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Jornalistas e estudantes discutem na Católica a TV Digital

O curso de Jornalismo da Católica realizou na última segunda-feira (30) um seminário sobre a TV Digital no Brasil. À tarde,  alunos e professores que compareceram à sala 510 do bloco A assistiram à mesa “A política da TV Digital no Brasil: atores, interesses e decisão governamental”.

O início da discussão sobre TV Digital no país foi apresentado pelo jornalista e professor do curso de Jornalismo da Católica Juliano Domingues, que se baseou em sua dissertação de mestrado, desenvolvida entre os anos de 2008 e 2010. O jornalista e blogueiro Ivan Moraes Filho, do Fórum Pernambucano de Comunicação, também participou do debate.

Segundo Juliano, o debate em torno da televisão digital começou ainda durante o governo Collor, quando se tinha a ideia de que essa nova mídia poderia resolver os problemas financeiros dos produtores de conteúdo. Entre os principais sistemas em análise estavam o japonês, que prezava pela qualidade de som e imagem; o europeu, cujo principal mote era a possibilidade de programações múltiplas; e o americano, que à época apresentou limitações que o deixaram em posição secundária.

Tais modelos atendiam melhor às demandas dos locais onde surgiram. O sistema europeu, com possibilidade de variadas programações simultâneas, era ideal para um continente formado por diversas etnias.

Nesse debate, os radiodifusores tinham seus interesses representados pela Abert (Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e TV) e SET (Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão). Esse grupo optou pelo sistema japonês. O Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação e o Coletivo Intervozes foram alguns dos representantes dos movimentos sociais. Eles preferiram o padrão europeu, cuja variedade de conteúdo permitiria mais canais, com maior representação popular, o que terminaria por democratizar a informação no país.

O primeiro ministro das Comunicações do governo Lula, Miro Teixeira, tomou algumas medidas que pareceram atender aos interesses dos movimentos sociais, como trazer para o ministério a competência sobre a TV Digital brasileira. Outra ação foi a formação de um comitê com 23 membros da sociedade civil.

Juliano Domingues apontou em sua tese, porém, que a posterior nomeação de Hélio Costa para o Ministério das Comunicações leva a uma mudança de rumo. O decreto 5820/2006 acaba por favorecer os interesses do sistema Abert/SET.  A norma chega a ser contestada no Supremo Tribunal Federal sob alegação de inconstitucionalidade.

Apesar de a primeira transmissão da TV Digital no Brasil ter acontecido em dezembro de 2007, o sistema ainda não está ao alcance de toda a população. Ivan Moraes chegou a perguntar quem teria uma aparelho receptor do sinal digital, verificando poucas mão levantadas em resposta. Ele acredita que dificilmente o país inteiro estará ligado nessa tecnologia, primeiramente por causa do alto custo.

O sistema de TV Digital no Brasil é baseado no modelo japonês, com boa qualidade de som e imagem. A chamada multiprogramação ainda não foi liberada para as emissoras brasileiras, embora já transmitam no sinal digital. Durante a Copa do Mundo, uma característica bastante comentada em relação a esse tipo de transmissão foi o intervalo verificado em relação às TVs analógicas, que atrasava , por exemplo, as exibições dos lances. Esses são alguns dos fatores que dificultam a difusão do sistema digital no país. “Eu fico sabendo do mesmo que vocês e ainda vejo o gol primeiro”, brincou Ivan sobre a ausência de multiprogramação e o já citado atraso nas transmissões, que são uma “desvantagem” da televisão digital.

A transição definitva do formato analógico para o digital ainda levará muitos anos. Os Estados Unidos, por exemplo, estão com o padrão digital há vinte anos, mas ainda não “desligaram” o sistema antigo.

Ivan Moraes defende que a TV Digital seja visto como uma nova mídia, e não um progresso da televisão. Ele aponta uma polarização entre os radiodifusores e as empresas de telecomunicações, que buscam aumentar seu poder dentro da produção de conteúdo audiovisual. Com o avanço da informática e da eletrônica, os celulares tenderão cada vez mais a ser centrais multimídia, com filmes, séries e arquivos sendo acessados pelos smartphones.

O blogueiro acredita que a cena de uma família assistir à TV reunida deve se tornar mais rara. O mais provável é que cada um veja seus próprios programas, no horário que quiser e utilizando o meio que lhe for mais conveniente, seja televisão, celular ou computador. Ele próprio  apresenta o programa Pé na rua, na TV Universitária que, em breve, será disponibilizado num formato próprio para internet. O público poderá assistir ao programa onde e quando desejar e ainda poderá editar os vídeos, inserindo novos conteúdos, numa nova forma de relação entre produtores e consumidores de conteúdo.

A mensagem final deixada por Juliano Domingues e Ivan Moraes é a de que se torna necessário um controle sobre as concessões de rádio e TV no Brasil. “Concessão sem controle não é concessão, é doação”, concluiu Ivan.

O programa  Pé na rua está na internet. O endereço é http://www.penarua.tv.br/

 

 

 

 

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