões de um painel que aconteceu na manhã desta segunda-feira (5), no auditório G2 da instituição de ensino. Professores e pesquisadores da comunicação no Brasil e no exterior observaram os principais aspectos da pesquisa empírica e sua relevância, sob a mediação da professora Erotilde Honório, da Universidade de Fortaleza.
O professor José Rebelo, que já trabalhou como jornalista no Le Monde e ensina na Universidade de Lisboa, defendeu sua tese de que o jornalismo em Portugal foi da expansão à crise nas últimas três décadas. A explanação foi fruto de uma pesquisa realizada por ele, que durou cinco anos e também deu origem ao livro Ser jornalista em Portugal, lançado no início do semestre.
O pesquisador acredita que a explosão de faculdades no país contribuiu para uma espécie de empobrecimento da formação dos jornalistas. Além disso, o nível superior nunca foi uma exigência para o exercício da profissão em Portugal. “Como se não bastasse, há uma divergência entre os jornalistas mais velhos, que acusam os redatores jovens de serem teóricos e incapazes de escrever notícias”, afirmou José Rebelo. Para ele, a nova geração tem reproduzido um “discurso profissionalizante”, que limita-se a produzir velhas rotinas em vez de produzir pesquisas empíricas que levem ao amadurecimento e crescimento da comunicação.
A professora da USP Margarida Kunsch, ex-presidente do Intercom, também fez parte do painel e ressaltou a importância dos cursos de pós-graduação e da academia para estimularem as pesquisas empíricas. “Parece que há uma certa preferência pelos estudos de mídia, sem a preocupação de uma pesquisa contundente, com a formulação de alternativas lógicas através da busca e observação dos fatos por meio de uma análise sistemática”, criticou, para, em seguida, exigir que as universidades estimulem mais seus alunos.
Representando a Universidade Eduardo Mondlane, de Moçambique, o professor João Miguel fez um resgate da história da comunicação no país africano. “A história da digitalização da TV é muito recente e começou em 2006. De lá para cá, houve poucos avanços, mas o governo já determinou a adoção do modelo europeu, sem convidar a sociedade e a academia para discutir as implicações da escolha”, comentou. Dessa maneira, a pesquisa empírica seria uma forma de analisar e interpretar o cenário atual da comunicação no Moçambique e entender a lógica por trás dos fenômenos midiáticos.
O painel foi encerrado pela professora Maria Érica de Oliveira, da UFRN, que apresentou uma pesquisa do professor Jorge Pedro Sousa, da Universidade de Lisboa. O estudo se debruçou sobre a utilização da pesquisa empírica pelos portugueses. “A partir de 1974, ela passou a predominar, com metodologias diversas. Assim como no Brasil, as mais frequentes são as análises de discurso e conteúdo”, finalizou.
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