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Intercom recebe Rosental Calmon Alves, o pioneiro do webjornalismo brasileiro

Texto: Daniel França/Fotos: Jackie Feitosa

Manhã de domingo (4) de auditório lotado no XXXIV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Intercom 2011 para acompanhar a palestra daquele que foi o criador do primeiro serviço de jornalismo online no Brasil. A trajetória de Rosental Calmon Alves trafega entre a academia e o batente. Não foi à toa que ele abordou como tema a importância da pesquisa empírica no novo ecossistema midiático.

Antes de mergulhar na temática, ele fez uma breve explanação de sua experiência acadêmico-profissional. Rosental começou  a dar aula em 1973 na primeira turma do Instituto de Artes e Comunicação da Universidade Federal Fluminense. Pouco tempo depois, passou a fazer parte do Jornal do Brasil, no qual atuou como correspondente internacional e alcançou cargos executivos de redação.

Foi nesta fase que, em 1991, ele implantou o chamado primeiro Serviço Instantâneo de Notícias (SIN). As informações eram disponibilizadas para 1.300 terminais da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro. Cinco anos mais tarde, surgia a edição digital do Jornal do Brasil. “Não era simplesmente a cópia do jornal com notícias de ontem. Eram informações atualizadas”, relembra ao mencionar orgulhoso que nesse momento nem mesmo o jornalão New York Times, o maior do mundo, possuia versão de Internet.

A temática – Talvez nesta época Rosental já pressentisse o que ele classifica hoje como uma das maiores revoluções já vivenciadas pela humanidade: a Era Digital. E argumentos não faltam para que acreditemos nele. Foram inúmeros cases de como os meios digitais interferiram nos veículos convencionais. A versão eletrônica da revista semanal americana Newsweek se tornou um mero canal de um blog com um ano e meio de existência. “Já imaginaram isso com a Isto É e Veja?!”, indagou.

Para Rosental, estamos vivendo um momento de ruptura de modelo de negócio e de narrativas. “A notícia deixou de ser um produto, virou um processo. Jornalismo do futuro é jornalismo de camadas com a pergunta: ‘Você quer saber mais sobre isso?’, clique aqui”, explicou.

Ele também comentou a resistência das empresas e da academia em considerar as dimensões da revolução digital. “A web deu a falsa sensação de que seria mais uma revolução. Mas o fato é que o rádio e a televisão não tiveram a capacidade de romper paradigmas. Esses veículos aproveitaram estruturas já existentes. Hoje, os jornais são um híbrido. Nenhum deles pode desprezar os outros canais”, sentenciou.

Rosental também relembrou a primeira reunião de departamento em que propôs a criação de um curso de jornalismo online na Universidade do Texas-Austin, onde leciona desde 1996. Colegas afirmavam que a Internet seria mais um modismo passageiro, mas os números indicavam que Rosental já enxergava que a web surgiu para mudar o mundo. Naquela época, já eram 56 milhões de americanos ligados à grande rede mundial de computadores. Um feito que o rádio levou 38 anos para alcançar e a TV, 13 anos.

A transformação nos comportamentos da audiência e dos modelos de produção foram listados por Rosental numa tabela com vários aspectos do que ele classifica como ecossistema analógico e ecossistema digital. Veja logo abaixo:

ECOSSISTEMA ANALÓGICO ECOSSISTEMA DIGITAL
Escassez de informação Abundância de informação
Escassez de canais Abundância de canais
Barreiras de entrada (altos investimentos) Baixas barreiras de entrada
Alto custo de produção Baixo custo de produção
Tendência monopolista Concorrência
Comunicação vertical/unidirecional Comunicação horizontal/multidirecional
Limitação de tempo/espaço Sem limites de tempo/espaço
Pacotes fechados/estáticos Fluxo de informações aberto/dinâmico
Audiência de massa Audiência diversa/nichos
Audiência passiva Audiência ativa
Sem feedback/monólogo Feedback/conversação
Produtor x consumidor Produtor – consumidor

A revolução digital já vem provocando grandes mudanças no mercado de trabalho jornalístico americano. O faturamento dos jornais com publicidade despencou incríveis 45%, retornando a níveis de 1983. Resultado: em quatro anos e meio foram extintas 36.031 vagas de jornalistas. Os dados apresentados por Rosental tiveram como fonte o blog www.newspaperlaysoff.com.

Mas apesar de números pouco animadores, Rosental se mostra otimista. “Toda revolução gera caos e incertezas. Mas a nova geração está reiventando tudo. É o início glorioso, um começo fantástico. Nós, mais velhos, estamos tentando acompanhar vocês. ‘É o mar virando sertão e o sertão virando mar’ “, brincou ao defender a importância da pesquisa empírica: “Ela é mais oportuna do que nunca”.

A palestra  O novo ecossistema midiático torna a pesquisa empírica mais importante do que nunca foi realizada das 9h às 11h, deste domingo (4), no auditório G2.

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