I Fórum de Gênero discute a dimensão de Gênero na Educação Formal e Informal
|Em parceria com a Secretaria Especial da Mulher do Recife, a Universidade Católica de Pernambuco realizou na última sexta-feira (07) o I Fórum de Gênero da cidade. O evento marcou o início de quatro grandes encontros que acontecerão nos meses de maio, junho, setembro e novembro. O primeiro encontro teve como objetivo abordar a dimensão de gênero no âmbito da educação formal e informal.
A fim de provocar uma reflexão no público presente, antes da mesa inicial de debates, foi exibido o filme “Vida Maria”, uma animação de Márcio Ramos. O curta-metragem mostra como as histórias de vida das mulheres se repetem, sem oportunidade para mudanças, mulheres que continuam levando suas “vidas marias”.
A saudação inicial foi realizada pelo Pró-Reitor Comunitário, Padre Miguel Martins; a coordenadora do Núcleo de Estudos Especializados em Gênero (Gendhe) da Unicap, Andréa Almeida Campos; a Secretária Especial da Mulher, Rejane Pereira, e a coordenadora do Fórum Temático da Mulher, Irani Brito. “Nós mulheres não devemos nos intimidar. Somos protagonistas da nossa história e o poder de mudanças também está em nós”, iniciou Andréa.
Posteriormente, a mesa de debate foi formada a fim de discutir como se dá a discussão de gênero na educação da sociedade. Participaram da discussão, a coordenadora da Articulação Negra de Pernambuco, Piedade Marques; a secretária Rejane Pereira; a pedagoga Lúcia Bahia e a psicóloga Maria Tereza, ambas integrantes do Grupo de Trabalho e Orientação Sexual (GTOS) da Prefeitura do Recife.
De acordo com Piedade Marques, na maioria das vezes, a questão do gênero é discutida apenas na educação informal, e apenas quando o sujeito vive num meio que favoreça a discussão, como foi o caso dela mesma. “Aos 14 anos iniciei como ativista em favor da luta pelos direitos dos negros e das mulheres, antes mesmo de me descobrir como professora. Eu já estava dentro de um movimento e isso favoreceu o meu envolvimento com essas questões.”
A professora ainda apontou problemas na educação formal dos alunos da rede de educação. “Não existe uma prática dentro das escolas de incluir na grade curricular a discussão de gênero e raça que, no meu conceito, são fundamentais para se discutir questões como cidadania, ética e respeito”. Além disso, Piedade disse que os professores estão incapacitados para orientar corretamente os alunos.
A secretária Rejane relembrou que as matrizes africanas de educação foram as primeiras a existir. “As negras foram as primeiras a educar seus filhos, partindo sempre da oralidade, da conversa. A criação já favorecia a discussão sobre temas diversos”, disse. Rejane também fez questão de ressaltar o quanto é importante incluir o debate sobre sexualidade nas escolas, tema em torno do qual a própria sociedade cria tabus e preconceito. “Nós nascemos em um contexto de desigualdade e a escola é o lugar que menos acolhe as diferenças. Isso porque ela não está preparada para receber. Nem ela nem a sociedade de um modo geral”, afirmou.
Rejane defendeu que a discussão de gênero, raça e sexualidade ainda precisa ser aberta à sociedade, tão resistente a essas temáticas. É o que a Prefeitura do Recife está tentando fazer. “Uma das conquistas mais importantes para nós mulheres foi a criação de uma secretaria específica na prefeitura para a mulher. A política do governo vigente tem favorecido a discussão desses temas. Um dos nossos projetos é de incluir esses assuntos na formação dos indivíduos, desde crianças”, afirmou.
Esse é um dos projetos que já vem sendo realizado pelo Grupo de Trabalho e Orientação Sexual (GTOS) da Prefeitura do Recife, que capacita os professores e a escola a discutirem a questão da sexualidade nas escolas. “O intuito do GTOS é de fortalecer a educação formal, passando experiências informais para a educação formal. Nós orientamos os colégios interessados por nosso serviço em educar os alunos da maneira correta, de acordo com as realidades do alunos e as necessidades das escolas”, afirmou Maria Tereza
Lúcia Bahia explicou que o trabalho desenvolvido no GTOS é difícil, visto que a organização só possui três pessoas no Grupo responsáveis em atender toda a rede de educação da Região Metropolitana do Recife. Mas, aos poucos, eles estão conseguindo desenvolver o trabalho de orientação. “Já percebemos uma mudança significativa nos jovens e professores das escolas trabalhadas com a consolidação da temática no cotidiano escolar. Precisamos desmistificar os tabus da sociedade com relação a temática da sexualidade, que não se trata apenas de sexo, como muito confundem”, afirmou Lúcia.
Depois da palestra, foi aberto um espaço para debate, onde o público tirou dúvidas, compartilhou experiências e demonstrou apoio à discussão de gênero, raça e sexualidade. O I Fórum de Gênero lotou o auditório do primeiro andar do bloco J da Unicap. As próximas reuniões acontecerão nos meses de junho, setembro e novembro, sendo uma a cada mês, com as seguintes temáticas:
25/06: Fortalecendo a Rede de Apoio ao Enfrentamento da Violência Contra a Mulher, no bloco G1
24/09: Cidade Segura e o Plano Municipal de Política para as Mulheres, no bloco G1
26/11: O Desafio de Pensar Políticas Públicas de Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres