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Inserção no mercado de trabalho globalizado é tema de palestra na Católica

Por Alan Vinícius

Fotos: Alan Vinícius

Hibridismo. Essa é a palavra que resume a palestra que aconteceu na noite desta quinta-feira (23), no auditório do Centro de Teologia e Ciências Humanas (CTCH) da Católica. O professor Hugo Gaggiotti, da University of the West of England (Reino Unido), conversou durante uma hora e meia com estudantes de História, Direito e Jornalismo sobre globalização, mercado de trabalho e mobilidade.

A principal questão do debate era como ser competitivo no Nordeste do Brasil. O professor Thales Castro, assessor de Relações Internacionais da Católica, e o engenheiro aeronáutico Alzé Fulco também participaram, complementando ideias e auxiliando na compreensão de alguns pontos, uma vez que o encontro se deu predominantemente na língua inglesa.

Para o professor Gaggiotti, a globalização é um fenômeno complexo, e o meio acadêmico tenta explicá-lo de forma simples, o que dá margem à criação de estereótipos. Exemplos apresentados foram a associação do Brasil a futebol ou da Itália a massas. As empresas também usam modelos pré-concebidos na hora de tomar as decisões, e a consequência é que há um eixo de ideias, surgido depois do período colonial, onde é sempre o centro quem manda na periferia.

As matrizes enviam executivos para as filiais e a capital para o interior, mas ninguém explica ao certo o porquê disso.  O caso de uma construtora e de uma indústria alimentícia ilustrou essa ideia. Em resumo, a empresa envia altos funcionários para as filiais do Nordeste, recebendo os mesmos salários que teriam no Sudeste, sugerindo que não haveria pessoas capacitadas nas sedes mais periféricas.

O que parecia um quadro catastrófico para os trabalhadores nordestinos, no entanto, vem caindo. O professor mostrou dados numéricos que demonstram haver ainda diferenças entre os salários do Sudeste e do Nordeste, porém cada vez menor.  “O sistema está mudando. A periferia está crescendo rápido, a Europa está em crise, os Estados Unidos estão em crise, São Paulo está em crise. Tem gente deixando São Paulo  para vir morar no Recife”, ressaltou.

Essa situação oferece  vantagens para quem vive, trabalha ou estuda fora dos grandes centros, mas com algumas condições. O conhecimento de outras línguas, educação global, experiências internacionais e passagens tanto pelo setor público como no privado dão mais oportunidades no mercado de trabalho. Para evitar estereótipos é necessário ser híbrido.

Essa assimilação de múltiplos conhecimentos, não significa, na opinião do professor Gaggiotti, eliminar os valores individuais. Ele diz que as pessoas podem ser pernambucanas, mas diante dos empregadores não há essa distinção. O mercado não vê religião, nacionalidade ou time de futebol, mas procura pessoas híbridas e dinâmicas. Alzé Fulco complementou essa declaração com a própria experiência. Ele está fora do Brasil há 18 anos, mas nunca deixou de se considerar olindense ou torcedor do Santa Cruz. Ele lembrou que quem sai do país nunca volta o mesmo, mas não perde as raízes. Fulco é brasileiro, a esposa é do Cazaquistão e o filho nasceu na Alemanha. “A globalização acontece todos os dias na minha casa”, destacou.

As comparações com estudantes ou trabalhadores de outros centros ditos mais desenvolvidos deixam de ter sentido à medida que a principal preocupação é se qualificar, de modo que brasileiros podem vir a chefiar ingleses numa companhia, desde que tenham a formação e os talentos valorizados pela empresa. Sobre os conceitos de multiculturalidade, Gaggiotti ressalta que  não é suficiente para explicar o mundo atual. As empresas não dividem as pessoas por nacionalidades,  embora nós façamos essa divisão com bandeiras, hinos e exércitos próprios de cada país.

Para ser um profissional de visibilidade é preciso ser híbrido, em línguas, conhecimentos gerais, experiências fora do lugar de origem, mas tudo isso ainda é algo distante para quem  não tem condições financeiras e tem a força de trabalho explorada por grandes companhias a troco de baixos salários. O professor britânico reconhece que, para esses, a globalização é diferente. Nas palavras dele essas pessoas são invisíveis.

O professor Thales Castro  reforçou que encontros como esse abrem fronteiras, criando janelas de cooperação e oportunidades de intercâmbio para os estudantes das instituições envolvidas. Ele repetiu uma expressão do Reitor da Católica, Padre Pedro Rubens: “O internacionalismo é o cartão de visitas da universidade.”

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