Jornalista da Rede Globo divide experiências profissionais com estudantes de comunicação
|Por André Amorim/ Foto: Gabi Vittória
Estudantes de jornalismo, pesquisadores e professores estiveram presentes, na tarde desta segunda-feira (5), no auditório G2 da Universidade Católica de Pernambuco, para acompanhar a palestra da jornalista da Rede Globo Zileide Silva. Na ocasião, a repórter dividiu com o público experiências de trabalho como, por exemplo, a cobertura do atentado às torres gêmeas do World Trade Center, há dez anos, em Nova Iorque. O encontro fez parte da programação do XXXIV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Intercom 2011 e foi mediado pela professora da Universidade Federal de Caxias do Sul, Marliva Gonçalves.
A mediadora da mesa, a professora Marliva Gonçalves, iniciou os trabalhos agradecendo a oportunidade de fazer parte de uma mesa com a presença da jornalista Zileide Silva e, também, convidou os alunos a desfrutar das experiências de trabalho da repórter. “A gente tem que beber das palavras e experiência dessa jornalista que já atuou em várias emissoras de televisão, rádio e jornais e que participou, como correspondente internacional, da cobertura dos trágicos eventos do dia 11 de setembro”, disse.
Antes de iniciar a palestra, Zileide Silva arrancou gargalhadas do público ao brincar com o fato de ter sido convidada para o evento no Intercom no mesmo dia e horário em que a Seleção Brasileira estava entrando em campo contra Gana. “Eu não sei quem vai ficar até o final porque só agora eu me dei conta que hoje tem jogo do Brasil. Ainda bem que a seleção está péssima”, disse em tom de brincadeira.
A apresentadora dividiu a palestra em três momentos. No início, ela falou sobre a experiência como repórter da Rede Globo na sucursal da empresa em Brasília e, logo em seguida, ela falou sobre a experiência de cobrir um evento como o atentado às torres gêmeas do World Trade Center, em Nova Iorque. Para terminar, a repórter abriu espaço para que os estudantes dos cursos de comunicação presentes realizassem perguntas.
Para Zileide, a cobertura do noticiário econômico sofre um preconceito e, também, rejeição por parte dos telespectadores. Para driblar esses problemas, nas palavras da própria jornalista, é preciso procurar detalhes ou situações inusitadas dentro de cada matéria. Para exemplificar, foram exibidas duas reportagens realizadas pela jornalista em que esses detalhes desempenharam um papel importante.
A primeira matéria foi exibida no dia 27 de dezembro de 2002 e mostra a primeira entrevista coletiva do então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. “O presidente estava extremamente ansioso e desde aquela época nunca cumpriu horários. Estávamos num auditório maior que esse aqui e, de repente, uma mão apareceu por entre as cortinas. A mão tinha quatro dedos, então era o presidente Lula. Um detalhe que poderia passar, mas que eu acho muito legal”, disse.
Sobre a posse da presidente Dilma Rousseff, a jornalista produziu uma matéria ainda mais focada em detalhes. De acordo com Zileide, todos os veículos já haviam dado as principais informações sobre esse evento. “Tudo isso já havia sido feito, então tinha que pensar em algo diferente”, disse. Da pulseira com o olho grego à presença da ex-ministra chefe da Casa Civil Erenice Guerra, tudo foi analisado na matéria.
Já falando sobre o trabalho como correspondente internacional em Nova Iorque, Zileide confessou o receio que teve inicialmente diante das incertezas que a mudança para um outro país trariam. “Eu fui com muito medo porque muda tudo. Muda o país, muda a cultura. Por mais que você se informe sobre política internacional, eu não tinha o mesmo domínio que eu teria falando da política nacional”, disse.
No primeiro ano nos Estados Unidos, a jornalista teve a chance de cobrir o conturbado processo eleitoral que elegeu o ex-presidente George W. Bush. Viver a tragédia do dia 11 de setembro foi um acaso do destino. De férias no Brasil e com volta a Nova Iorque prevista para o dia 12 de setembro, Zileide resolveu voltar para o palco da tragédia antes do previsto e informou a decisão aos amigos na cidade.
No dia da tragédia, a jornalista conta que foi acordada pela coordenadora do escritório da Globo em Nova Iorque contando que um avião havia atingido uma das torres do World Trade Center. Ela descreve a cobertura dos eventos como extensa e cansativa e falou, ainda, sobre a preocupação em administrar a emoção. “Não tinha como ser fria com aquela situação”, disse. Foram produzidas seis entradas ao vivo e uma reportagem, apenas para o Jornal Nacional. “De todas as coberturas que já fiz, sem dúvida essa foi a mais importante”, completou.
Polêmicas
Durante a palestra, a jornalista Zileide Silva tocou em temas polêmicos como, por exemplo, a necessidade de diploma para jornalistas e a criação de um Conselho Federal de Jornalismo, e apontou falhas na formação desses profissionais. Para a jornalista, os cursos de jornalismo não preparam completamente os estudantes.
“Quando eu saí da Faculdade Cásper Líbero, percebi que tinha um mundo de deficiências”, disse. “Eu sou contra a faculdade de jornalismo. Acho desnecessária. Acho que para ser um bom jornalista você pode fazer outro curso. O melhor jornalista na área médica é o Doutor Drauzio Varella”, complementou.
Sobre o Conselho Federal de Jornalismo, a jornalista questionou a ideia do Partido dos Trabalhadores (PT), recentemente discutida na sua convenção nacional. “Cada veículo tem seus próprios princípios editoriais. Porque o governo quer isso? Quer voltar a censura? A presidente Dilma já disse várias vezes que é contra isso e eu espero que ela mantenha isso”, disse.
O início na profissão
Zileide Silva é formada em jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero, em São Paulo, e, também, em história pela Universidade de São Paulo (USP). Quando decidiu que iria ser jornalista, nunca pensou em trabalhar com televisão. “Quando eu pensei em jornalismo, eu pensei primeiro em impresso. Até porque diziam que minha voz não era de mulher, por ser grave”, disse.
Ao entrar na universidade, ela descobriu que, ao contrário do que diziam, a voz poderia ser um diferencial. Os primeiros trabalhos de Zileide foram em emissoras de rádio na cidade de São Paulo. A primeira experiência na televisão veio mais tarde, na TV Cultura. Antes de chegar na Rede Globo, a jornalista, ainda, passou pelo SBT.
Dica para os iniciantes
Para os estudantes de jornalismo presentes no evento, a jornalista deixou algumas dicas valiosas. Para Zileide Silva, a produção de um bom texto está diretamente ligada à leitura. Para ela, ouvir com atenção o que os entrevistados têm a dizer também é extremamente importante.