Michel Agier faz conferência de abertura do Colóquio Internacional da ARIC
|O antropólogo francês Michel Agier, diretor do Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD) e diretor da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais em Paris, fez na manhã desta segunda-feira (25), no Convento de São Francisco, em Olinda, a conferência de abertura do Colóquio da Associação Internacional para a Pesquisa Intercultural (ARIC), que tem como tema “Mobilidades, redes e interculturalidade: novos desafios para a pesquisa científica e a prática profissional”. O encontro científico tem apoio da Universidade Católica de Pernambuco e contou com a presença do Reitor, Padre Pedro Rubens.
Na conferência “Éloge de Babel: um mundo de fronteiras”, Agier fez importantes reflexões sobre a questão dos refugiados, abordando os lugares-fronteiras, a situação dos homens e mulheres-fronteiras e a importância das situações de fronteiras para entender o mundo contemporâneo. De acordo com ele, atualmente há entre 15 e 17 milhões de pessoas que vivem em acampamentos no mundo e, mesmo estabelecidas, esses espaços são sempre considerados provisórios. “Os campos de refugiados se tornam lugar de formação inacabada e do ponto de vista da antropologia contemporânea essa nova situação está dentro da fronteira”, frisou.
Segundo o antropólogo, um dos mais renomados estudiosos sobre o tema, “a mundialização contemporânea não suprime as fronteiras: as transforma, desloca, dissocia umas das outras. As fronteiras se multiplicam e se alargam, e ao mesmo tempo se tornam mais frágeis e mais incertas do que nunca”. De acordo com ele, esse momento histórico nos traz duas questões fundamentais quanto à possibilidade de viver juntos a várias escalas. Por um lado, mais fronteiras se transformam em muros, mais migrantes morrem em mares, desertos e montanhas ao passar fronteiras mais e mais fechadas. Por outro lado, a questão filosófica e política do cosmopolitismo volta à ordem do dia.
Para Agier, a partir da etnografia de “homens-fronteiras” e “lugares-fronteiras” (Borderlands), pode-se tentar pensar a nova cosmopolis, um mundo social em movimento, que antecipa a forma banal e quotidiana do cosmopolitismo antropológico, aonde se elabora a cultura, a sociabilidade e talvez a política do mundo enquanto mundo.
Ele chamou atenção na sua conferência para o processo de desidentificação por que passam os homens e mulheres-fronteiras, que vão aos poucos perdendo suas características culturais ou, em alguns casos, vivendo uma cultura híbrida. Também destacou as situações de violência às quais são submetidos e mencionou o processo de favelização de algumas áreas de fronteira.
As pesquisas de Michel Agier tratam das relações entre a mundialização humana, as condições e os lugares de exílio, e a formação de novos contextos urbanos. Depois de muitos anos de pesquisas na América Latina (Brasil e Colômbia), ele leva e coordena, desde 2000, pesquisas de campo na África, Oriente Médio e na Europa, sobre migrantes e refugiados.
Agier tem dois livros traduzidos para o português: Encontros etnográficos e Antropologia da cidade: lugares, situações, movimentos
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