Boletim Unicap

Entrevista com o novo presidente da Abruc sobre os desafios das instituições comunitárias de ensino

A nova diretoria da Associação Brasileira de Universidades Comunitárias (Abruc) foi eleita semana passada em Brasília e tem como presidente o Reitor da Universidade Católica de Pernambuco, Prof. Dr. Padre Pedro Rubens. Ele vai conciliar a função com a presidência da Federação Internacional das Universidades Católicas (Fiuc). A Abruc representa um setor que corresponde a 22% dos alunos do ensino superior do Brasil.

Foto: divulgação Abruc
Foto: divulgação Abruc

A eleição ampliou o número de membros da diretoria de cinco para sete.  O conselho de administração é formado pelo 1º vice-presidente Mário Cesar dos Santos (Univali); pelo 2º vice-presidente Ney José Lazzari (Univates); pela 1ª tesoureira Angela de Mendonça Engelbrecht (PUC-Campinas); pelo 2º tesoureiro João Otávio Bastos Junqueira (Unifeob); pelo 1º secretário Carlos Hassel Mendes da Silva (Unievangélica); e pelo 2º secretário Ramon Fernando da Cunha (Feevale).Integrante mais antigo da diretoria com quatro anos de atuação, Padre Pedro foi escolhido por unanimidade. Em entrevista especial ao Boletim Unicap, ele falou sobre os rumos da Abruc.

Qual o significado da sua eleição para a Abruc?

Significa a continuidade de um trabalho. Eu estou há quatro anos na diretoria da Abruc e nos últimos dois anos como segundo vice-presidente e depois vice-presidente. Então, a presidência foi uma decorrência desse itinerário dentro da diretoria. Do ponto de vista da agenda, temos o dever de continuar a pauta que se intensifica, muda e que ganha aspectos novos.

O fato de ser presidente da Fiuc contribuiu, de alguma forma, para o resultado?

Podemos considerar que sim. A agenda nacional das universidades comunitárias, de alguma forma, precisa ver e se enxergar no contexto de outras universidades do mundo, no contexto de outras democracias nas quais o ensino superior tem papéis diferentes.

E como o senhor pretende conciliar a presidência da Fiuc com a presidência da Abruc?

Em termos de tempo não haverá mudanças. A diretoria da Abruc trabalha muito em conjunto, independentemente da hierarquia, de quem é presidente ou vice-presidente. Essa agenda não muda no sentido daquilo que vai exigir de tempo. A rigor, não haverá uma intensificação da agenda.  Hoje se faz muita coisa on-line e por delegação, o que não demanda, necessariamente, uma presença física. No entanto, do ponto de vista da responsabilidade haverá uma exigência maior sim. Quando se está na presidência há mais implicações, mas um bom trabalho de equipe facilita essa questão.

Qual o futuro da Abruc?

Hoje ela representa não só uma associação, mas sim um conjunto de associações. No primeiro discurso eu já postulei uma possível mudança de natureza para transformá-la em uma confederação de associações com agenda comum que é a das comunitárias brasileiras.

Quais serão as prioridades da sua gestão à frente da Abruc?

A prioridade é continuar acompanhando essa política de educação nacional que visa o Plano Nacional de Educação (PNE) e cada item da agenda das comunitárias do Brasil. Segundo, cada um dos sete membros da diretoria poderia se especializar em um assunto, em uma pasta. Aprendi na Abruc a fazer uma gestão colegiada. Então, o próximo passo seria dar pastas específicas a este colegiado, como se fossem ministérios. Como exemplo de pastas, eu citaria os programas de financiamento de pesquisa; assuntos jurídicos; aspectos políticos da entidade; Pibic e Pibid; programa das engenharias; a questão do Cebas (Certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social), entre outras. A partir dessa organização, vamos coordenar melhor nossas ações. Vamos dar mais atenção à extensão. Todas as comunitárias têm uma extensão muito forte, mas precisamos intensificar a visibilidade dessas extensões com fóruns que permitam uma maior valorização da extensão na educação brasileira.

Foto: Paulo Maia
Foto: Paulo Maia

O senhor foi eleito no momento que em que a Unicap celebra os 70 anos da origem de seu projeto universitário, que começou com a fundação da Faculdade de Ciências, Filosofia e Letras Manuel da Nóbrega. Que ganhos a Unicap teria com sua eleição à frente da Abruc?

A maturidade institucional permite que não fiquemos presos somente às políticas internas. Então, o primeiro ganho é a abertura da Universidade, é a possibilidade dela se colocar a serviço e conectada a outras redes. Não é o fato de eu ser presidente que vai conectar toda a Universidade, mas o fato de eu estar na presidência abre uma sensibilidade maior, uma afinidade maior com a agenda da Abruc.  Eu acho que a Universidade vai ficar muito mais identificada com essa rede, com essa questão política e da visibilidade das comunitárias. Eu espero que a Universidade também entre nessa agenda e que ela se compreenda cada vez mais e faça os outros compreender o que é que significa uma instituição comunitária, qual o diferencial dela.

Na sua opinião, quais são os desafios mais urgentes das universidades comunitárias?

O desafio permanente é conjugar a sustentabilidade financeira e qualidade acadêmica. Como conjugar saúde administrativa-financeira e inclusão social. As instituições comunitárias são representações da sociedade e elas incorporam em sua agenda os paradoxos, as contradições da sociedade brasileira. Quais são os desafios da sociedade brasileira hoje? Articular qualidade e sustentabilidade. Como vamos passar de uma agenda de contradições e conflitos para uma agenda de construção, de articulação dessas dimensões que estão aparecendo na pauta.

Outra urgência seria sair da polarização público-privado.  Fazer entender as comunitárias como um terceiro segmento que tem direito de existir e que é representativo historicamente e efetivamente na educação nacional e da ação social. Há toda uma história a ser honrada. Há a constitucionalidade da questão, mas não tem uma expressão, uma visibilidade. O grande desafio é de que maneira nós vamos tomar essa consciência, expressar isso que nós somos e comunicar de forma não só conceitual ou jurídica, mas também de forma efetiva. Fazer com que cada estudante, funcionário ou professor que faz parte de uma instituição comunitária perceba esse diferencial na sua vida.

Outro desafio é político. De que maneira as instituições comunitárias vão participar do debate nacional da construção de um projeto de políticas de estado que vão consolidar o sistema educacional brasileiro para além do lobby. As instituições comunitárias são organizações da sociedade civil e na atual configuração da democracia brasileira nós temos um estado forte, nós temos um setor privado que avança e uma sociedade civil que precisa se reorganizar. O movimento das ruas demonstrou que a pauta da sociedade civil está muito extensa e pode ficar diluída. Então a sociedade civil precisa encontrar formas de organização e de reorganização. As instituições comunitárias têm a responsabilidade de pensar essa questão e também fortalecer essa organização.

print

Compartilhe:

Deixe um comentário